Ao adotar a trabalhabilidade, as IES não apenas atendem às expectativas dos estudantes, mas se posicionam como líderes em uma necessidade de transformação educacional
É essencial que as IES se adaptem para preparar seus alunos para carreiras inovadoras e conectadasA temporada de captação de 2025 já começou, e com ela surgem novos desafios e oportunidades para as instituições de ensino superior. Quando um estudante ingressa na IES, ele carrega sonhos e expectativas. Alguns buscam status, outros querem atender aos desejos da família, mas, para a maioria, o grande objetivo é claro: transformar sua vida por meio do conhecimento, exercer uma profissão, conquistar melhores empregos e crescer financeiramente.
De acordo com o Semesp, 85% dos jovens brasileiros sonham em cursar uma faculdade, e 40% indicam que o principal motivo é conseguir um emprego na área desejada. Isso revela que o ensino superior é visto como uma garantia para um futuro melhor – mas a realidade do mercado de trabalho traz desafios.
Apesar de uma recente queda na taxa de desemprego para 6,2% no trimestre encerrado em outubro de 2024, o mercado de trabalho brasileiro permanece extremamente competitivo. Além disso, o país enfrenta um problema estrutural grave: uma lacuna de qualificação. Milhares de vagas permanecem abertas porque não há profissionais capacitados para preenchê-las. Essa realidade não apenas prejudica as empresas, mas também limita o potencial de empregabilidade dos recém-formados, criando uma desconexão entre a educação oferecida e as necessidades do mercado.
Nesse contexto, as IES têm mais que a responsabilidade de formar alunos – elas precisam prepará-los para protagonizar suas carreiras. Isso exige mais do que o currículo tradicional. Uma solução? Promover ações estratégicas de trabalhabilidade.
Trabalhabilidade é o conceito que conecta a formação acadêmica às demandas reais do mercado de trabalho, desenvolvendo profissionais não apenas certificados por meio dos diplomas, mas também capazes de inovar, liderar e criar oportunidades. Ela representa uma nova abordagem educacional, voltada para transformar alunos em profissionais desejados pelo mercado e prontos para enfrentar desafios complexos.
Ao adotar a trabalhabilidade, as IES não apenas atendem às expectativas dos estudantes, mas se posicionam como líderes em uma necessidade de transformação educacional. Afinal, o futuro do ensino superior não está apenas em entregar diplomas, mas em oferecer experiências que criam diferenciais competitivos e carreiras sustentáveis.
A empregabilidade já foi suficiente, mas agora é apenas o ponto de partida. Trabalhabilidade vai além: é sobre ensinar o “como” e não apenas o “o quê”. Trata-se da capacidade do profissional de gerar valor no mercado de trabalho, seja como colaborador, empreendedor ou autônomo.
A trabalhabilidade é um conceito que integra o desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais, alinhadas às exigências de um mercado em constante transformação. Esse conceito enfatiza a importância da autonomia e da capacidade de adaptação como pilares fundamentais para atender às demandas emergentes, ou como afirma Rosa R. Krausz (2017), “(…) adquirir e desenvolver competências e habilidades que apresentam um real valor no momento, aprofundar o autoconhecimento, aperfeiçoar a capacidade de atuar em parceria, de assumir posições de liderança, de maximizar o aproveitamento do potencial dos indivíduos e dos grupos, de trabalhar sob pressão ou em situações de ambiguidade, contudo, sem perder de vista os resultados a serem alcançados.”
Mais do que isso, é o processo de tornar os sujeitos economicamente ativos utilizando seus conhecimentos de maneira estratégica e sustentável. Em um mercado cada vez mais competitivo, o diferencial é como os profissionais conseguem traduzir sua formação em impacto concreto. É sobre como tornamos nossos alunos mais “atraentes” para o mercado de trabalho. Nanodegrees (nanocertificados), experiências práticas, competências comportamentais, imersões profissionais e projetos reais são algumas das ferramentas essenciais para potencializar a formação e criar diferenciais competitivos que realmente chamam a atenção dos recrutadores e das empresas.
Para entender a importância disso, basta imaginar o seguinte cenário: um aluno está em uma entrevista de emprego. O recrutador perguntou: “Qual é o seu diferencial?”. Ele responde: “Assisti a lives e palestras durante a graduação” . Isso não impressiona. Agora, imagine que ele diga: “Participei de uma mentoria com um executivo da área, onde aprendi estratégias de gestão para pequenas empresas e apliquei isso em um projeto real, reduzindo custos em 20%.”
Essa é uma transformação que a trabalhabilidade proporciona: de alunos que “aprenderam” para profissionais que “realizaram”. Trabalhabilidade é sobre preparar os alunos para narrar suas experiências de maneira concreta e impactante, conectando teoria e prática, e, acima de tudo, mostrando resultados tangíveis e alinhados às demandas do mercado.
Essa é a pergunta que todo professor ou gestor de IES deve se fazer ao planejar suas atividades formativas: o que meu estudante terá para contar em uma entrevista de emprego?
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Em um mundo em que a transformação digital, a colaboração global e a economia criativa moldam o futuro do trabalho, é essencial que as IES se adaptem para preparar seus alunos para carreiras inovadoras e conectadas. Veja como atualizar práticas tradicionais para refletir as demandas do mercado e tendências emergentes:
Essas mudanças transformam um simples “assisti a palestras” em “colaborei com uma empresa para solucionar um desafio real, desenvolvendo habilidades práticas de resolução de problemas”. São histórias como essa que diferenciam seus alunos.
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Adotar a trabalhabilidade como estratégia central vai além de beneficiar os alunos individualmente. Ela transforma a identidade e o posicionamento estratégico da IES, conectando-a diretamente às demandas do mercado e às expectativas da sociedade. Os resultados são claros e impactantes.
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O mercado não busca apenas profissionais que saibam – busca quem faz, quem inova, quem entrega valor. A trabalhabilidade desafia as instituições a repensarem suas práticas e a superarem o modelo tradicional de ensino. Ela exige a criação de um ecossistema que não só prepare os alunos para conseguir empregos, mas os capacite a liderar mudanças, criar soluções e gerar impacto positivo.
Como professores e gestores, precisamos voltar à pergunta fundamental: o que nossos alunos têm para contar? Se a resposta ainda é tímida, limitada a experiências comuns, então a hora de agir é agora. Trabalhabilidade não é uma tendência passageira – é a base para uma educação transformadora, alinhada à nova economia do mundo trabalho e às demandas emergentes.
Por: Thuinie Daros | 16/12/2024