Formação docente reafirma seu papel como um pilar estratégico indispensável
O impacto na aprendizagem transformadora nasce de professores valorizados (foto: Xavier Lorenzo/Shutterstock)O ano de 2024 se despede, e 2025 chega com força, trazendo não apenas desafios, mas também oportunidades transformadoras para a educação. Nesse momento de transição, gestores e líderes acadêmicos já estão mobilizados para planejar o novo ano letivo. E, nesse contexto, a formação docente reafirma seu papel como um pilar estratégico indispensável.
No centro dessas mudanças exponencializadas uma verdade se destaca: o ensino deve sempre estar a serviço da aprendizagem, e nunca o contrário. Em tempos de avanços tecnológicos e descobertas científicas, estamos diante de uma abundância de ferramentas, recursos e conhecimentos que podem garantir uma educação significativa — aquela que não apenas ensina, mas efetivamente transforma vidas.
Com mais de 25 anos dedicados à formação docente, aprendi uma lição essencial: ninguém desenvolve no outro aquilo que não foi, antes, desenvolvido em si mesmo. Não podemos esperar que estudantes sejam protagonistas de suas aprendizagens, com repertórios ricos e engajamento genuíno, se nossos professores não estiverem, antes de tudo, capacitados e inspirados a liderar esse processo.
Por isso, oferecer uma formação docente verdadeiramente transformadora é indispensável. Não estamos falando de repetir capacitações técnicas ultrapassados ou de estimular mudanças temporárias com discursos motivacionais pontuais. Estamos falando de uma abordagem sólida, que inspire o educador e que vá além de aulas monótonas e desprovidas de significado.
Trata-se de criar experiências de aprendizagem criativas, ativas e profundamente conectadas à realidade dos estudantes. A formação docente precisa ir além do básico. Ela deve alinhar práticas pedagógicas às demandas de um mundo em constante evolução, onde conhecimento prático, emoções e engajamento são os pilares centrais.
Com base nas tendências educacionais que se consolidam para o próximo ano, apresento os cinco temas mais impactantes para a formação docente em 2025. Eles não são apenas tópicos para reflexão, mas convites à ação. São um chamado para todos nós, educadores e líderes, reimaginarmos o futuro da educação.
Se 2024 foi o ano de explorar o potencial da Inteligência Artificial (IA) nas escolas, 2025 será o ano de colocar a teoria em prática e transformar possibilidades em realidades. A IA deixa de ser um acessório inovador e se consolida como um assistente essencial para educadores, mas com uma máxima clara: o professor nunca será substituído por uma tecnologia, mas por outro professor que sabe utilizá-la a seu favor.
A transição para esse novo paradigma exige que os professores dominem desde a orientação para um mundo digital até o uso estratégico de ferramentas colaborativas. A formação docente, portanto, deve se concentrar em três frentes principais:
Ferramentas diversificadas e colaborativas: plataformas como Miro, Claude, Perplexity e Copilot já são uma realidade. Elas oferecem um universo de possibilidades criativas, permitindo aos professores possam desenvolver experiências de aprendizagem e envolver os estudantes. Dominar esses recursos significa trazer inovação para a sala de aula, sem perder a intencionalidade pedagógica.
IA como parceira criativa: em vez de substituir o professor, a IA deve atuar como sua parceira. Isso significa que os educadores precisam ser capacitados para planejar aulas, criar projetos e desenvolver materiais didáticos em colaboração com essas tecnologias.
Equilíbrio ético e humano: IA não deve eclipsar o papel humano no ensino. A criatividade, a empatia e a autonomia do professor e dos estudantes devem ser sempre preservadas. Garantir um uso ético da IA não é apenas um desafio técnico, mas uma responsabilidade formativa.
“Prompteca” e a curadoria de ideias: um diferencial essencial para o professor do futuro será a criação e gestão de sua própria biblioteca de prompts — ou “prompt-teca”. Isso permitirá que o educador interaja de forma eficiente com as IAS extraindo ideias, sistematizando informações e gerando insights que tragam valor ao processo de ensino.
