NOTÍCIA
O Ecossistema de Inovação da PUC-Rio tem seis institutos de pesquisa. O mais antigo deles, o Tecgraf, tem 40 anos. O mais recente é o Instituto Behring de Inteligência Artificial
Publicado em 06/05/2025
O trio ensino, pesquisa e extensão resiste a um mundo em transformação. Será? Talvez seja mais acertado mencionar um quarteto, em que a inovação se junta aos tradicionais pilares da universidade e os transforma. Uma estrutura capaz de gerar essa constante oxigenação não se cria de um dia para o outro. Depende, antes de tudo, de uma abertura para o mundo.
“Acredito em alianças”, afirma padre Anderson Pedroso, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio, instituição de 84 anos. Jesuíta, paulistano, cidadão do Rio de Janeiro em caráter oficial, Pedroso também é, segundo ele, ora gestor, ora CEO, papéis que se revezam para dar conta das demandas características de uma universidade comunitária, sem fins lucrativos, com tarefas sociais inadiáveis – “são 40% de bolsas”, afirma –, e, ao mesmo tempo, com os desafios de uma empresa.
“Temos de desenvolver a sociedade, acreditar no potencial das pessoas, gerar emprego”, fala o reitor, e faz ecoar a mensagem do Papa Francisco, falecido no dia 21 de abril, de abertura das instituições católicas, inclusive as universidades, a todos, “cada um com sua especificidade e tradição”. A mensagem, vinculada ao cuidado da “nossa casa comum”, o planeta, e por consequência às questões socioambientais, vigora nas muitas instâncias em que a universidade atua.
Para o reitor da PUC-Rio, padre Anderson Pedroso, inovação é “propor modelos de funcionamento que ajudem a desenhar novos cenários e futuros” (foto: divulgação/PUC-Rio)
Os 104 mil metros quadrados do campus da PUC-Rio abrigam 8.741 alunos de graduação, matriculados em 49 cursos, que se organizam em 27 departamentos. A pós-graduação tem 28 cursos, que envolvem 4.366 alunos. São cerca de 161 grupos de estudos, 855 pesquisadores, 39 pesquisas com fomento da Faperj, 1.390 artigos publicados e 753 livros.
O Ecossistema de Inovação da PUC-Rio tem seis institutos de pesquisa. O mais antigo deles, o Tecgraf, tem 40 anos, e hoje desenvolve soluções informáticas especializadas sob demanda. O mais recente é o Instituto Behring de Inteligência Artificial. Criado em dezembro de 2024, a partir do aporte de R$ 35 milhões da Fundação Behring – a maior doação individual recebida pela PUC-Rio desde a sua fundação – abrigará, inclusive, a graduação multidisciplinar em inteligência artificial, a partir do segundo semestre.
“Estamos num lugar muito lindo e seguro, um pequeno vale na Gávea, ao lado do Leblon, Ipanema. Mas no entorno temos a favela do Parque da Cidade, da Rocinha, imensa, e do outro lado, o Vidigal”, detalha o reitor, para mencionar a preocupação com o impacto da universidade, local e global. “Enquanto temos aqui pesquisas tecnológicas de alta complexidade – sobre petróleo, polímeros e até a possibilidade de construir o protótipo de um foguete –, como está o ser humano em volta?”
O impacto local, no âmbito cultural, se dá por meio do projeto Gávea do Rio, que integra o campus a outras instituições culturais da região. O projeto transformou o campus num espaço plural, artístico, que envolve docentes, alunos e funcionários.
Em plena emergência climática, a PUC-Rio mantém o projeto Amazonizar. “A intenção é associar pesquisa e pessoas para se pensar os problemas da Amazônia. Geralmente, o método é ir lá e colonizar. Não queremos isso. Queremos ir até lá e nos ‘amazonizar’ – é um verbo –, para entender as lógicas da floresta e da população para depois colocá-las como protagonistas.”
Pedroso movimenta a pauta ambiental na universidade. “Temos um ecossistema universitário voltando-se para isso.” Para ele, inovação, mais do que encontrar soluções novas, é “propor modelos de funcionamento que realmente transformem a vida e ajudem a desenhar novos cenários e futuros”. A instituição será a sede, em maio, do próximo congresso da RUC – Universidades para o Cuidado da Casa Comum –, rede que congrega universidades públicas e privadas. Na pauta, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30.
Renato Cerqueira voltou para a PUC-Rio no começo deste ano e lidera o novo Instituto Behring de Inteligência Artificial. Foi professor no departamento de informática por dez anos. “Sempre atuando muito em ensino, pesquisa, e desenvolvimento de projetos para a indústria, que é um setor forte da PUC-Rio.” Em 2011, migrou para a IBM e contribuiu na criação do laboratório IBM Research no Brasil.
Na função atual, o primeiro desafio foi pensar o papel do Instituto de IA numa universidade que já tem várias ações em andamento, seja IA como objeto de estudo, seja como ferramenta para transformar alguma outra disciplina ou atividade. Um objetivo já se estabeleceu: “trazer uma dimensão multidisciplinar para a discussão e avanço da IA. Isso, para a PUC-Rio, é uma mistura de oportunidade, obrigação e necessidade”.
