NOTÍCIA

Edição 273

A reviravolta da tradição

Os 70 anos do Unisagrado, de Bauru, consagraram mulheres que idealizaram sua grandeza e prepararam as transformações necessárias para continuidade da missão

Publicado em 04/04/2023

por Sandra Seabra Moreira

Sala Irmã Arminda Sbríssia Sala Irmã Arminda Sbríssia (Foto: divulgação/Unisagrado)

Vânia Cristina de Oliveira, a Irmã Vânia, assumiu a reitoria do Centro Universitário Unisagrado, em 2020, com a tarefa de continuidadede de uma reformulação acadêmica e administrativa iniciada em 2019. Esse desafio inicial foi interrompido pela pandemia da Covid-19. Entretanto, tsunamis à parte, há motivos para comemoração. Neste ano de 2023, o Unisagrado, localizado em Bauru, no interior de São Paulo, comemora 70 anos de atuação.

“Nós que estamos vivendo este ano temos motivos de agradecimento a todas as pessoas que nos precederam. Mas principalmente às minhas irmãs e em especial a uma delas, a fundadora do Unisagrado, a Irmã Arminda Sbríssia”, moradora de Bauru, que na década de 50 escreveu para a superiora do Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus (IASCJ), em Roma, pedindo pela criação de uma faculdade.

O IASCJ é a entidade mantenedora do Unisagrado, à qual pertencem a fundadora, todas as irmãs que já ocuparam a reitoria e a diretoria da instituição de ensino e a própria Irmã Vânia. “Irmã Arminda percebeu que Bauru e região necessitavam de uma instituição de ensino superior de excelência. Ela teve uma visão audaz, pioneira e corajosa. Uma mulher para além do seu tempo.” Em janeiro, a sessão solene de comemoração contou com a presença das ex-reitoras, Irmã Maria Elvira Milani e Irmã Jacinta Turolo Garcia, assim como das ex-diretoras, Irmã Vilma Rubio de Lima e Irmã Lucilia Rozeto. “Foi uma oportunidade para rever com muita gratidão o passado forte, sólido e ganhar o impulso para continuar.”

Como parte das comemorações, houve a inauguração da sala Irmã Arminda Sbríssia, que abrigará exposições de documentos históricos acerca da instituição e de sua fundadora. A sala se localiza no piso superior da biblioteca. Tanto a sala quanto a biblioteca, com 104.650 livros, são abertas à comunidade.

 

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Irmã Vânia

Irmã Vânia: “Queremos garantir a graduação de excelência” (Foto: divulgação/Unisagrado)

Em 7 de março de 1954, a Irmã Arminda iniciou o primeiro semestre letivo com 67 estudantes. Hoje em dia, são 5 mil alunos, distribuídos em 38 cursos de graduação presencial, 34 de EAD e 13 de pós-graduação lato sensu – MBAs e especializações. São cursos das áreas de humanas, ciências sociais aplicadas, exatas e saúde. Ao longo desses 70 anos, formaram-se no Unisagrado cerca de 40 mil alunos.

Atualmente com 42 anos, 22 deles no âmbito da congregação, Irmã Vânia é profunda conhecedora do Unisagrado. “Minha primeira graduação foi aqui, fiz Letras e comecei a atuar. Estudava à noite, morava na residência das irmãs, que é no centro do campus. Durante o dia trabalhava na biblioteca, na pastoral, em vários setores. Depois assumi funções na mantenedora”, conta. Mestrado e doutorado, também na área de Letras, foram realizados na PUCSP. Ela fala da missão da instituição: “Acreditamos numa formação que prepara o estudante para agir em sociedade e transformar para melhor o seu meio. Temos a visão antropológica, a pessoa está no centro do processo, respeitamos a tradição e nos abrimos para a inovação pela própria demanda do mundo e pelos desafios que temos também na área de ensino superior”.

O Unisagrado nasceu como Fafil, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Sagrado Coração. Tornou-se Fasc, Faculdades do Sagrado Coração, em 1980. Em 1986, com a implantação do stricto sensu, já era uma universidade. Em 2015, reposicionou-se no mercado, alterou sua prerrogativa acadêmica, e era então conhecida como USC – Universidade do Sagrado Coração. Veio 2019 e mais uma reviravolta.

 

Transformações garantem o propósito inicial

 

“Para enfrentar os desafios da sustentabilidade da instituição e para manter a qualidade de ensino e extensão, optamos pelo fechamento do stricto sensu. Foi doloroso, mas necessário. Revisitamos nosso propósito: para quê existimos na sociedade hoje? Queremos garantir a primeira formação superior de excelência, que é a graduação. Quantos milhares de estudantes não têm acesso ao ensino superior de qualidade?”