Depois disso, entra em cena a habilidade de realizar uma curadoria inteligente: filtrar, selecionar e adaptar as informações fornecidas pela IA para criar conteúdo únicos e significativos. Ao dominar essas ferramentas, os professores não apenas transformam suas práticas, mas também capacitam seus alunos para navegar e inovar em um mundo tecnológico.
Quantas vezes nos deparamos com estudantes desmotivados, distraídos ou incapazes de gerenciar suas tarefas? O problema é evidente: muitos estudantes veem o aprendizado como algo conduzido exclusivamente pelo professor, sem desenvolver qualquer autonomia. Esse modelo cria estudantes dependentes, desorganizados e sem iniciativa diante de desafios.
A solução para esse cenário está na autorregulação da aprendizagem, uma habilidade que transforma o estudante em protagonista de seu próprio processo educacional. Essa competência permite que o aluno planeje, monitore e ajuste suas estratégias e comportamentos, desenvolvendo a capacidade de atingir metas tanto de curto quanto de longo prazo.
A autorregulação não é um dom inato, ela pode e deve ser ensinada. Para isso, os professores precisam ser capacitados a:
Desenvolver a metacognição: professores devem ensinar os alunos a refletirem sobre o próprio aprendizado, ajudando-os a identificar pontos fortes e fracos. Isso inclui não apenas saber “o quê” estudar, mas como e por quê. Essa reflexão é a base para decisões mais inteligentes e eficientes no processo de aprendizagem.
Promover a autonomia: criar ambientes que encorajem os estudantes a assumir responsabilidades pelo próprio aprendizado. Isso significa oferecer liberdade para que façam escolhas educacionais fundamentadas, experimentem diferentes abordagens e aprendam a resolver problemas de maneira independente.
Quando ajudamos os estudantes a desenvolverem a autorregulação, estamos formando indivíduos mais engajados, organizados e resilientes. Eles não apenas aprendem melhor — eles aprendem a aprender. Desenvolver a autorregulação na educação não é um luxo — é uma necessidade urgente. E 2025 é o momento ideal para colocá-la como prioridade no processo formativo de professores.
O avanço da neurociência nos últimos anos transformou profundamente a compreensão do papel das emoções na aprendizagem. Em 2025, a afetividade e os vínculos emocionais deixarão de ser secundários para se tornarem pilares centrais das discussões pedagógicas, reconhecidos como fundamentais para aumentar o engajamento e impactar positivamente a aprendizagem.
A neuroeducação, campo interdisciplinar que une neurociência, psicologia e pedagogia, tem demonstrado que emoções e aprendizado são inseparáveis. O cérebro humano não aprende apenas de forma racional, mas também emocional, e esse entendimento é revolucionário para a prática pedagógica.
Pesquisas mostram que emoções positivas ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando neurotransmissores como a dopamina. Isso melhora a atenção, facilita a retenção de informações e estimula a curiosidade. Por outro lado, ambientes desinteressantes ou emocionalmente hostis ativam o córtex pré-frontal em resposta ao estresse, o que bloqueia o aprendizado e dificulta a consolidação de memórias.
As emoções são o alicerce da tomada de decisões e da construção do conhecimento. Sem conexão emocional, o aprendizado perde o propósito, tornando-se mecânico e desprovido de significado.
Um estudo da Unesco(2020) revelou que relações afetivas positivas entre professores e alunos podem aumentar em até 40% o engajamento e a apropriação do conteúdo. Vínculos baseados em confiança e encorajamento criam um ambiente onde o cérebro se sente seguro para explorar, errar e crescer.
O foco exagerado em currículos técnicos e rígidos tem gerado uma crise silenciosa de desconexão emocional e desmotivação. Muitos estudantes percebem suas experiências de aprendizado como impessoais, distantes de suas realidades e incapazes de inspirá-los.
Em um mundo que frequentemente prioriza o desempenho técnico e a produtividade, a afetividade surge como um diferencial poderoso. Professores que aprendem a impactar emocionalmente seus estudantes não apenas transmitem conhecimento; eles aumentam a memorabilidade das aulas, despertam paixão pelo aprendizado e formam pessoas mais humanizadas e empáticas.
O futuro da educação não reside apenas na tecnologia ou em currículos avançados. 2025 é o ano de colocar a ciência das emoções no centro da prática pedagógica — não como um detalhe acessório, mas como o coração do aprendizado.
