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Edição 280

Para a Facamp, inovador é o diálogo

Qualidade docente explica o fato de oito entre dez alunos da Facamp trabalharem no mundo corporativo, em multinacionais, cujas vagas envolvem concorrências gigantescas

Publicado em 30/11/2023

por Ensino Superior

Facamp Na Facamp, o aluno está presente no campus em tempo integral (foto: Gisele Bertinato)

A formação de lideranças empresariais é preocupação de educadores no mundo todo. As escolas de negócios pegam para si essa tarefa e podem surgir de afortunados encontros, como aqueles em que educadores e renomados intelectuais se juntam a figuras do meio corporativo ou do mercado financeiro. Assim foi com a Facamp – Faculdades de Campinas – no interior paulista, que ofertou seu primeiro curso no ano 2000. Em plena era digital, a Facamp reforça sua aposta nos cursos presenciais, em tempo integral.

Alocada em nicho premium, com ticket alto, as consequências da pandemia e as turbulências do mercado do ensino superior no Brasil impactam seus negócios, mas nem tanto. Depois da redução de matrículas em 2020 e 2021, mas com evasão pouco significativa, a Facamp registrou este ano aumento de 29% de ingressantes em relação a 2022. Os nove cursos de graduação – administração, economia, relações internacionais, propaganda e marketing, design digital, engenharia de produção, mecânica e de computação e direito – têm, juntos, 1.200 alunos.

Na pós-graduação, são 400 alunos em MBAs tradicionais de 360 horas, cursos livres e um mestrado de direito empresarial que teve início este ano, com 30 alunos. A empregabilidade dos egressos alcança 98%, sendo 75% deles em cargos de liderança nos primeiros cinco anos após formados, conforme estudo e acompanhamento da própria instituição.

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Rodrigo Sabbatini

Rodrigo Sabbatini (foto: Gisele Bertinato)

No final dos anos 90, quando a Facamp estava em gestação, Rodrigo Sabbatini terminava seu mestrado na Unicamp e já era economista, consultor e docente. Um de seus mestres e fundador da Facamp, João Manuel Cardoso de Mello, fez o convite. “Fui o primeiro professor contratado pela Facamp. Aí começou minha vida”, conta. Foi coordenador do curso de economia, vice-diretor e é o atual diretor acadêmico, sempre marcando presença na sala de aula.

É Sabbatini quem aponta as credenciais dos fundadores. “A Facamp foi fundada por professores aposentados do Instituto de Economia da Unicamp. Além de João Manuel, foram Luiz Gonzaga Belluzzo e Liana Aureliano. Eles também estiveram à frente da construção da Unicamp, conheceram por dentro o que realmente funciona numa universidade de excelência, como de fato a Unicamp se tornou. Associaram-se a um grande empresário do mercado financeiro, Eduardo Rocha Azevedo, que foi presidente da Bovespa, depois fundador da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).”

 

Valorização dos professores

 

A trajetória inicial de Sabbatini espelha a estratégia da Facamp, ao longo de mais de duas décadas, de investir em bons professores e valorizá-los. A sua contratação, lá no início, se deu principalmente porque ele escolheu ser professor. Hoje, ao contratar, na resposta para a pergunta “o que você é?”, a docência deve vir em primeiro lugar e o olho brilhar. “É preciso vocação para a docência. Há excelentes profissionais que não são bons professores necessariamente. O docente precisa ter a característica de saber encantar. Contratamos profissionais para quem dar aula é o melhor momento da semana.”

Além da vocação para a docência, outra característica é o estudo. “Tem que estudar, então valorizamos muito o mestre e o doutor. Na Facamp, dos 130 docentes, 90% têm mestrado e doutorado.” E a terceira característica requerida: “é preciso ter um pé fora da docência também, um pé na realidade do mercado e do mundo corporativo”. Há duas décadas, eu já era um economista que conhecia big data, trabalhava com grandes dados econômicos do Brasil e do mundo. Minha primeira disciplina foi laboratório de conjuntura econômica, era uma mistura do que hoje chamam de PBL – Project Based Learning – com análise de grandes dados”, conta. À época, alguns poucos alunos tinham seu laptop. “Houve grande investimento na construção desses laboratórios e, ali, é mão na massa mesmo.”

