NOTÍCIA
Gestão busca a economia de recursos para que as mensalidades sejam competitivas num mercado em que o ticket médio está baixo, por causa da hiperconcorrência com cursos EAD. Nesse desafio, vale buscar soluções inovadoras para aliar sustentabilidade financeira e ambiental
Publicado em 14/04/2023
O primeiro curso ofertado pelo Centro Universitário Unileão, em Juazeiro do Norte, no Ceará, foi Administração. À época, a demanda por formação de gestores era enorme. No primeiro vestibular, em 2001, 400 pessoas concorreram a 100 vagas. Em seguida, a cada ano, um novo curso: ciências contábeis, educação física, e cursos na área de saúde, entre eles, fisioterapia, odontologia e veterinária. Atualmente, são três campi na cidade que abrigam seis mil alunos, de graduação, mestrado e doutorado.
Na visão educacional de Jaime Romero, um dos fundadores e à frente da instituição até hoje, prevalece o ensino presencial, “especialmente quando agrega o conhecimento técnico com laboratórios, centros de prática, e quando aponta a aplicabilidade dos conceitos ao mundo real das coisas”, afirma. O projeto educacional contempla prática e contato com o ser humano.
“O estudante de fisioterapia, por exemplo, aprende conceitos, vai para o laboratório, para as piscinas de hidroterapia, atende pessoas na clínica-escola mas vai também à casa ou ao trabalho dos pacientes. Se você está com problema nas costas, não adianta remédio, fisioterapia, se a postura errada é um hábito. Então, o aluno visita o trabalho do paciente, observa a postura, a cadeira que está sendo utilizada. Vai à casa dele também, para observar o colchão, o sofá.”
No Unileão, a transformação foi metodológica. “Ao longo dos três anos que antecederam a pandemia, eu vinha qualificando meus professores para as metodologias ativas, para transformar o estudante em protagonista do processo ensino-aprendizagem. O professor não é o rei em cima do tablado, aliás, tirei todos os tablados, transformei as salas em U.” Não há cursos EAD, apenas cursos com reduzida carga remota para aproveitamento da plataforma.
Para Romero, um dos problemas da educação superior brasileira é que os alunos são formados para trabalhar no presente. No entanto, eles atuarão dali a quatro anos, em situações muitas vezes desestruturadas, das quais pouco se sabe. “Então eles precisam estar preparados para tudo: comércio eletrônico ou presencial, para montar uma clínica, ser profissional liberal, para concursos, para todas essas demandas do mercado.”
Os investimentos em infraestrutura marcaram a última década na instituição. Ao mesmo tempo, a gestão busca a economia de recursos para que as mensalidades sejam competitivas num mercado em que o ticket médio está baixo, por causa da hiperconcorrência com cursos EAD. Nesse desafio, vale buscar soluções inovadoras para aliar sustentabilidade financeira e ambiental.
Inaugurado em 2018, o centro esportivo, com academia-escola, piscina, campo de futebol e beach soccer recebeu aportes de R$ 4 milhões. Além dos estudantes de educação física, a academia é aberta à comunidade universitária, e em breve estará à disposição do público externo. O centro esportivo também acolhe estudantes de escolas públicas próximas. “O esporte é essencial à educação e traz um ambiente universitário diferenciado”, diz Romero.
Uma cobertura alemã resfria o prédio de nove mil metros da clínica de saúde. “Construímos o prédio embaixo de uma barraca gigante para não incidir sol nas paredes e nos vidros. Isso diminui o uso de ar condicionado”, detalha o reitor. “O MEC exige cerca de 200 horas mínimas de prática no curso. Nossos alunos fazem 1.200 horas com o atendimento de centenas de pacientes, porque entendemos que o aluno precisa aliar teoria e prática em laboratório e na aplicação com pessoas, com problemas reais, não apenas em estudo de caso.”
Mais R$10 milhões foram investidos, para além do terreno, em um hospital veterinário. “Se eu quiser um curso bem lucrativo de veterinária pensando primeiro no negócio, eu faço uma clínica para pequenos animais – cachorro, gato. Se eu pensar na formação de veterinária para atender demandas não só da minha região como do Nordeste brasileiro e do país, é preciso pensar nos animais pequenos, médios e grandes. O retorno financeiro não é alto, mas a satisfação é enorme”, detalha. O hospital veterinário conta com 15 mil metros quadrados e uma fazenda-escola com 40 mil metros quadrados, com pastos, centro de reprodução e reabilitação de animais, que oferece, por exemplo, hidroterapia para cavalos.
Também na última década, o curso de Direito do Unileão ganhou prédio novo para o Núcleo de Práticas Jurídicas, em que ocorrem as simulações de julgamentos. Ainda outro prédio novo abriga uma vara de juizado real, trazendo a presença de juízes e desembargadores para dentro da universidade. “No NPJ ocorrem as simulações, no juizado os casos reais.” O benefício pedagógico somou-se a outros para a comunidade, como a aceleração de processos de adoção de crianças.
As iniciativas de ampliação do centro universitário passam pela estratégia do “passo do papagaio”, que sempre vigorou na gestão. Os fundadores foram três professores, conta Romero, nenhum deles com capital abundante. “Então, para mudar de galho, primeiro o papagaio se fixa bem ao outro galho com suas garras, e então tira as garras do galho anterior. Ou seja, primeiro segura e garante uma coisa, daí dá outro passo.”
Juazeiro tem a cidade de Crato como vizinha e, no entorno, mais 11 pequenos municípios. A macrorregião tem sua população estimada em 800 mil habitantes. “É uma cidade repleta de oportunidades”, exalta Romero. Há mais passos de papagaio pela frente. Um deles, a sonhada implantação do hospital universitário e do curso de medicina, que traz reforço da marca e retorno financeiro.
Romero aponta o gasto com energia elétrica como o quarto item mais pesado para as IES, depois da folha de pagamento, impostos e materiais de consumo. Com cerca de mil aparelhos de ar condicionado – responsáveis por 90% do gasto com energia elétrica, já que as lâmpadas de led baixaram o custo da iluminação – e dependente de energia até para bombear água do lençol freático, a saída foi a energia solar.
Numa primeira etapa, foram instaladas placas solares fixas, com retorno de investimento em sete anos. Em seguida, Romero investiu numa nova tecnologia. Instalou três mil placas solares inteligentes que se movimentam na direção leste-oeste e, ao longo do ano, mudam para o eixo norte-sul, acompanhando a movimentação solar. Ao aproveitar o sol nos dois eixos, as placas geram 52% a mais de energia em relação às placas fixas. Quando escurece, utiliza-se a energia gerada nos finais de semana e feriados. Mas ainda não era o suficiente. Era preciso encontrar uma solução para diminuir o uso da energia elétrica justamente no horário em que ela custa mais caro, das 17h às 20:30h.
“Usamos um ar condicionado sustentável. Se não é possível estocar energia, estoca-se o frio. Colocamos mais placas solares e criamos grandes torres de gelo, com serpentinas, que refrigeram o ar que é injetado nos aparelhos. Isso já funciona em alguns shoppings e outros lugares. Serão quase 80 salas de aula com um sistema de ar condicionado que não liga o compressor. Só tem o ventilador. Com a vantagem que não tira a umidade do ambiente.” Já são seis milhões investidos em energia solar, e a expectativa é economizar 1,3 milhão ao ano. “Em quatro anos o sistema será pago e as placas têm garantia de 25 anos, apenas com custos de manutenção e limpeza.”