Revista Ensino Superior | Acompanhar egressos traz benefício de mão dupla

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Gestão

Acompanhar egressos traz benefício de mão dupla

IES buscam conexão com ex-alunos por meio de eventos, mentorias e cursos, e aprimoram suas ações

Publicado em 13/05/2025

por Ensino Superior

Egressos foto: Shutterstock

Por Raul Galhardi

Programas de acompanhamento de ex-alunos vão além de uma simples formalidade. São estratégias fundamentais para o crescimento sustentável das IES e para o sucesso profissional dos egressos. Iniciativas neste sentido, além de fortalecer a relação entre as IES e seus ex-alunos, criam uma rede de benefícios mútuos que impacta não apenas os alunos atuais e antigos, mas a própria instituição e a sociedade.

Para o reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Marco Tullio de Castro Vasconcelos, esse acompanhamento permite à universidade avaliar a qualidade da formação oferecida por meio de feedbacks que alimentam melhorias contínuas nos cursos, além de tornar mais eficiente o atendimento às exigências regulatórias de órgãos como Inep, MEC e Capes.

“Já para os egressos, estar conectado à universidade significa ter acesso a uma rede de apoio que inclui oportunidades de formação continuada, eventos exclusivos, mentorias, uso de bibliotecas e outros espaços físicos, além de um valioso networking com professores e colegas”, afirma. Desde 2020, o Mackenzie conta com um Programa Alumni vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC).

Os alunos atuais também colhem frutos da aproximação entre as IES e os alumni. A troca com egressos proporciona exemplos reais de trajetórias profissionais, abre portas para estágios e empregos e enriquece a formação com experiências concretas do mercado de trabalho.

 

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Por meio do programa Alumni PUCPR, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná fortalece o relacionamento com seus egressos, “promovendo iniciativas de acompanhamento baseadas no indicador de ‘sucesso profissional’, ações de continuidade por meio de benefícios exclusivos e o fortalecimento do senso de pertencimento através do reconhecimento de conquistas”, explica Tassiane Souza de Jesus, analista de relacionamento do Programa Alumni PUCPR.

Atualmente, a comunidade de ex-alunos da instituição possui mais de 150 mil profissionais formados ao longo de seis décadas. A história desse movimento começou em 2000, com a criação da Associação de Ex-Alunos da PUCPR (ASEP). Em 2013, a universidade assumiu as iniciativas da associação, ampliando o acesso gratuito aos benefícios e consolidando a governança por meio do programa.

Para os participantes, o programa oferece uma série de vantagens, como oportunidades de networking, mentorias de carreira, workshops, treinamentos e acessos vitalícios a conteúdos e serviços da PUCPR, além de descontos especiais em produtos e cursos.

No Mackenzie, além do acesso ao campus e às bibliotecas da universidade, uma das principais ferramentas disponíveis aos egressos é a plataforma virtual onde é possível compartilhar informações, participar de eventos, acessar oportunidades profissionais e de mentoria, além de se conectar a grupos de interesse temático coordenados pelas Unidades Acadêmicas da instituição.

 

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“A presença dos Alumni vai além do ambiente virtual, contribuindo com avaliações institucionais, integrando bancas e retornando como professores convidados em aulas especiais. Também recebem, periodicamente, uma newsletter com conteúdo relevante e atual sobre a universidade e o mercado”, afirma Vasconcelos.

Segundo o reitor, o compromisso com a formação ao longo da vida também se traduz em cursos de educação continuada com descontos exclusivos, enquanto no cenário internacional o programa conta com Embaixadores Alumni, que representam a universidade no exterior, estreitando laços com a comunidade global de ex-alunos.

 

Projetos sociais

No Insper, os ex-alunos são os grandes responsáveis pela perenidade da instituição,  pois perpetuam sua reputação, geram negócios por meio da recompra de cursos e de doações para os projetos sociais da IES, além de inspirarem a comunidade com relatos de suas trajetórias e conquistas. 