A transição, acompanhada por reajuste no organograma institucional, foi adiada pela pandemia, e Irmã Vânia a efetivou em 2022. “Eu sabia aonde queria chegar, mas temos que caminhar um pouco no ritmo das pessoas. Às vezes, o gestor, mesmo enxergando lá na frente, tem que dar um passo para trás, esperar e respeitar o ritmo e o estilo de todos. Fiz vários grupos de trabalho, mostrei a necessidade de mudança. O apoio para a reitoria foi muito forte. Unificamos pró-reitorias, fechamos três. E criei a coordenadoria de EAD”, detalha.

 

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Implantar o ensino a distância não é uma tarefa simples. Como manter a humanidade por meio das tecnologias? “Esse foi um viés de reflexão que levou um tempo necessário para o discernimento. Por ter formação humanística, houve certa resistência.” Quando Irmã Vânia assumiu, o Unisagrado já oferecia cursos EAD. “Avaliamos e percebemos: vamos ter que corajosamente dar um salto de mais qualidade. Não tínhamos condições de deixar o material tão ágil e interativo, eu não tinha, pois ‘sou’ 100% presencial. Fizemos parcerias.” O Unisagrado contou com o apoio especializado de profissionais do antigo Grupo A, hoje Plataforma A, Anthology e Symplicity.

“Primeiramente, abrimos possibilidades aos da casa. Para minha surpresa, tivemos muitos interessados em aprender. Novos professores também foram contratados para atuar especificamente no ensino a distância. Duas disciplinas estão na grade curricular de todos os cursos ministrados no Unisagrado, sociologia da responsabilidade social e ética e cultura religiosa. Elas foram adaptadas e constam também nos cursos EAD. Além disso, conta Irmã Vânia, “os estudantes visitam o campus a cada dois meses e não apenas no período de avaliação. Dizemos sempre que o laboratório, a biblioteca também são para eles”. Passados os momentos de mais tensão, sobretudo no período da pandemia, Irmã Vânia menciona a presença da espiritualidade auxiliando na superação coletiva e individual. Assim que a universidade se adaptou à crise, foram emitidos certificados de honra ao mérito para cada um dos professores e colaboradores. “Eu os reverencio”, diz a Irmã.

 

Confiança aumenta a responsabilidade

 

No retorno à presencialidade, havia pressa. Não só para ver os estudantes retomarem a rotina, mas para que os serviços prestados pelo Unisagrado voltassem a funcionar. “Uma preocupação eram as pessoas atendidas pelas nossas clínicas. São 200 mil atendimentos, em média, ao ano, em psicologia, nutrição, estética e cosmética, enfermagem e odontologia, que servem a população de Bauru e região.”

Indígenas da Ti Araribá

Indígenas da Ti Araribá (Foto: divulgação/Unisagrado)

Com 10% da curricularização da extensão já implantados, os projetos crescem. Entre eles, há a gestão de resíduos e hortas orgânicas. “Dá muito orgulho ver o comprometimento dos alunos e com isso nossa responsabilidade junto às comunidades aumenta.” Irmã Vânia diz que os projetos de extensão expandem a sensibilidade, o olhar para o outro. “O legal é entender que não se trata de assistencialismo. É a promoção da pessoa, da dignidade humana.” Além disso, diz a Irmã, a extensão promove o que está na base da educação, a teoria e a prática juntas.

 

Leia: Projeto do Unisagrado na Ti Araribá faz 26 anos e ganha documentário

 

Há projetos que começam como extensionistas e ganham status institucional. Entre os que estão na reitoria, diz Irmã Vânia, está o Projeto Identidade Araribá. Há 26 anos, o Unisagrado vem oferecendo bolsas de estudo para indígenas de quatro aldeias da TI Araribá – Ekeruá, Nimuendajú, Konepoti e Tereguá –, localizadas na cidade de Avaí, próxima a Bauru. Eles se tornam professores, enfermeiros de suas aldeias. “Temos um coordenador específico para acompanhar esses estudantes, cuidando da inserção na tecnologia, por exemplo, ao mesmo tempo mantendo o respeito pela cultura deles.” Como parte das comemorações dos 70 anos, no início de fevereiro, cerca de 40 indígenas estiveram em sessão solene no Unisagrado, confirmando a continuidade dessa parceria. O Unisagrado realizou o webdocumentário Memória Identidade Araribá, que conta essa trajetória de sucesso com as comunidades indígenas da região e está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VC7cjnNZrl4

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Autor

Sandra Seabra Moreira


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