NOTÍCIA

Edição 282

Ferramenta do varejo inova autoavaliação

Para a autoavaliação, o Grupo UBEC lança mão de ferramenta ágil e responsiva, que permite ajustes contínuos ao longo do ano letivo

Publicado em 06/03/2024

por Ensino Superior

Autoavaliação Na Universidade Católica de Brasília (UCB), a aplicação do CSAT apontou o índice de satisfação de 86% (foto: Patricy Albuquerque)

Os alunos gostaram da minha aula?

Essa é uma indagação constante do professor para si mesmo, importante para nortear a preparação da aula seguinte. Entretanto, nem sempre é fácil obter a resposta. Ou não era. Hoje em dia, a tecnologia provê ferramentas para quase tudo, inclusive para identificar o nível de satisfação dos estudantes com as aulas, de maneira diária e contínua. 

Mauricio Beccker

Mauricio Beccker, head de inovação do grupo UBEC, coordenou a criação colaborativa do Guia PDCA (foto: arquivo pessoal)

Essa demanda chegou à agência de inovação do Grupo UBEC – União Brasileira de Educação Católica, que buscou uma ferramenta com esse objetivo.  “Não é uma solução disruptiva”, avisa Mauricio Henrique Beccker, head de inovação do grupo. “Por aqui, chamamos de modelo de inovação incremental.” É uma adaptação de ferramenta bastante utilizada pelo setor de serviços para avaliar a satisfação dos clientes, o CSAT – Customer Satisfaction Score, com opções que vão de 1, para total insatisfação, a 5, muito satisfeito, e os totens com as expressões correspondentes a cada nível de avaliação. 

 

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“O CSAT é uma inovação na autoavaliação institucional por ser uma ferramenta ágil e responsiva, que permite ajustes contínuos ao longo do ano letivo”, conta. E essa possibilidade de ajuste faz toda a diferença. “Com 20 anos de experiência como professor, algo que incomoda é que a autoavaliação institucional, guiada pela comissão própria de autoavaliação, a CPA, costuma ser semestral ou anual.

Quando o estudante fica insatisfeito com uma aula ou com um professor, ele fará essa avaliação e o professor não terá tempo de receber o resultado ainda ao longo daquele semestre. Receberá no semestre ou no ano seguinte, ou seja, a turma com percentual um pouco maior de estudantes insatisfeitos com aquele professor ficará com uma percepção negativa a respeito dele. Se o professor voltar a dar aula para a mesma turma, o engajamento e a relação entre ele e os alunos estarão comprometidos, assim como o processo de aprendizagem. Inclusive, os efeitos negativos são em cascata.”

O grupo UBEC tem hoje quatro unidades. A Universidade Católica de Brasília, a Faculdade Católica Imaculada Conceição do Recife (FICR), além de dois centros universitários, a Unileste em Minas Gerais e a Unicatólica no Tocantins. São cerca de 25 mil alunos, sete mil deles no EAD.

 

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Em 2023, Beccker coordenou a implantação piloto do CSAT. “Selecionamos as unidades e os professores que se sentiram mais à vontade de participar naquele momento, além dos indicados pela reitoria e pró-reitoria”, detalha. “Ministramos um processo formativo de uma hora e meia. Criamos documentos, manuais e tutoriais para o professor conseguir trabalhar em sala de aula com os estudantes e FAQs. Criamos os mesmos materiais para todos os estudantes.”   

O funcionamento é simples. Ao término da aula, o professor dispõe o QR Code aos alunos ou encaminha o link. Os alunos avaliam por meio dos totens e há espaço para comentários. O professor recebe os resultados imediatamente, em tempo real.

 

Os primeiros resultados

No projeto piloto, pouco mais de 1.200 alunos avaliaram 38 professores, 37 disciplinas e sete cursos diferentes. Os primeiros resultados apontaram que a satisfação geral é de 93%, o que corresponde a uma nota média de 4.7.  “Uma nota bastante alta, em relação ao que muitas vezes se espera quando se tem uma autoavaliação.” A satisfação difere de unidade para unidade. Na Universidade Católica de Brasília, o percentual de satisfação é de 86%, na FICR, 96%.

O passo seguinte foi entrevistar os professores que receberam as melhores avaliações e os estudantes.  “Deixamos claro que o objetivo era identificar o que torna uma aula satisfatória para o estudante. Para isso, melhor deixar os resultados negativos de lado e pegar os positivos. O que de fato faz com que nossos estudantes se sintam felizes ou satisfeitos com uma aula?”

