NOTÍCIA
Mudanças constantes muitas vezes não são claras, nem para a docência e nem para a gestão, e isso gera uma sobrecarga de expectativa quanto ao papel dos professores
Publicado em 11/09/2024
Em abril de 2023, a mestre em educação Karina Tomelin trouxe o seu divã para a Ensino Superior. De lá para cá, professores de diferentes áreas compartilharam suas dúvidas e experiências acerca da desafiadora rotina vivenciada na sala de aula. Neste mês, o projeto “Docência no divã” dá um novo passo com o lançamento de um livro homônimo. A coletânea reúne 14 artigos publicados por Karina desde o início de sua coluna.
Organizado pela autora em cinco temas – docência plural, formação docente, gestão da aprendizagem, relacionamento na sala de aula e futuros da educação –, o livro Docência no divã (publicado pela editora B42) apresenta uma série de teorias e propostas de soluções práticas para problemas que envolvem a saúde mental dos professores, convivência intergeracional, aprendizagem integrada à inteligência artificial, aplicação de metodologias ativas, entre outras angústias presentes na atividade docente dos dias atuais. Responsável pelo prefácio, o psicólogo Rossandro Klinjey descreve os capítulos da obra como um convite à introspecção e à ação. “Incentivando os professores a refletirem sobre suas práticas e a buscarem seu aperfeiçoamento pessoal e profissional.”
Para Karina Tomelin, escutar e escrever para outros professores é um resgate às memórias pessoais de seu itinerário formativo. É também auxílio para os programas de formação docente em que atua. “A escrita provoca uma autorreflexão do trabalho docente. Fazer essa reflexão sobre os meus próprios desafios também me melhora, me mobiliza a pesquisar e estudar para trazer um outro olhar sobre o tema, seja nacional ou internacionalmente”, diz.
“Por vezes, a pergunta [trazida pelo educador participante] faz com que eu mobilize as redes sociais. Recentemente foi abordada a competição entre professores, um tema delicado que parece ser proibido. A pergunta me fez refletir se de fato existe essa competição, se é algo velado ou se de fato não temos”, relata. “Coloquei a pergunta em meus stories para entender se era uma dor de uma única pessoa, um viés só meu ou se outros professores também enxergavam.” Com a mobilização em seu perfil no Instagram, a articulista recebeu uma série de novas respostas com a percepção de outros colegas.
Na avaliação de Karina, a competitividade não está ligada apenas ao “embate” entre professores mais novos e profissionais com mais experiência. “Está ligada à cultura, por isso abordei no artigo a visão da gestão e da liderança. Muitas dessas dores podem ser amenizadas pelo perfil do gestor que está dentro da universidade”, pontua.
Para a autora, o desenvolvimento dos artigos exigem uma escrita empática. “Diferente de um artigo científico, por exemplo, esses textos devem acolher os professores”, frisa. Questionada sobre o tema mais desafiador trabalhado até o momento, Karina destaca o quarto artigo publicado em sua coluna (e selecionado para fazer parte da coletânea) – Como avaliar as competências da dimensão ontológica?
A especificidade do texto exigiu um cuidado especial para que docentes de outras áreas pudessem compreendê-lo. “Foi um dos artigos mais difíceis. O desafio é sempre provocar essa escrita empática e tornar o artigo acessível, valorizando quem participou.”
“Vivemos um cenário muito difícil, inclusive na compreensão do papel do professor. As constantes mudanças muitas vezes não são claras, nem para a docência e nem para a gestão, e isso gera uma sobrecarga de expectativa quanto ao papel dos professores. Há instituições que valorizam avaliações bem feitas no formato Enade, outras que valorizam visitas técnicas por parte dos docentes, e há instituições que valorizam os profissionais que conseguem publicar em revistas científicas”, cita. “Quando o professor ingressa em uma universidade, não há clareza sobre a expectativa de seu trabalho. Começa por aí: é preciso que o gestor seja claro, verbalize sua expectativa. Pois eventualmente o professor é pego de surpresa com uma avaliação institucional que, em decorrência da falta de alinhamento, não condiz com sua atividade.”
Na percepção da educadora, as instituições de ensino buscam estratégias para desenvolver programas de apoio à docência, mas falta inovação na tarefa. “Há um investimento em palestras, as instituições investem em palestrantes e pagam caro para trazer pessoas renomadas, mas muitas vezes acaba por aí. Não se criam outras iniciativas para ajudar os professores no cotidiano”, critica. “E mais do que isso, falta um olhar para esse público para que, antes de propor algo, exista uma compreensão de quais suas dores.”
É neste contexto que o livro Docência no divã chega para o público. “Essa coletânea traz a referência de um marco para a educação brasileira no sentido de olhar para as dores desses profissionais. Compreender o que os docentes estão sentindo e vivendo, de forma a promover a docência apoiadora”, sintetiza Karina.
“E apesar de os artigos estarem disponíveis no site da revista, o livro sempre traz a oportunidade de revisitar e uma experiência tátil com outra forma de interação. Há o acréscimo de ilustrações e de observações nas laterais das páginas, fazendo com que valha a pena ter um exemplar como forma de apoio ao professor”, completa.
Docência no divã está disponível para venda no site da Amazon Brasil (acesse). Profissionais interessados na coletânea também poderão adquirir a obra durante o 26° Fnesp, que contará com a presença de Karina Tomelin. O evento acontece nos dias 18 e 19 de setembro no Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo. Faça a sua inscrição no site oficial do Fnesp.