Educação

Colunista

Luiz Cláudio Costa

Membro do Conselho Internacional do Times Higher Education e reitor do IESB

Evolução e relevância dos rankings universitários

Quando utilizados com discernimento, os rankings podem revelar oportunidades, orientar melhorias e fortalecer a reputação institucional da IES

Rankings universitários foto: Shutterstock

A busca por uma definição de qualidade no ensino superior é uma questão antiga e complexa. Afinal, como definir e mensurar a qualidade de uma IES? Durante muito tempo, essas respostas foram baseadas principalmente na reputação. Se perguntarmos a diferentes pessoas qual é a melhor universidade do mundo, é provável que Harvard, MIT ou Cambridge sejam mencionadas. Contudo, ao aprofundarmos a questão e perguntarmos por que essas instituições são consideradas as melhores, muitos terão dificuldade em responder. Isso ilustra o conceito de reputação: uma percepção social construída ao longo do tempo, que, em certo sentido, se retroalimenta.

No entanto, se buscarmos compreender de forma mais detalhada o que distingue Harvard e outras universidades renomadas, será necessário identificar indicadores objetivos que sustentem essa reputação. Essa busca é, em essência, o ponto de partida para os rankings universitários modernos.

Nos últimos anos, os rankings universitários se tornaram ferramentas amplamente utilizadas para avaliar a qualidade e a reputação das instituições de ensino superior em escala global, nacional e regional. Embora inicialmente voltados para orientar estudantes e pais, os rankings evoluíram para desempenhar um papel estratégico na gestão universitária.

 

Edição 289 | EAD: MEC e entidades definem dimensões da qualidade

 

O Início dos Rankings

Os rankings universitários começaram a tomar forma em 1910, com a publicação da Cartilha das Universidades Americanas pela Associação de Universidades Americanas. Décadas depois, em 1983, o U.S. News & World Report lançou seu ranking das universidades dos EUA, consolidando o conceito no cenário norte-americano. Entretanto, os rankings globais surgiram apenas em 2003, com o Academic Ranking of World Universities (ARWU), conhecido como Ranking de Xangai, desenvolvido na China.

A iniciativa chinesa buscava responder a uma questão fundamental: o que as melhores universidades do mundo possuíam que as instituições chinesas não tinham? Essa indagação deu origem a um conjunto de indicadores focados principalmente em pesquisa científica, como publicações em revistas de alto impacto e premiações como o Nobel.

Em 2004, surgiram o Times Higher Education Ranking e o QS World University Rankings, que propuseram um equilíbrio entre indicadores de ensino, pesquisa, internacionalização, reputação e empregabilidade. No Brasil, em 2012, foi criado o Ranking Universitário da Folha (RUF), uma iniciativa que apoiei enquanto presidente do Inep. Minha visão era de que o ranking permitiria às instituições brasileiras avaliarem seu desempenho em relação às especificidades nacionais.

 

Limitações e alternativas

Os rankings globais apresentam limitações evidentes, especialmente ao comparar instituições com missões e contextos diferentes. Por exemplo, uma universidade com foco em ensino e impacto regional não deve ser avaliada pelos mesmos critérios que instituições robustamente financiadas e orientadas para pesquisa e internacionalização.

Para mitigar essas desigualdades, surgiram rankings regionais e iniciativas inovadoras como o Impact Rankings da Times Higher Education, do qual sou membro do Conselho Internacional. Esse ranking avalia o alinhamento das instituições com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, oferecendo uma métrica mais inclusiva e sensível ao impacto social local e regional.

 

Usando rankings de forma estratégica

Embora imperfeitos, os rankings são ferramentas valiosas para a gestão estratégica das IES. Quando utilizados com discernimento, podem revelar oportunidades, orientar melhorias e fortalecer a reputação institucional. No entanto, é crucial que as universidades não se deixem guiar exclusivamente por esses instrumentos, preservando missões que não são capturadas pelos indicadores de classificação.

O futuro dos rankings depende de sua capacidade de evoluir para refletir uma visão mais ampla e inclusiva do papel das universidades no mundo contemporâneo. Somente assim poderão contribuir para a construção de um sistema educacional mais equitativo, eficiente e alinhado às necessidades globais e locais.

 

Leia também: IESB quer diferenciar egressos no mercado

 

Luiz Claudio Costa é professor titular aposentado e ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa. Foi Presidente do IREG – Observatory on Academic Ranking and Excellence (2018-2022), e é membro do Conselho Internacional do Times Higher Education (THE) Impact Rankings. Atualmente é reitor do IESB.

 

Por: Luiz Cláudio Costa | 03/12/2024


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