NOTÍCIA
As situações trazidas pela pandemia colocaram à prova um novo posicionamento e fomos bem-sucedidos
Publicado em 04/10/2021
Há uma expectativa na área da educação de que o retorno integral às atividades presenciais nos faça “voltar ao normal” e recupere os índices que dispararam durante o período pandêmico, como por exemplo a evasão e inadimplência, apesar de também termos presenciado o aumento em cerca de 50% no número de matrículas na educação a distância[1]. Como interpretar essas informações? Afinal, qual o aprendizado para as IES, após esses longos e turbulentos quase dois anos de restrições?
Leia: Educação a distância é o caminho
Uma certeza é, a pandemia nos forçou a acelerar mudanças já em curso em algumas IES e planejadas em outras, mas certamente nos escancarou a necessidade de um novo posicionamento frente à difícil tarefa de ensinar e aprender. Está claro que retomar práticas e metodologias usadas antes de 2020, oferece o grande risco de não termos a menor relevância nesse panorama incerto e acelerado de mudanças. De agora em diante, a maior questão será estarmos preparados e preparar estudantes para lidar com cenários de crises e ainda em constante mutação.
Perceba a ironia escondida no fato de que as universidades sempre estiveram no limiar entre o mais avançado e sofisticado patamar do conhecimento, acoplado ao que há de mais retrógrado nos modelos de ensino, com ênfase na memorização, cópia, treino e repetição. Durante muito tempo não houve espaço para o novo em um ambiente em que o foco foi reproduzir as teorias, abolir o pensamento crítico e padronizar o conhecimento.
Enfim, o fim da era de reprodução vaga e nada fiel da realidade foi o grande legado que a pandemia nos deixou. A fórmula é amarga, mas necessária: nunca fomos tão desafiados a nos superar. E muitos de nós avançaram.
Modelos de instituições implementando novas metodologias de ensino, trazidas de práticas internacionais, que deslocam o foco da aprendizagem, colocam o estudante no centro do fazer educativo e se transformam em instituições de aprendizagem, não mais de ensino. Para estas, os desafios se tornaram ainda mais significativos, porque todo o ecossistema já estava preparado para lidar com fatos da vida cotidiana e dar respostas a perguntas que ainda nem haviam sido formuladas.
Exemplos disso são a educação a distância, que já vem lutando por seu espaço e anunciando seus benefícios há algumas décadas, além de outras propostas de ensino bastante disruptivas, como as metodologias baseadas em problemas, a PBL (Problem Based Learning) e a Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom), em que no primeiro momento o professor apresenta o problema e depois, presencialmente, discute as ideias com os estudantes. Todas essas metodologias sofreram algum nível de resistência e vinham sendo implementadas timidamente.
As situações trazidas pela pandemia colocaram à prova um novo posicionamento e fomos bem-sucedidos. Fato é que, professores, alunos, pais e gestores que rejeitavam, mas nunca haviam experimentado o ensino remoto, demonstram hoje posicionamentos totalmente diferentes.
Tendo tudo isso em vista, todo esse período só evidenciou a mais urgente necessidade de que, não só o ensino superior, mas o ensino brasileiro de uma maneira geral, olhe para si mesmo e reflita se já não é hora de acelerar, de repensar o modelo de ensino, trazer o estudante para um protagonismo ainda maior, fazer com que a sala de aula seja um momento realmente apoteótico em que as descobertas, o trânsito entre o ensino e a aprendizagem seja mais fluido.
Isso significa, principalmente, uma mudança considerável no papel do professor, que precisa deixar o lugar de “aquele que sabe tudo” para se transformar em um mentor da carreira do estudante e um curador de conteúdo, que hoje não está mais nos planos de aulas e currículos formais que aliás, têm se tornado obsoletos considerando a velocidade das inovações. Sem isso, diplomas ficarão cada vez mais desnecessários e relegados a um segundo plano no momento da contratação de talentos, o que realmente conta hoje no mercado de trabalho.
Estamos diante de um admirável mundo novo, não precisamos e
nem podemos voltar a lugar algum, precisamos é seguir adiante! Atenção: o
último a perceber a água é o peixe. Esse é o assunto desta coluna.
[1] Segundo o CensoEAD.BR da ABED (Associação Brasileira de Educação a distância).
Mensurando o engajamento para qualificar experiências de aprendizagem