Para essas entrevistas, foram utilizadas as metodologias aplicadas por profissionais de User Experience (UX), que criam formulários com questões específicas para identificar pontos que precisam de aprimoramento.  Os professores contaram como planejam, executam e avaliam as aulas. E como, a partir de uma percepção não tão positiva da aula, refazem o planejamento. Seis estudantes e três professores do ensino superior da instituição responderam as perguntas. 

O que eles fazem para obter boas avaliações? “Nada de novo, oferecem muita prática, utilizam metodologias ativas, levam os estudantes para o campo de trabalho, trazem cases para dentro de sala de aula. Um ponto importante é a proximidade do professor com os estudantes.”

 

A síntese

Ao ouvir os professores, a equipe de inovação percebeu que o processo realizado por eles era similar ao da gestão administrativa. “O professor planeja, executa, avalia, toma uma decisão em relação a permanecer ou mudar para a próxima aula”, explica Beccker. Assim, a criação de um documento norteador seguiu o formato PDCA – Plan, Do, Check and Act. É o Guia PDCA da aula, criado de forma colaborativa, a partir das entrevistas. Nele, textos curtos e objetivos dão conta de conceituar cada etapa e oferecem orientações de como realizá-las. 

No Plan, por exemplo, o documento enfatiza a importância do planejamento estratégico da aula. Os professores são orientados a definir objetivos de aprendizagem claros, a escolher conteúdos e métodos de ensino adequados e a preparar instrumentos de avaliação. O planejamento também incorpora a integração dos valores institucionais. “Quando o professor faz o planejamento, já está praticando todos os valores institucionais, mesmo que não fique tão claro no primeiro momento.” Esses valores precisam de uma “tradução” para o dia a dia acadêmico. 

 

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Nas entrevistas com os professores, surgiu a dúvida: como trabalhar a espiritualidade em sala de aula? “Então, oferecemos exemplos. O trabalho colaborativo é uma forma de espiritualidade. Uma aula prática de arquitetura envolvendo grupos de estudantes trabalhando juntos para revitalizar uma área urbana degradada em sua comunidade, sob orientação docente, promove a colaboração e resulta em projeto com impacto positivo na comunidade. É justamente o que a igreja católica faz. Muitas vezes o professor tem projetos com esse perfil e nem sabe que está trabalhando com a espiritualidade.” 

Ainda no Guia PDCA, vídeos trazem depoimentos de estudantes que enfatizam a satisfação com a prática na sala de aula, de professores que trabalham com o design thinking ou relatam o uso de software na disciplina de estatística, além de metodologias ativas. 

Esse entrelaçamento de saberes sugerido no Guia PDCA acontece também em outro projeto, o Comunidades de Aprendizagem, iniciado no final do ano passado e que terá continuidade este ano, assim como o CSAT. Por adesão voluntária do professor, o objetivo é a troca de saberes e boas práticas. 

 

Cenários no metaverso

O metaverso e o ambiente 3D que ele oferece parecem não ter, ainda, caído no gosto popular. Mas a contribuição para a educação é inequívoca. Beccker relata a demanda de uma professora da disciplina intervenção em crises, do curso de psicologia: “Eu tenho uma disciplina que basicamente diz respeito à atuação do profissional de psicologia em incidentes graves, como incêndios, desastres aéreos e ambientais. E quero que os alunos tenham uma vivência muito próxima do real. Acho que só é possível no metaverso.”

A equipe de inovação optou pelo uso da ferramenta CoSpace, organizou alguns espaços e foi um pouco além. “Ao invés de oferecer um espaço pronto para os estudantes criarem o storytelling e atuarem como psicólogos numa situação de crise, pedimos que construíssem os cenários. Isso permitiu a eles aprenderem o que é metaverso do ponto de vista técnico, algo que ninguém imaginava aprender no curso de psicologia.”

A experiência rendeu uma Oficina de Metaverso ministrada aos professores. Beccker, como head de inovação, conta que foi sucinto. Apresentou o metaverso, a maneira como vem sendo aplicado no mercado em geral, na educação, os pontos positivos e as dificuldades que podem surgir com a utilização em sala de aula. Em seguida, a professora relatou a experiência da parceria com a equipe de inovação. Foi a oficina mais bem avaliada pelos professores.

 

Autor

Ensino Superior


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