NOTÍCIA
95,6% dos que já estão cursando uma especialização afirmaram que podem ingressar em outras, configurando o lifelong learning, ou a ideia da aquisição de conhecimento como “uma jornada para toda a vida”.
Publicado em 29/11/2023
O Semesp divulgou os resultados da Pesquisa de Pós-Graduação Lato Sensu | Um diagnóstico sobre os cursos de especialização no Brasil – 2023 nesta quarta-feira, com percentuais animadores, que apontam oportunidades para as IES, sobretudo no mercado de lifelong learning. A pesquisa contém dados sobre o ensino de especialização de nível superior lato sensu no Brasil, de instituições privadas e públicas.
Realizada pelo Instituto Semesp nos meses de outubro e novembro deste ano, a pesquisa ouviu 495 pessoas, entre elas, alunos, egressos e pessoas com e sem interesse em ingressar em uma pós-graduação. Cerca de 80% dos participantes têm até 40 anos – pouco mais da metade é mulher cisgênero –, 65% têm renda familiar de até seis salários mínimos. 91,2% trabalham e 35% ocupam cargos de liderança.
Além disso, a pesquisa também considerou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do IBGE, referentes ao segundo trimestre dos anos de 2016 a 2023, e de informações contidas no site do e-MEC, do Ministério da Educação.
São 2162 IES que oferecem 173.176 cursos de pós-graduação lato-sensu, configurando um mercado bastante competitivo. Entre 2019 e 2023, as especializações EAD cresceram 479%. Desregulamentação, ofertas mais específicas e ciclo de vida mais curto podem explicar esse crescimento que supera o da graduação na mesma modalidade, conforme análise do próprio Semesp. A tendência provavelmente não se reverterá. Entre os participantes da pesquisa, 74,2% discordaram que uma especialização EAD não atenda às expectativas dos alunos.
O discurso positivo acerca dos cursos livres, que tem se popularizado cada vez mais, não encontra eco na pesquisa. Em percentuais que superam os 70%, a maioria não considerou que um curso de especialização pode ser substituído facilmente por cursos de curta duração e não concordou com a afirmação de que o diploma de um curso de especialização não é mais um diferencial para o mercado de trabalho. Ao contrário, discordou parcial ou totalmente da ideia de que é mais vantajoso realizar certificações online do que fazer um curso de pós-graduação lato sensu.
Na apresentação dos dados, que aconteceu de forma remota, Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, comentou os dados obtidos por meio das entrevistas com os estudantes. “A pesquisa desmistifica a afirmação de que a pós-graduação não vale mais, ao contrário, ainda há uma elevada valorização das especializações”. Outra desmistificação importante, afirma Capelato, diz respeito às certificações online, da qual se fala que substituirão a pós, até mesmo a graduação, um aspecto que não se confirma na pesquisa.
Denise Lourenço é diretora acadêmica da Trevisan Escola de Negócios, que oferece 27 programas de MBAs, além de cursos livres, todos no contexto do que a instituição chama de educação digital – ou EAD. Para ela, “há espaço para os MBAs e para os cursos livres, mas eles têm funções bem diferentes. É como comparar alho com maçã. Por exemplo, quem tem cargo de liderança e quer crescer – como os 35% que ocupam cargos de liderança – não o fará com cursos livres, porque não vai trazer para o currículo o peso de muitos cursos de duas, quatro, 12 horas. É muito pouco para quem quer se capacitar. Quem quer galgar os degraus da carreira corporativa vai precisar do MBA.”
Por outro lado, os cursos livres cumprem a função de atualização ou oferecem o primeiro contato com determinada informação. Um curso de quatro horas pode trazer informações valiosas para quem está se preparando para uma reunião, por exemplo.
Há cursos livres que são excelentes, conta Denise, “mas não é a maioria”. Na internet, conhecimento e informação trafegam sem resistências, daí a profusão de cursos livres sem rubricas, sem a intermediação de uma IES. “A instituição tem uma reputação diante do mercado, faz a seleção de professores, coloca o professor certo na disciplina certa, é responsável pelo plano de ensino e aprendizagem”, detalha, o que garante a qualidade.
Do total de participantes, cerca de 60% ainda não fizeram um curso de especialização ou MBA. A boa notícia é que eles têm interesse em ingressar, inclusive, 72,2% destes que não estão cursando uma especialização gostariam de fazê-lo já em 2024. No momento de escolher uma IES, eles atentam para a qualidade (76,9%), preço (58,1%) e corpo docente (56,6%). Espontaneamente, foram citados a importância do reconhecimento pelo MEC e a versatilidade da instituição. As duas áreas de maior interesse são Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação, as TICS (26,3%), e Negócios, Administração e Direito (22,4%).
A média de ganhos de estudantes de graduação, cerca de 2,5 salários mínimos, de acordo com a pesquisa, explica a preocupação com o preço do curso. “A pós-graduação ainda carece de políticas públicas para facilitar o acesso”, afirmou Márcio Sanches, coordenador da Universidade Corporativa Semesp.
O interesse nos cursos TICs deve aumentar, já que esses conhecimentos serão cada vez mais necessários. “Ou você programa ou vai ser programado”, diz Denise. “Nós mesmos não damos um passo sem fazer uma pesquisa. Por exemplo, nós consultamos nossos alunos acerca de uma questão e isso vira dado. A pessoa pode ser um analista ou um CEO da empresa, não importa, precisa saber ler dados, tomar decisões e conversar com as pessoas a partir de dados. Pode não sentar na cadeira do programador, mas precisa entender como isso acontece, e não dá para obter esses conhecimentos fora de um MBA.”
Cerca de 27,5% dos participantes estão cursando ou já concluíram um curso de especialização. As motivações para fazê-lo foram as necessidades de ampliar o leque de oportunidades, atualizar e aumentar conhecimentos, além de aprofundar os conhecimentos dentro da área de atuação.
95,6% dos que estão estudando afirmaram que ainda podem fazer outras especializações, configurando a adesão à educação continuada, ou lifelong learning, que é “um convite a não parar de estudar nunca. É quando a pessoa entende que a educação formal não é suficiente e que o conhecimento é dela, é uma conquista, uma habilidade que ela vai garantir para a sua vida. Ela não está mais vinculada a uma empresa. É uma jornada para a vida toda”, finaliza Denise.