Revista Ensino Superior | Alunos e IES atuam por saúde mental no campus

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Formação

Alunos e IES atuam por saúde mental no campus

Estudantes recebem apoio, geram novas ideias para sistemas de apoio no campus e transformam ideias em realidade

Publicado em 27/08/2025

por Ensino Superior

Saúde mental no campus Foto: Shutterstock

Por Olivia Sanchez/The Hechinger Report

Atenção: a matéria a seguir aborda temas sensíveis*.

Elijah Gregory já havia superado muita coisa quando chegou ao North Central Texas College, em Flower Mound, aos 19 anos, como calouro. Ele enfrentou problemas de saúde física, depressão e ansiedade. Perdeu um dos pais para o vício. E teve dificuldades para terminar o ensino médio.

Ele então se orgulhava de ter dado o próximo passo: matricular-se na faculdade comunitária. Mas, quando Gregory chegou lá, sentiu-se perdido e solitário. Lembra-se de ter se sentido tão sobrecarregado que chorou no segundo dia de aula. Um orientador o encaminhou para terapeutas fora do campus, mas ainda não conseguia lidar com a angústia. Ele desistiu cerca de duas semanas depois, sem obter nenhum crédito.

Por dois anos, o jovem fez terapia e trabalhou como auxiliar de escritório na siderúrgica da família. Quando se matriculou novamente, aos 21 anos, estava em uma situação muito melhor. Fez aulas em meio período e fez amigos que o impulsionaram ao longo de sua jornada.

Agora com 24 anos e a poucos meses de se formar em psicologia, Gregory está trabalhando para criar um grupo de apoio para estudantes do North Central Texas College que participam do programa TRIO, financiado pelo governo federal, que oferece mentoria, apoio acadêmico e orientação financeira a estudantes de baixa renda, estudantes de primeira geração e estudantes com deficiência. Gregory quer ajudar pessoas como ele a se livrar da solidão, construir relacionamentos significativos com colegas que possam ter experiências de vida semelhantes e vivenciar um maior senso de pertencimento no campus.

 

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O que Gregory está tentando fazer é incomum. A maioria das faculdades comunitárias não têm recursos para oferecer serviços substanciais de saúde mental aos alunos. Mesmo assim, seus alunos precisam de ajuda — muitas vezes mais do que os alunos de faculdades com cursos de quatro anos.

Muitos estudantes de faculdades comunitárias estudam meio período enquanto conciliam o trabalho e as responsabilidades familiares, e às vezes enfrentam dificuldades com necessidades básicas como alimentação e moradia. Esses fatores estressantes podem agravar os problemas de saúde mental dos estudantes, que muitas vezes têm poucos lugares a quem recorrer para obter ajuda.

Gregory ingressou em um novo programa criado para capacitar estudantes universitários a identificar desafios de saúde mental ou lacunas de recursos em seus campi, idealizar soluções e trabalhar com líderes do campus e da comunidade para implementá-las. Dos 65 alunos do programa, apenas 12 são de faculdades comunitárias.

O programa, chamado Mental Health Advocacy Institute, é administrado por uma organização sem fins lucrativos nacional, a Active Minds, que defende a saúde mental de estudantes universitários. Markie Pasternak, gerente sênior de ensino superior da organização, disse que o programa, que começou neste ano letivo, pede aos estudantes que considerem uma ampla gama de problemas de saúde mental nas faculdades, identifiquem quais deles afetam seus campi e, em seguida, trabalhem juntos para resolver os problemas identificados. Os estudantes recebem uma bolsa para elaborar um plano de ação e colocá-lo em prática em seus campi, disse Pasternak. A Active Minds coordena reuniões virtuais entre os estudantes, que vêm de 58 campi em todo o país, para compartilhar ideias.

 

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Mais da metade dos estudantes de faculdades comunitárias entre 18 e 22 anos apresentaram resultado positivo para pelo menos um transtorno de saúde mental, de acordo com estudo publicado na revista Psychiatric Services em 2021 (mesmo antes dos efeitos completos da pandemia se instalarem). Mas eles são muito menos propensos a buscar ajuda do que estudantes de faculdades com duração de quatro anos, concluiu o estudo — cerca de 25% em comparação com 40%, respectivamente.

Pesquisa de 2023 realizada pelo Centro de Engajamento de Estudantes de Faculdades Comunitárias da Universidade do Texas, em Austin, constatou que cerca de 56% dos estudantes afirmaram que problemas de saúde mental afetaram o desempenho escolar por pelo menos um dia nas quatro semanas anteriores. E o impacto acadêmico foi maior para aqueles cujas respostas indicaram que sofrem de depressão ou ansiedade. Cerca de 63% dos estudantes com depressão, e 58% com ansiedade afirmaram que era provável que sua saúde mental os levasse a abandonar uma ou mais disciplinas, ou até mesmo a faculdade.

E pesquisas mostram que, mesmo quando os estudantes sabem que precisam de ajuda, nem sempre a procuram. Frequentemente, dizem que não sabem para onde ir ou como marcar consultas, ou que estão tentando lidar com seus problemas sozinhos, ou que não têm condições de pagar pelos cuidados.

Não existe uma solução única para atender às necessidades de saúde mental dos estudantes universitários, afirmou Pasternak, da Active Minds. No Instituto de Defesa da Saúde Mental, ela incentiva os estudantes a refletirem sobre as necessidades de suas comunidades e sobre os tipos de apoio dos quais eles e seus colegas podem se beneficiar.