“Os mais de 30 mil egressos de cursos de longa duração têm um portfólio de benefícios como desconto em cursos, acesso vitalício ao campus, aos laboratórios, ao acervo e à base de dados da biblioteca, convites para eventos, participação em aulas magnas, mentoria para alunos bolsistas, e participação em comitês temáticos e eventos de governança – como a comissão externa de avaliação, bem como em demais projetos de voluntariado”, afirma Camila Souza Queiroz Du Plessis, gerente executiva de Relações Institucionais do Insper.

Ela explica que, devido ao Insper ser uma instituição sem fins lucrativos com planos ambiciosos em termos de impacto, o apoio dos alumni é fundamental para a perenidade da instituição, especialmente por meio da participação deles nos projetos sociais da universidade, como o Fundo de Bolsas, que concede a 400 alunos bolsas de estudo, sendo 90% destes de baixa renda. Além de subsidiar as mensalidades, o Fundo apoia os bolsistas integrais com auxílio moradia, por meio da residência estudantil chamada “Toca da Raposa”, e aporte financeiro para locação de apartamentos na região da universidade, além de um auxílio-manutenção para o custeio de alimentação e demais gastos.

 

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“Outro projeto social importante é o fomento à pesquisa aplicada endereçada à resolução de problemas reais da sociedade. Nos aproximamos de institutos, fundações e empresas que tenham agendas em comum aos nossos núcleos de pesquisa para que financiem essas agendas”, diz Camila.

Por fim, ela destaca ainda o patrocínio de salas e espaços acadêmicos, que podem ser nomeados por pessoas físicas, líderes importantes da sociedade, ou empresas que queiram associar a sua marca à do Insper. “O valor de doação a esses espaços é alocado em um fundo de manutenção do local, gerando um menor peso sobre as receitas da instituição”, afirma a gerente. 

 

Principais desafios 

Em relação aos obstáculos presentes na manutenção de um programa de acompanhamento duradouro, as IES são unânimes em apontar a necessidade de se manter atualizados os bancos de dados dos egressos e estimular o engajamento destes nas pesquisas e atividades realizadas pelas instituições. 

“O maior desafio que temos na manutenção desse vínculo é a atualização dos dados. Muitos alumni trocam de e-mail e não nos comunicam ou não compartilham seus números de WhatsApp, dificultando o contato. Outro desafio é a quantidade de atividades e eventos nas agendas dos alumni, que dificulta a disponibilidade para participar das ações de reaproximação com o Insper”, explica Camila. Ela também menciona a necessidade de fomentar a cultura de doação, que precisa ser mais fortalecida no Brasil. 

“Para manter o engajamento após a conclusão do curso é fundamental oferecer iniciativas que despertem interesse e criem significado, como eventos, mentorias, grupos temáticos e programas que tragam valor real para as vidas profissionais e pessoais dos alumni”, destaca o reitor do Mackenzie.

A eficiência tecnológica com o investimento em plataformas digitais atrativas, funcionais e atualizadas que permitam uma interação fluida entre egressos, alunos e as instituições também é outro fator determinante. Além disso, há o desafio da sustentabilidade financeira e operacional. “O acompanhamento de egressos exige equipes dedicadas, investimentos constantes e uma gestão cuidadosa dos recursos disponíveis”, pontua Vasconcelos. 

 

Mercado e empregabilidade 

Ao manter contato com ex-alunos, as instituições podem mapear suas trajetórias profissionais, identificar demandas do mercado e ajustar seus currículos para formar indivíduos mais alinhados às necessidades do momento. Nesse sentido, muitos programas oferecem mentorias, networking e oportunidades de reciclagem profissional, ajudando os egressos a se manterem competitivos.

No entanto, se por um lado o Brasil nunca teve tantos trabalhadores com ensino superior completo empregados, por outro muitos deles ocupam vagas em áreas diferentes da sua formação de origem. Além disso, o salário médio de quem fez faculdade diminuiu na última década, segundo dados do IBGE.

