NOTÍCIA
A qualidade dos processos avaliativos depende do perfil do avaliador
Publicado em 08/12/2025
Ilustração: Shutterstock
Por Rogério Dentello*
A transformação da educação superior na América Latina é marcada por mudanças profundas, que exigem novos olhares sobre o papel do avaliador e os desafios emergentes para o assegurar a qualidade. Este texto propõe uma análise integrada de experiências avaliativas, pesquisas recentes e tendências que impactam as instituições de ensino superior.
A expansão da educação a distância (EAD) destaca-se como uma das maiores mudanças na educação superior. A EAD deixou de ser alternativa para se tornar peça central, exigindo das IES novas competências institucionais e avaliativas. Paralelamente, a formação inicial e continuada dos docentes tornou-se condição essencial para a qualidade, demandando inovação metodológica e tecnológica.
A intensificação da mobilidade acadêmica e da internacionalização trazem desafios quanto ao reconhecimento de trajetórias, equivalência de diplomas e garantia de padrões de qualidade. Soma-se a isso o crescente desinteresse juvenil pela universidade, motivado pela percepção de desconexão com as demandas do mundo do trabalho e pela baixa atratividade dos currículos. O avanço das tecnologias digitais e da inteligência artificial (IA) impacta, ainda, o ensino, a gestão e os processos avaliativos, exigindo abordagens metodológicas renovadas.
Alguns desafios atuais afetam não apenas a qualidade da oferta, mas a avaliação externa e a regulação da educação superior. O fortalecimento da qualidade na educação superior exige estabelecer bases legais sólidas para EAD, avaliar o desenho instrucional e garantir suporte tecnológico adequado. Na formação docente, é essencial investir em atualização contínua, incentivar a inovação pedagógica e valorizar a pesquisa educacional.
A mobilidade acadêmica requer atratividade internacional, redução da burocracia e critérios comuns de aproveitamento de créditos. Para enfrentar o desinteresse juvenil é preciso revisar currículos e criar políticas de permanência, buscando compreender as gerações atuais e promover ambientes de aprendizagem alinhados às expectativas dos jovens. Além disso, a formação deve priorizar habilidades transversais, pensamento crítico e vínculos com o setor produtivo. Por fim, a adoção de tecnologias e inteligência artificial deve ser orientada pela ética, transparência e supervisão humana, servindo como apoio e não substituição ao julgamento profissional.
O futuro aponta para uma abordagem híbrida, em que a tecnologia apoia mas não substitui o juízo humano.
A qualidade dos processos avaliativos depende, em grande parte, do perfil do avaliador. Mais do que um técnico, o avaliador deve ser agente de integração e aprendizado institucional. Suas competências dividem-se em três blocos:
A avaliação deve ser entendida como processo de aprendizado compartilhado, não como exercício de fiscalização. O avaliador ideal exerce papel de mediador e observador atento, ajudando a construir pontes entre diferentes sistemas e culturas.
O contexto internacional exige avaliadores com competências interdisciplinares, domínio de tecnologias digitais, flexibilidade para atuar em ambientes híbridos ou virtuais e sensibilidade cultural. A empatia é fundamental para compreender múltiplos pontos de vista de gestores, professores, estudantes e técnicos, controlando possíveis vieses e evitando julgamentos prematuros.
A atuação ética do avaliador é indispensável, sobretudo diante de situações complexas e do acesso a informações sensíveis. O rigor técnico deve ser equilibrado com criatividade e sensibilidade.
As recomendações para o fortalecimento da qualidade na educação superior incluem a formação contínua de avaliadores, com ênfase em aspectos éticos, competências digitais e interculturais. Também é fundamental fortalecer a autoavaliação institucional, encarando-a como um processo de autoconhecimento e melhoria, e não apenas como uma exigência formal. A articulação entre avaliação externa e interna deve ser promovida, incentivando o diálogo e a retroalimentação entre ambos os processos. O uso estratégico de tecnologias e inteligência artificial deve ser realizado com base em normas claras e sob supervisão ética. Finalmente, é essencial consolidar uma cultura de qualidade que envolva toda a comunidade acadêmica.

foto: divulgação/Faculdade Metropolitana
A qualidade na educação superior é um projeto coletivo. O avaliador é figura-chave, cuja postura ética e sensível influencia tanto quanto padrões e protocolos. O futuro exige equilíbrio entre tradição e inovação, rigor e abertura ao novo. Assegurar a qualidade é assegurar desenvolvimento humano, social e econômico – uma missão que ultrapassa os muros das instituições e reverbera em toda a sociedade.
*Rogério Dentello é coordenador-geral de Avaliação in Loco do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).