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Inovação

Revisitar a própria identidade é premissa para que as IES se redescubram

Com 35 anos de carreira no setor, o mentor em marketing educacional Glauson Mendes lista as principais transformações observadas na educação superior e se prepara para a estreia como colunista   

Publicado em 24/03/2023

por Gustavo Lima

Glauson Mendes Glauson Mendes é fundador da SADEBR (Foto: divulgação)

Ao longo dos anos, a educação superior brasileira passou por diversas transformações. Mudanças que, analisadas pelas lentes de veteranos do setor, podem ser justificadas com base nos principais marcos históricos e sociais do país. E é assim que Glauson Mendes, fundador da SADEBR e mentor em marketing educacional, narra a grande metamorfose do ensino superior, observada em suas mais de três décadas de carreira. Da popularização da tecnologia às adaptações exigidas pela pandemia, as IES estão no momento de revisitar a própria identidade e de se redescobrir.

As instituições contavam com três pilares: a área financeira, o registro acadêmico e o setor pedagógico. “Próximo da virada para o ano 2000, com a história de ‘bug do milênio’ e ‘fim do mundo’ – e também com o movimento de redes e integrações ganhando força –, surge outro elemento muito importante”, explica Glauson. “Os computadores começaram a trabalhar em rede e entra um ator muito forte nessa equação, o gestor de TI”. Na primeira metade dos anos 2000, o marketing era um formato offline de mídia. TVs, outdoors e comerciais eram as grandes estrelas até o surgimento da internet. “Até então, o site não era visto como uma atribuição do marketing, mas sim como tecnologia da área de TI. Entendi o oposto, os sites eram uma questão de marketing e o TI deveria nos ajudar em aspectos de segurança. E então nasce uma comunidade que começa a discutir marketing educacional”, relata.

 

Fase 1: o elitismo 

 

Para destacar as principais transformações pelas quais o setor passou, o mentor em marketing educacional lembra de um período ainda mais distante que o ‘bug do milênio’. “De 1808, com a vinda da família real para o país, até 1996, a gente tem uma fase voltada para o que conhecemos como processo seletivo. Havia muita gente querendo fazer o ensino superior e pouquíssimas vagas. E então tivemos uma onda de educação extremamente elitista por cerca de 200 anos”, pontua.

 

Fase 2: a comunicação

 

Com a abertura do mercado, os 10 anos que sucederam 1996 foram fundamentais para a expansão das instituições e o aumento no número de IES brasileiras levanta outra pauta. “A questão passa a ser ‘eu nasci e tenho esse diferencial’. De um lado, temos uma série de instituições que nasceram nessa primeira onda, antes da abertura do mercado, e que são extremamente tradicionais. Do outro, as instituições fundadas a partir de 1996, que chegam com outra cabeça porque nasceram do zero”, esclarece.

Com a necessidade de captar alunos, as IES nascidas a partir de 1996 são, desde o princípio, mais abertas ao diálogo e ao acolhimento. “Elas começam a mudar a relação da comunicação, antes feita com outdoors e TVs. Essas IES percebem mais rapidamente a mudança no perfil do jovem e a necessidade de uma comunicação de duas vias”, completa.

 

Fase 3: um novo perfil

 

A partir de 2009, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) começa a ter mais força e, após 2010, o programa baixa sua taxa de juros, tornando-se um fenômeno. “Entre 2010 e 2014 ele aumentou muito o acesso das pessoas ao ensino superior, o que levou a uma mudança muito grande no perfil do estudante. Com o Fies e com o Prouni entra outra classe social, com a qual o mercado não estava acostumado.”, avalia. Para Glauson, a popularização da educação superior fez com que as escolas precisassem passar por um processo de reinvenção para a captação de um aluno com bagagem social e familiar diferente das anteriores.

 

Fase 4: demanda por reinvenção

 

“Entre 2015 e 2016, quando o Fies deixa de ser uma alternativa importante de financiamento, passamos para outro momento de grande dificuldade na captação porque entramos em um período de recessão pós-governo Dilma, de crise econômica e de recessão mundial, o que também baixa a capacidade de investimento das pessoas. O crédito é reduzido e fica muito mais difícil fazer a captação. Por outro lado, há um mercado diferente, com 2400 IES. Há mais instituições e mais vagas disputando a entrada de menos candidatos. Quando se pega a taxa de natalidade do Brasil e se constata o número de formados no ensino médio caindo, fica um processo complexo”, ressalta

Glauson defende que as IES estão em um novo momento para se reinventar. “O EAD é um novo paradigma, assim como a crise econômica e a pandemia da covid. Professores, que historicamente eram offlines, transformaram-se em online em uma semana. Acho que as IES estão no momento de revisitar suas identidades e de se redescobrir”, acrescenta.

 

Coluna

 

Além de curador, palestrante, escritor e consultor estratégico, Glauson Mendes passa a integrar o time de colunistas da Ensino Superior. Sua visão do setor trará insights e reflexões aos leitores.  

 

Autor

Gustavo Lima


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