Entre 2012 e 2024, o número de pessoas no mercado de trabalho com diploma de curso superior quase dobrou, de 12 milhões para 22,4 milhões. Ainda segundo o Instituto Semesp, a taxa de desemprego entre quem fez faculdade é a mais baixa já registrada, chegando a pouco mais de 3%. Quando o assunto é a renda, porém, percebe-se uma queda no salário médio de quem tem diploma universitário, que caiu quase 12% em 12 anos, indo de R$ 7.495 em 2012 para R$ 6.619 em 2024, já incluindo no cálculo a inflação do período.

 

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Entre os fatores que levam a esse cenário, segundo o IBGE, está o aumento da escolaridade da mão de obra, o que tende a afetar o prêmio salarial do ensino superior, já que indivíduos com diploma universitário não são mais tão escassos quanto antes. Outro fator que ajuda a entender a redução dos salários é a expansão da taxa de informalidade que, no espaço de tempo analisado, aumentou entre os mais escolarizados. 

Dialogando com os dados do IBGE, de acordo com a 4ª Pesquisa de Empregabilidade 2024 do Instituto Semesp, o número dos ex-alunos de IES privadas que trabalham é 87,3%. Todavia, quando se trata do valor da renda mensal bruta dessas atividades remuneradas o valor médio da renda dos egressos fica em R$ 4.640 com 69,9% ganhando até R$ 5.000. 

Quanto ao número dos que trabalham na mesma área de formação, o estudo indica que 69,3% estão nessa categoria, o que significa que quase um terço (30,7%) dos entrevistados estão trabalhando em outros setores.

“Quando se analisa o mercado de trabalho brasileiro de forma mais ampla, os dados indicam que a formação de nível superior continua sendo um diferencial relevante para a empregabilidade e rendimentos, embora a absorção dos egressos varie conforme a área de formação e as dinâmicas econômicas do país”, avalia Vasconcelos, reitor do Mackenzie.

 

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Segundo o gestor, outro fator que influencia a absorção dos egressos é a qualidade da instituição de ensino e a aderência da formação às exigências práticas do mercado. “Universidades que mantêm vínculos com o setor produtivo, oferecem programas de estágio, mentoria e projetos de pesquisa e extensão tendem a contribuir de forma mais efetiva para o sucesso profissional dos seus diplomados”, diz ele.

De acordo com os últimos dados da universidade, 92% dos egressos dos cursos presenciais de graduação atuam no mercado de trabalho. Em relação à coincidência entre formação e atuação profissional, a IES afirma que 90% dos que estudaram presencialmente atuam na mesma área de formação, enquanto a média salarial mensal declarada dos alumni é de aproximadamente R$ 6.800.

No Insper, de acordo com dados da instituição de 2023 (os números de 2024 ainda estão sendo analisados), a empregabilidade dos alumni é de 97% com uma remuneração média de R$ 9.701. O número dos que atuam na mesma área de formação não foi informado. 

“De acordo com o cenário de acompanhamento de empregabilidade 2025, realizado com os egressos participantes do ciclo 2024 de pesquisa, não identificamos desvalorização do diploma de ensino superior. Entretanto, compreendemos a necessidade de estarmos sempre atentos às exigências do mercado de trabalho, estabelecendo a conscientização da educação continuada”, afirma Tassiane, analista da PUCPR.

 

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Segundo ela, no cenário de empregabilidade de 2024, 71% dos egressos estão atuando na sua área de formação, 19% estão empregados fora da área e 10% não estão empregados. “Um recém-formado da PUCPR recebe cerca de R$ 4.179,65, valor quase três vezes maior do que o salário mínimo e mais de 70% superior ao de quem não cursou uma graduação”, informa.

“Cada vez mais, o recrutamento prioriza habilidades comportamentais e potencial de crescimento muitas vezes acima da formação acadêmica tradicional. Nesse cenário, investir em microcertificações, que oferecem um aprendizado ágil e direcionado às demandas específicas do mercado, e práticas de ‘lifelong learning’, que incentiva a aprendizagem ao longo da vida por meio de experiências práticas e cursos, pode ser um grande diferencial para quem busca se destacar no mercado de trabalho”, avalia Tassiane.