Estamos deixando para trás o “achismo pedagógico” e entrando em uma era em que estratégias comprovadas cientificamente guiarão as decisões educacionais. Isso não significa mecanizar o ensino, mas sim potencializar o aprendizado, explorando intencionalmente as capacidades cognitivas dos estudantes.
Pensar e criar são habilidades fundamentais do século 21, mas elas não são inatas. Essas competências podem — e devem — ser cultivadas em sala de aula. No entanto, gestores e professores enfrentam um grande desafio: como enxergar o processo de pensamento dos alunos quando, na maioria das vezes, temos acesso apenas aos resultados?
É aqui que entram as rotinas de pensamento, uma estratégia simples, mas incrivelmente poderosa. Essas estratégias permitem tornar visível o processo de raciocínio, promovendo aprendizado profundo e estimulando habilidades cognitivas essenciais.
As rotinas de pensamento são métodos práticos e rápidos que ajudam os professores a:
Educar em 2025 significa ir além do resultado e valorizar o processo. As rotinas de pensamento são a chave para cultivar mentes críticas, criativas e preparadas para os desafios de um mundo em constante transformação.
Como gestores e educadores, precisamos abraçar essa prática não como uma tendência passageira, mas como um pilar fundamental do aprendizado. Afinal, quando ensinamos os estudantes a mobilizar o pensamento e evidenciar os processos cognitivos, abrimos as portas para que eles aprendam qualquer coisa.
Em 2025, a formação docente terá a missão de apoiar os educadores não apenas como transmissores de conhecimento, mas como mediadores de uma experiência globalizada, inclusiva e culturalmente consciente. Em um mundo cada vez mais interconectado, as barreiras geográficas e culturais estão desaparecendo, exigindo que professores e alunos estejam preparados para navegar, colaborar e liderar em contextos globais.
Essa transformação vai muito além da inclusão de idiomas estrangeiros no currículo. Trata-se de cultivar uma visão cosmopolita da educação, onde os estudantes são capacitados a compreender, respeitar e colaborar com culturas diversas, enquanto desenvolvem habilidades para lidar com problemas globais.
A educação cosmopolita reconhece que, em um mundo globalizado, não basta ensinar conteúdos locais. É essencial preparar alunos para serem cidadãos do mundo — capazes de pensar criticamente, resolver problemas e atuar em cenários multiculturais. Para isso, os professores precisam ser equipados com ferramentas e estratégias que promovam:
Para que a formação docente alcance esses objetivos, alguns conhecimentos devem ser compartilhados:
A educação cosmopolita não é apenas uma tendência; é uma resposta às demandas de um mundo em transformação. Ao formar professores preparados para ensinar a partir de uma perspectiva global, estamos capacitando as próximas gerações a se tornarem líderes informados, compassivos e eficazes em um cenário internacional.
Em 2025, a educação deve ser mais do que local. Ela deve ser um passaporte para o mundo — e os professores, os guias dessa jornada.
Acredito que todo professor merece receber o apoio necessário para causar um grande impacto. Um bom ensino é mais do que a transmissão de conhecimento; ele estabelece as bases para o sucesso dos estudantes e comunidade acadêmica.
Conseguir que os professores tenham o apoio que merecem é, sem dúvida, uma das maiores oportunidades de impacto do nosso tempo. Sabemos que os professores são o fator determinante mais importante na aprendizagem dos alunos, independentemente da instituição em que atuam.
Um ótimo ensino muda vidas. Ele representa o que há de melhor na humanidade: a capacidade de inspirar, de conectar e de transformar. Se você me perguntar no que aposto para alcançar essa transformação, diria que a resposta está na tríade cabeça, coração e mãos.
Metodologias que integram cognição, emoções e prática não apenas ensinam; elas transformam vidas em profundidade. 2025 é mais do que um marco temporal — é um chamado para reinventarmos a educação, criando um futuro que inspire e engaje, onde professores e estudantes alcancem seu potencial máximo. O impacto na aprendizagem verdadeiramente transformadora nasce de professores bem-preparados, valorizados e conectados ao seu propósito.
Por: Thuinie Daros | 18/11/2024