NOTÍCIA
97,1% querem que as instituições facilitem a ponte com seus futuros empregadores
Publicado em 28/09/2023
Nesta quinta-feira, 28 de setembro, foi divulgada a pesquisa Qual o modelo ideal de IES na visão dos estudantes, elaborada pelo Instituto Semesp em parceria com a Workalove Edtech. 1.692 discentes das modalidades EAD, presencial e semipresencial responderam a perguntas sobre mercado, proposta pedagógica e estrutura das instituições de ensino superior. Entre os resultados, destaca-se o expressivo percentual de 97,1% dos entrevistados que valorizam uma faculdade que realiza parcerias com empresas para ajudá-los na conquista de um emprego na área de formação. À Ensino Superior, especialistas de diferentes áreas repercutiram os resultados do material.
Para 97,1% dos estudantes das três modalidades, a faculdade ideal é aquela que realiza parcerias com empresas para ajudá-los a conquistar o emprego na área de graduação. 97,7% dos entrevistados consideram que o ensino de qualidade deve ser alinhado com as necessidades do mercado.
Antonio Carbonari Netto, especialista em educação superior no Brasil e gestor da Must University, na Flórida, acredita que o ensino superior ainda está muito vinculado a uma profissão e chama a atenção para uma situação recorrente na Faria Lima, bairro de São Paulo. “Muitos engenheiros trabalham com finanças na região da Faria Lima. Eles não estão em suas profissões, não são formados para aquilo, mas estão em uma ocupação financeira. O aluno quer, na realidade, um emprego e uma boa colocação, independentemente se sua graduação foi a distância, presencial ou híbrida. Em minha opinião, o aluno deve ir para o ensino universitário para buscar uma profissão ou uma ocupação”, comenta.
Sobre as parcerias com empresas, é direto. “Acho fundamental. Deve haver uma área, disciplina, assessoria ou algum tipo de supervisão que faça o contato e coloque o seu formando dentro da empresa. É um caminho funcional”, justifica.
67,4% dos entrevistados acreditam que uma formação por microcertificações é possibilitada pela faculdade ideal. A preferência reflete a busca de educação adaptável às habilidades demandadas pelo mercado. Para 43,7% dos discentes, o currículo ideal deve ser flexível com trilhas de aprendizagem de acordo com o objetivo de carreira. Cíntia Boll, pró-reitora de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que o olhar positivo para as microcertificações esteja ligado à agilidade desse tipo de certificação.
“As microcertificações acontecem em um prazo muito reduzido. O estudante consegue visualizar a finalização de sua aprendizagem de forma mais próxima e, com isso, se organizar e manter o foco para a conclusão de seu propósito. Quando se tem uma certificação longa, muitas vezes sua usabilidade deixa de ser vista, porque o mercado de trabalho é sempre muito dinâmico”, explica Cíntia.
A pró-reitora traz a Inteligência Artificial como exemplo da corrida mercadológica. “Uma IA que aconteceu no ano passado, em dezembro, e tem provocado mudanças no âmbito educacional. Se a IES oferece uma longa certificação, não alcançará essas mudanças presentes no ‘boom’ da IA. Enquanto uma microcertificação torna maior a possibilidade de adaptar essas mudanças constantes da sociedade, facilitando não só uma oxigenação dos currículos escolares, mas também uma oxigenação do próprio estudante em relação a sua aprendizagem, pois ele verá mais propósito em sua certificação”, completa.
No EAD, a grade curricular foi um ponto positivo para 25,7% dos alunos respondentes. Para a coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP, Marina Feferbaum, não existe uma fórmula de currículo ideal. “Em um país tão diverso como o nosso, devemos pensar em uma diversidade curricular”, pontua. A definição de uma grade curricular deve ser coesa com a proposta de cada IES. Em uma universidade localizada em Santos, litoral de São Paulo, por exemplo, o curso de direito pode estar mais direcionado para o âmbito marítimo, de modo que os alunos tenham as habilidades necessárias para o mercado local. “É isso que diferencia uma IES da outra: o que ela oferece em termos de objetivo de currículo e qual a sua proposta político pedagógica”, acrescenta.
