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Gestão

Motivação do corpo docente é desafio para a gestão

Alexandre Gracioso, vice-presidente acadêmico da ESPM, entra para o time de colunistas, chama a atenção para a motivação do corpo docente e destaca transformações no setor

Publicado em 16/03/2023

por Gustavo Lima

Alexandre Gracioso Bacharel em administração e doutor em administração de empresas pela EAESP/FGV, Gracioso começou na ESPM em 1995 (Foto: divulgação)

Com 28 anos de atuação na ESPM, Alexandre Gracioso carrega diversas credenciais em sua bagagem. Hoje vice-presidente acadêmico da instituição, passa a colaborar com a Ensino Superior ao lado de Márcio Sanches, Marina Feferbaum, Simone Bérgamo e outros colunistas. Em entrevista exclusiva, o profissional antecipa a temática de seu primeiro artigo e chama a atenção para as transformações ocorridas na educação superior: “O setor ficou mais competitivo”.

Bacharel em administração e doutor em administração de empresas pela EAESP/FGV, Gracioso começou na ESPM em 1995 como professor horista. Além de ter atuado em todas as unidades da Escola, alcançou posições de liderança e dividiu sua atividade como executivo e docente. Como professor, deu aulas nas áreas de finanças e estatística. Mais tarde, migrou para a área de liderança e hoje ministra aulas de liderança consciente ou mindful leadership – termo consolidado em inglês. “Tem me dado muito prazer ter esse tipo de debate com os jovens”, diz.

 

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Enquanto executivo, começou no setor de pós-graduação como diretor de serviços a estudantes. “Estruturei melhor o atendimento ao estudante e a secretaria. Na época, estávamos começando a implantar alguns serviços automatizados e coisas na web para que os estudantes selecionassem a sua própria grade. Era o princípio da automatização dos serviços, da operação acadêmica e eu que fiz isso”, exemplifica. Gracioso ainda retornou ao setor de graduação, onde assumiu a diretoria por cerca de dez anos e era responsável pela qualidade e lançamento de novos cursos. Em 2012 recebeu o convite para assumir a posição de vice-presidente acadêmico, cargo que ocupa até os dias de hoje, definindo o planejamento estratégico acadêmico da escola, promovendo a capacitação de professores e a inovação acadêmica dentro da ESPM, entre outras funções.

 

Transformações e desafios da educação superior

 

Alexandre Gracioso evidencia mudanças tanto na parte de oferta, quanto de demanda no ensino superior. “Temos um cenário competitivo muito diferente do que era lá atrás, no início da década de 2000. Com grupos de grande potencial econômico que dominam boa parte do quantitativo de estudantes no ensino superior, a diferença é enorme. Esses grupos praticam boas ofertas e isso torna a competição por preço muito grande. A única alternativa a essa competição é uma diferenciação que seja cada vez mais perceptível por parte das famílias dos estudantes. Isso exige que a escola esteja voltada para a inovação e diferenciação contínua, tem que haver foco e um propósito muito claro”, salienta.

Ao avaliar a demanda, Alexandre destaca o fim do bônus demográfico brasileiro. “[O número de estudantes] no ensino médio está diminuindo, isso quer dizer que tem menos gente vindo para o ensino superior. Nas famílias que tradicionalmente enviam seus filhos para a ESPM, essa queda da natalidade já vinha de décadas anteriores, até mesmo da década de 1980. Percebemos hoje mais dificuldades na captação de estudantes. Isso quer dizer que temos que ser bem mais ativos do que éramos na prevenção da evasão, e também mais cuidadosos”, pondera. Para o profissional, os apontamentos somados à entrada de concorrentes internacionais obrigaram as escolas a aprender a competir em um mercado muito mais dinâmico.

 

Os maiores desafios do setor

 

Enquanto gestor, Gracioso volta a apontar a evasão, a inadimplência e a captação como três quebra-cabeças do setor, mas também pontua a motivação do corpo docente como um grande desafio de gestão. “Os professores são profissionais muito exigidos e vejo que os os estudantes vêm com comportamentos desafiadores. Há professores muito esgotados com a dificuldade em sala de aula. Vejo isso por mim também, pelo meu trabalho docente e o quanto é difícil manter o engajamento, a participação e a atenção do estudante. Então, manter a motivação desse corpo docente é um desafio da organização”, enfatiza.

“Do ponto de vista de missão, que é promover aprendizagem, o engajamento do estudante é algo que precisamos continuar a trabalhar e continuamente inovar as técnicas de aprendizagem”, ressalta, mencionando a pesquisa O que leva o aluno a ingressar no ensino superior?, realizada pelo Instituto Semesp em parceria com a Workalove. O docente adianta que o estudo será base para o artigo de estreia de sua coluna na Ensino Superior. “Como diz a pesquisa, o estudante vem muito mobilizado pelo seu projeto de vida. Precisamos conhecer melhor esse estudante não só de forma protocolar ou via sistema. Quem é essa pessoa e o que que ela quer? Precisamos nos organizar para isso porque a aprendizagem dessa pessoa está muito ligada a conseguirmos conectar sua trajetória aos nossos cursos e seu projeto de vida”.

Entre as razões que levaram ao comportamento desafiador observado nos estudantes, Alexandre coloca a pandemia em pauta. “Esses dois últimos anos, especialmente para quem terminou o ensino médio online, deixou algumas deficiências e lacunas de comportamento de socialização que o estudante ainda não recuperou. Na ESPM, por exemplo, tivemos algumas brigas em sala de aula que não tínhamos antes. Atribuo isso à falta de socialização durante o isolamento social”, reflete.

 

Impactos sociais

 

O vice-presidente acadêmico chama a atenção para a possibilidade de contribuições intelectuais e de serviços com a sociedade. “A gente percebe o jovem muito mobilizado para trabalhos que tenham alguma causa. [É importante] aproveitar essa energia para colocar nossas instituições a serviço da sociedade, a serviço da comunidade. São trabalhos de voluntariado ou de apoio a ONGs, por exemplo, pelo qual o jovem tem muito carinho e apreço. Podemos aproveitar essa energia para colocar a instituição a serviço da comunidade”, diz.

Ao falar sobre uma atuação socialmente responsável por parte das organizações, Gracioso defende que ainda há muito a aprender. “As IES ainda têm que avançar na profissionalização da gestão. O ESG só consegue ter espaço em uma gestão mais profissionalizada. Em uma gestão mais informal será difícil a sua consolidação”, afirma.

Sobre a entrada do ESG na ESPM, Alexandre é franco: “estamos aprendendo também”. “Temos boas iniciativas e a nossa governança é muito clara, temos um conselho curador bastante ativo e somos uma instituição civil sem fins lucrativos, prestamos contas regularmente de tudo o que é feito. Eu diria que na parte de responsabilidade sócio ambiental, estamos aprendendo e temos feito bons projetos interessantes de responsabilidade mais social como o projeto Jovem Inusitado, em que oferecemos um reforço de conteúdos de ensino médio público, visando o vestibular”, conta.

 

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O primeiro artigo de Alexandre Gracioso para a coluna na revista Ensino Superior será publicado neste mês.

 

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Autor

Gustavo Lima


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