 

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Não é fácil encontrar esse tipo de professor, pondera Sabbatini. “Embora escasso no mercado, felizmente, temos uma baixíssima rotatividade, entre outros aspectos, porque a estratégia de crescimento da escola foi contratar jovens mestrandos que foram se titulando e desenvolvendo suas habilidades. Eu mesmo obtive apoio da própria Facamp para estudos na Universidade da Califórnia em Berkeley, e doutorado na Unicamp”, conta. Todos os coordenadores de curso lecionam. E, de preferência, no primeiro ano. É uma forma de estabelecer uma relação duradoura com os alunos que ele formará, atesta Sabbatini.

A qualidade docente explica por que de oito entre dez alunos da Facamp trabalham no mundo corporativo, em multinacionais, cujas vagas envolvem concorrências gigantescas. “Eles vão liderar essas corporações. Vão disputar os melhores empregos, os programas de trainee e de estágio nas melhores empresas.” O curso de relações internacionais é o mais procurado na Facamp. “O diferencial desse curso é a ênfase na economia internacional. Inclusive, oferecemos a possibilidade de bidiplomação. O aluno pode se formar em economia também, com um ano a mais de estudo.”

Em suas palestras para estudantes do ensino médio, Sabbatini faz comparações. “Se num vestibular para medicina há concorrência que chega a 387 candidatos por vaga, um concurso para uma empresa como a Unilever, por exemplo, pode chegar a dois mil candidatos por vaga. O tapete vermelho para o mundo corporativo é a formação. Excelente formação técnica é fundamental, mas não basta.”

 

Sócrates, Platão e o contraditório

 

Em meio à revolução que a Inteligência Artificial promete a curto prazo, com magnitude que se assemelha à da provocada pela Revolução Industrial e o advento da internet, “o que os estudantes precisam é desenvolver o espírito crítico”, afirma Sabbatini.

“A internet, a IA são ferramentas muito melhores do que qualquer biblioteca, livro e, portanto, quem tiver um pouco de paciência consegue absorver informações, mas não é possível processá-las de maneira crítica e criativa ao apenas recebê-las. O estudante precisa da maior inovação pedagógica que existe: Sócrates e Platão. Ele precisa desenvolver o contraditório, a contraposição de ideias, o diálogo informado. O que o mestre sabe e aquilo que o aprendiz quer saber se encontram no diálogo, na interação humana, e ambos aprendem. O aluno se desenvolve dessa maneira.”

 

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Respeito, diversidade, empatia estão no cerne da formação, além das chamadas soft skills. Valores que são cultivados desde o início da Facamp. “E não é só discurso”, diz Sabbatini, e exemplifica com o vestibular. “É um processo diferente, por meio de entrevista, em linha com escolas da Europa e EUA. Não é apenas uma prova que decide se o estudante pode ou não cursar a faculdade. Mais importante não é se ele vai cursar, mas se ele vai sair. Eu brinco que a nossa seleção é um vestibular de quatro ou cinco anos. Isso significa que a maior parte dos que querem e podem estudar na Facamp vão estudar.”

É também por meio desse vestibular que a diversidade é contemplada, com o ingresso de pessoas com deficiência – PCD – e pessoas trans. Na Facamp não há cotas, mas 10% do corpo discente é formado por estudantes beneficiados pelo Prouni, provenientes de escola pública, o que garante a presença de alunos com vulnerabilidade socioeconômica e, dada a desigualdade racial histórica no país, também estudantes negros. Uma vez que os cursos são em tempo integral, há ainda a possibilidade da bolsa permanência, governamental. De acordo com Sabbatini, as empresas que contratam egressos da Facamp valorizam a diversidade.

Autor

Ensino Superior


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