As ferramentas tecnológicas oferecidas são um indicador essencial para avaliar as IES do ponto de vista discente. No total, incluindo EAD, presencial e semipresencial, 89,1% dos estudantes apontaram que a faculdade ideal deve ter boas ferramentas e recursos tecnológicos. Wagner Sanchez, pró-reitor acadêmico da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP), defende o investimento em recursos que se alinhem às demandas do mercado de trabalho. “Na carreira de medicina, por exemplo, os alunos querem – dentro das IES – entender as tecnologias presentes nos grandes hospitais, para que de, quando formados, consigam atuar nessa área”, diz.
Sanchez relata que o almejo pelas últimas tendências é percebido nos estudantes de tecnologia da FIAP. “O conceito é o mesmo. Eles querem aprender as últimas versões dos recursos de hardwares, como impressoras 3D, óculos de realidade virtual, softwares de Inteligência Artificial (IA) generativa, entre outros. Se um aluno se matricula em uma faculdade de medicina que conta com um robô paciente ultrapassado, obviamente não o cativará”, pondera. Na visão do especialista, as faculdades devem investir nesses recursos e, principalmente, em professores habilitados a ensiná-los. “Caso contrário, formarão profissionais que não vão conseguir se colocar nas empresas. Será um desserviço à educação”, declara.
Demonstrando um alinhamento com uma atual tendência social e mercadológica, 94,4% dos alunos deseja que suas faculdades tenham um compromisso com a educação voltada para o desenvolvimento sustentável. Na avaliação de Marina Feferbaum, pensar em cursos que olham para a questão sustentável pode ser um diferencial para o país.
A profissional ressalta que o termo sustentabilidade é polissêmico e, no contexto educacional, pode tratar de diferentes aspectos. “Passa tanto pela sustentabilidade do aluno quanto de conteúdo. Pensando na sustentabilidade financeira e econômica, pode envolver questões de permanência do estudante – que é um super desafio. E há a sustentabilidade no limite ambiental. Que tipo de economia verde queremos desenvolver no Brasil? O que faremos com a Amazônia? O país é um ator extremamente importante na gestão do clima, então como ficam as questões climáticas?”. Marina reforça que a sustentabilidade pode ser vista sob várias óticas e não deve estar fora da pauta dos gestores. “Como trazer esse debate para dentro da universidade em todos esses aspectos?”, indaga.
No EAD, 54% dos estudantes indicam que a faculdade ideal é aquela que oferece as menores mensalidades do mercado. Já no ensino presencial, 57,3% é contrário à ideia de que a instituição ideal é aquela que oferece as menores mensalidades. Os resultados demonstram que, para além dos custos, os alunos que optam por cursos presenciais priorizam fatores como a qualidade da educação ou a experiência de aprendizado.
Para Janes Fidelis, VP Acadêmico Vitru Educação, a educação a distância conquistou uma escalabilidade que permitiu e transferiu o benefício desta escala para o estudante. “E não significa supressão de qualidade. Entendo que as novas tecnologias favorecem as IES de ensino a distância porque elas tornam a experiência mais digital, respeitam mais o ritmo de aprendizagem e conseguem desenvolver as principais competências para o mercado. Percebo que as propostas educacionais EAD precisam ser muito pensadas e legitimadas em uma identidade pedagógica”, alega.
A pesquisa foi apresentada ao público do 25° Fnesp. Durante o bate-papo E agora, Fnesp, como ressignificar as nossas IES?, a CEO e Founder da Edtech Workalove, Fernanda Verdolin, o presidente da Global Impact EdTech Alliance, Fernando Valenzuela Migoya, o COO do Pravaler, Beto Dantas e o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, também repercutiram os resultados do estudo. Sobre a relação entre IES e mercado, Fernanda comenta: “Não basta aproximar a academia do mercado, é preciso trazer o mercado para dentro. Se não o fizermos, as IES estarão sempre desconectadas”.