“Em resumo, embora o cenário não seja homogêneo, o ensino superior continua sendo um investimento estratégico para quem busca ascensão profissional no Brasil. Mais do que apenas um diploma, a formação universitária de qualidade oferece repertório, habilidades e conexões que fazem diferença na trajetória profissional”, finaliza o reitor do Mackenzie.

 

Planos para o futuro 

Apesar de muitas ações já estarem sendo adotadas, ainda há espaço para melhorias, sejam elas técnicas ou procedimentais, que consigam estabelecer o aumento da proximidade entre as instituições e os ex-alunos, melhorando a formação continuada destes e impulsionando a visibilidade nacional e internacional das IES. 

“Entre os projetos de aperfeiçoamento em andamento, destaca-se a ampliação das funcionalidades da plataforma exclusiva para egressos, tornando-a cada vez mais interativa, intuitiva e conectada às demandas da comunidade mackenzista”, diz Vasconcelos, reitor da universidade. Outro foco da instituição é a intensificação do Programa de Mentoria com maior participação das unidades acadêmicas, permitindo que alunos e ex-alunos compartilhem experiências e construam juntos trajetórias profissionais mais sólidas.

 

Leia: Sem financiamento, sem diploma

 

Segundo ele, a oferta de cursos de educação continuada também deve ser expandida e diversificada com o objetivo de atender diferentes perfis e momentos da vida profissional dos antigos alunos. O Mackenzie planeja também fortalecer sua presença internacional por meio do Programa de Embaixadores Alumni, conectando egressos que vivem no exterior para promover a representatividade global da instituição. Por fim, há o objetivo de ampliar a participação dos ex-alunos nas avaliações institucionais e nos eventos promovidos pela universidade. 

O Insper, por sua vez, pretende investir na criação de um clube de fidelidade para os alumni que mais se engajarem com a instituição, principalmente por meio de doações para seus projetos sociais. “Através de pontuações ampliaremos ainda mais o vínculo e o senso de pertencimento dos egressos, além de aumentarmos exponencialmente as suas contribuições”, explica Camila.

“Estamos sempre aprimorando nossas iniciativas de conexão com o mercado de trabalho, fortalecendo o relacionamento com empresas, Alumni e estudantes. Essa abordagem nos permite estimular novas ações e inovar nos processos, promovendo a retroalimentação do sistema de ensino. Dessa forma, alinhamos a proposta de valor da PUCPR às necessidades da comunidade acadêmica – estudantes, professores e Alumni – garantindo uma formação cada vez mais conectada às demandas do mercado”, conclui Tassiane.

 

_Carreiras em destaque

A “4ª Pesquisa de Empregabilidade 2024” do Instituto Semesp elencou quais carreiras possuem maior número de formados trabalhando, quais têm a maior quantidade de ex-alunos fora do mercado de trabalho e aquelas cujos profissionais mais atuam fora da área de formação.

 

Confira os 5 cursos de graduação com os maiores índices de empregabilidade:

  • Medicina – 92%
  • Farmácia – 80,4%  
  • Odontologia – 78,8%
  • Gestão da tecnologia da informação – 78,4%
  • Ciência da computação – 76,7%

 

Veja os 5 cursos com a maior quantidade de ex-alunos que não exercem atividade remunerada: 

  • História – 31,6%
  • Relações internacionais – 29,4%
  • Serviço social – 28,6%
  • Radiologia – 27,8%
  • Enfermagem – 24,5%

 

Conheça os 5 cursos com o maior percentual de pessoas que trabalham fora da área de formação:

  • Engenharia química – 55,2%
  • Relações internacionais – 52,9%
  • Radiologia – 44,4%
  • Engenharia de produção – 42,4%
  • Processos gerenciais – 41,2%

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