 

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Yaritza Garcia, uma estudante de psicologia de 22 anos do Diablo Valley College em Pleasant Hill, Califórnia, disse que queria complementar os serviços de terapia tradicionais com um programa de aconselhamento de pares.

“No final das contas, quero que este programa seja tão normalizado quanto ir a uma seção de estudo em grupo”, disse Garcia.

Garcia buscou ideias em uma linha de apoio a crises para a qual havia feito trabalho voluntário e em um curso de treinamento online aprofundado que a organização exigia que ela concluísse antes de poder ajudar outras pessoas. Ela disse que qualquer pessoa que quisesse facilitar o aconselhamento entre pares (idealmente cerca de uma dúzia de seus pares) precisaria fazer cursos de treinamento semelhantes.

Ela espera que o aconselhamento de colegas ajude os alunos a se sentirem apoiados, a construir conexões sociais e, por fim, a melhorar o desempenho acadêmico.

Outro aluno do programa quer organizar um grupo de apoio específico para atletas-estudantes lesionados que estão passando por isolamento e outras emoções complicadas porque não conseguem treinar e competir com suas equipes.

Em uma faculdade com uma grande população de estudantes internacionais, um aluno está trabalhando para traduzir informações sobre recursos de saúde mental para três idiomas diferentes, disse Pasternak.

Em uma universidade de pesquisa competitiva, um aluno está se concentrado na esperança, em vez da felicidade, como o oposto da depressão. Pasternak disse que o aluno quer coletar informações sobre o nível de esperança dos alunos naquele campus e, em seguida, planejar eventos para aumentar a esperança.

Os alunos fizeram um brainstorming de ideias e escreveram seus planos no semestre passado e agora estão trabalhando para torná-los realidade.

 

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Garcia recruta e treina colegas, conselheiros e espera oferecer o serviço de apoio entre pares em breve. Até o final do semestre, quer coletar feedback dos alunos e descobrir como garantir a continuidade do programa após sua formatura e transferência para uma faculdade de quatro anos.

Edward F. Martinez, reitor associado de alunos do SUNY Suffolk Community College, disse que quando os alunos constroem relacionamentos significativos com professores, funcionários e outros alunos, isso lhes dá um maior senso de pertencimento, o que os ajuda a permanecer na universidade por mais tempo. E trabalhar com líderes do campus em projetos como os do programa Mental Health Advocacy Institute também pode dar aos alunos um senso de autonomia, disse ele.

Nessas reuniões, a equipe e os administradores devem ser transparentes com os alunos sobre o processo de implementação de suas ideias e se eles acham que as ideias do projeto podem funcionar, disse Martinez.

“Aquele aluno mais uma vez sente que pertence, porque alguém se esforçou para ter uma reunião com ele”, disse Martinez. “Mesmo que não desse certo, esse aluno não sentiria que recebeu apenas um ‘não’.”

Os alunos também têm a oportunidade de entender o raciocínio e, talvez, receber sugestões alternativas: “Que tal fazermos isso em vez disso? Algo que talvez o aluno nem tenha considerado.”

Os alunos recebem apoio da Active Minds durante o processo. Nas  reuniões online regulares — que eram semanais no outono e são mensais neste semestre — eles ouvem palestrantes convidados que trabalham em vários escritórios do campus e que podem ajudar em seus projetos, e compartilham informações com outros alunos, disse Pasternak.

No Delaware Technical Community College, Heather Spartin, uma estudante de enfermagem de 36 anos, quer apoiar a saúde mental dos alunos oferecendo salas no campus onde eles podem passar e se refrescar.

 

 

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Não é terapia. Em vez disso, seriam salas silenciosas com pouca iluminação, onde os alunos poderiam entrar se estivessem num dia difícil, se sentindo sobrecarregados ou simplesmente precisassem de uma pausa. Ela disse que o ideal seria que houvesse professores de enfermagem disponíveis caso os alunos precisassem conversar. Ela se inspirou na Sean’s House, da Universidade de Delaware, uma organização sem fins lucrativos que treina conselheiros de apoio entre pares e oferece aconselhamento entre pares e outros recursos para estudantes universitários com problemas de saúde mental. O nome da casa é uma homenagem ao ex-aluno Sean Locke, que morreu por suicídio em 2018.

Enquanto alunos como Elijah Gregory e outros no programa Active Minds trabalham para pensar em novas ideias, Linda Garcia, diretora executiva do Center for Community College Student Engagement, disse que as próprias instituições precisam corresponder a esse esforço.

Os líderes universitários devem mostrar aos alunos como buscar ajuda, disse ela, e eliminar as barreiras que enfrentam. Mesmo em faculdades que não possuem centros de aconselhamento no campus, disse Garcia, os líderes precisam garantir que consigam conectar os alunos a recursos externos.

“Tudo se resume a como tornar a informação inescapável”, disse ela. “Precisamos comunicar mais recursos a eles. Precisamos garantir que removemos o estigma da saúde mental e do bem-estar.”

*Se você estiver passando por um momento difícil, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito e sigiloso por telefone (no número 188), por e-mail e por chat, 24 horas por dia, ou presencialmente (confira os endereços no site da entidade).

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Ensino Superior


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