No ensino, terá início no segundo semestre o curso de graduação em inteligência artificial. O diferencial do curso, explica o diretor, é que em sua concepção prevalece uma perspectiva plural. O curso tem o núcleo central técnico-científico de exatas e um grau de inovação, mas há também disciplinas específicas, do pilar humanista, para a discussão de temas como a interação da sociedade e do ser humano com a IA. “A tecnologia está avançando muito rápido. O problema não é o avanço, mas como acompanhar essa evolução.”
Um curso de IA precisa ser flexível para acompanhar transformações tecnológicas e suas implicações e, ao mesmo tempo, cobrir os fundamentos que serão perenes, que continuarão valendo independentemente dessa transformação tecnológica, explica o diretor. “Isso é um problema que a área de informática já enfrentava na época em que fui aluno de graduação, mas não com a velocidade com que as coisas estão acontecendo hoje.”
O importante, diz Cerqueira, é oferecer uma formação “sintonizada com as demandas de curto prazo do mercado e uma base para o profissional formado se adaptar. O que usamos como referência hoje não é o que vamos encontrar quando a primeira turma se formar”.
O curso levará em conta as vocações pessoais, o perfil de aluno, se empreendedor ou acadêmico. Para isso, o curso prevê flexibilidade das disciplinas eletivas, para o aluno se conhecer, se ajustar. No pilar do empreendedorismo, o ecossistema de inovação da PUC-Rio será um grande campo para a experimentação. A disciplina de projetos materializa a trajetória do aluno e pode, por exemplo, conduzi-lo a desenvolver sua startup se o perfil for empreendedor, ou a pensar num projeto de mestrado, se o interesse for acadêmico.
O segundo âmbito do Instituto de IA é a pesquisa e o desenvolvimento. A ação, em consonância com o que já é uma característica bastante forte na PUC-Rio, é no sentido de “transformar as necessidades da sociedade em temas de pesquisa a ser desenvolvida pelo instituto, seja em colaboração com departamentos dentro da universidade, ou com outras instituições fora da universidade”, detalha Cerqueira.
Também aqui o aspecto multidisciplinar está presente e terá papel agregador na atual estrutura da PUC-Rio. Na agenda podem constar temas como a IA para auxiliar num projeto de materiais mais sustentáveis, ou IA aplicada a problemas ambientais. “Note que essas questões trazem desafios para uma área específica de atuação – materiais, que é o pessoal da química – e uma questão ambiental, tratada por outras disciplinas e departamentos”, exemplifica o diretor.
O terceiro âmbito de atuação do Instituto de IA é seu papel articulador. Com esse objetivo, a ideia é a criação de um fórum para facilitar as discussões de interesse comum em torno da IA, tanto internamente quanto para empresas e comunidades – de pesquisa, de empreendedores, de educação. Para Cerqueira, a responsabilidade do Instituto, por meio do fórum, é manter a discussão acerca de proposições positivas em torno da IA.
As ferramentas de IA estão sendo criadas, e a intenção final da universidade é “saber como queremos que elas ajudem a obter e produzir conhecimento. Só vamos endereçar esses desafios em prol da sociedade trabalhando em rede. Não tem como um grupo isolado endereçar suas questões”, finaliza o diretor.
“Quando uma empresa vem à universidade, há duas dimensões importantes. Uma é nos aproximar do mercado de trabalho, de desafios reais e concretos. A outra é nos ajudar a construir o futuro da universidade e da sociedade em geral”, afirma Gustavo Robichez, professor e coordenador central de Parcerias e Inovação, departamento vinculado à vice-reitoria.
Mais da metade do orçamento da PUC-Rio vem das relações com as empresas e com a sociedade. Em 2024, foram 317 projetos patrocinados e os contratos atingiram a cifra de U$ 65 milhões, equivalentes a R$ 360 milhões. “O desenvolvimento tecnológico é a grande mola propulsora desse modelo institucional. Isso obviamente por característica histórica e a própria regionalidade. O setor de energia, mais especificamente óleo e gás, com a Petrobras, é nosso maior parceiro.”
O conceito de ecossistema de inovação é representado pelas diferentes conexões da PUC-Rio com as empresas, startups, governo e pesquisadores, “criando um ambiente propício para a cocriação, desenvolvimento de projetos, de tecnologias, aplicação de conhecimento na prática, justamente objetivando aproximar esse conhecimento a desafios de áreas do mercado”, detalha Robichez.
Esse ecossistema envolve departamentos, laboratórios de pesquisa e institutos, que são estruturas mais robustas. No Tecgraf, por exemplo, são 500 pesquisadores. O Ecoa, outro instituto, tem 200 pessoas, focado na transformação digital.
O Instituto tem um diretor e a unidade de pesquisa tem um coordenador, um professor que lidera um grupo de pesquisas com 20, 30, 40 pessoas. “A química, por exemplo, tem várias unidades vocacionadas que pegam um conhecimento teórico e colocam a serviço da sociedade. As unidades são mais próximas dos departamentos acadêmicos. A partir do momento em que uma unidade de pesquisa ganha corpo, em processo de constante evolução, pode se tornar um instituto dentro da PUC”, finaliza Robichez.