NOTÍCIA
Artigo defende a confluência dos conhecimentos indígenas e ocidentais para fazer frente à crise climática e à da biodiversidade
Publicado em 19/12/2024
Pouco a pouco, o mundo acadêmico acorda para o conhecimento dos povos indígenas brasileiros. O interesse tem sido demonstrado, nos últimos anos, por meio das honrosas presenças de Ailton Krenak e David Kopenawa nas universidades. Eles acumulam títulos honoríficos, horas de aulas magnas, palestras, além de seminários pelo mundo afora. Essa produção de conhecimento que existe há séculos empurra a fronteira entre o que é ou não científico. O debate se arrasta e pode atrasar a compreensão e o encontro de soluções para a crise climática que assombra pessoas em todo o planeta.
Por isso, uma das melhores notícias deste final de ano para a pesquisa brasileira foi a publicação, dia 12, do artigo “Indigenizing conservation science for a sustainable Amazon” na revista científica norte-americana Science. Assinam o artigo pesquisadores indígenas amazônicos dos povos Tuyuka, Tukano, Bará, Baniwa e Sateré-Mawé, em parceria com não indígenas vinculados a projeto do Brazil LAB, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e à do Amazonas (Ufam). Eles defendem que os diálogos entre os sistemas ocidentais e indígenas são essenciais.
Justino Sarmento, um dos autores, comenta a superação necessária para se frear o desequilíbrio ambiental, em entrevista para a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). “É preciso a superação dessa compreensão ciência-natureza, cultura-natureza. Enquanto os seres humanos entenderem que os outros seres são matéria, que não pensam como nós, humanos, isso [o desequilíbrio ambiental] vai continuar existindo. Os indígenas têm outra visão.”
Também à EBC, Carolina Levis, outra autora do artigo e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aponta que o diálogo é fundamental e “não existe uma só saída”. Para enfrentar o complexo e sério problema da emergência climática e da crise da biodiversidade, ela diz, é preciso “múltiplas ciências”.
Conforme texto do artigo, “como a maior e mais preservada floresta tropical do planeta, a Amazônia é um terreno altamente fértil para promover o diálogo entre as ciências ocidentais e indígenas. A Amazônia armazena entre 150 e 200 bilhões de toneladas de carbono em seu solo e vegetação e abriga mais de 410 grupos étnicos indígenas distintos que detêm direitos territoriais sobre 27% da região. Esses diversos povos desenvolveram um profundo conhecimento ecológico da dinâmica florestal e contribuíram para ecologias florestais sustentáveis por mais de 12.000 anos. A rede existente de territórios indígenas reflete a resiliência dos povos indígenas sobreviventes após séculos de genocídio e epistemicídio.”
Na conclusão, os autores destacam:
“O exame de elementos e relações enraizados na teoria e na prática dos povos indígenas e sua colaboração com pesquisas e ações voltadas para a conservação oferecem um conjunto maior de ferramentas e um conjunto de práticas potencialmente mais eficazes para um gerenciamento verdadeiramente sustentável. É fundamental abordar essa colaboração com respeito aos princípios indígenas, garantindo uma troca mútua que possa aprimorar ambos os sistemas de conhecimento sem comprometer seus valores fundamentais.”
Conheça o nome de todos os autores e o artigo na íntegra: Indigenizing conservation science for a sustainable Amazon
O reconhecimento interno da produção científica indígena também veio, no mesmo dia 12, na entrega do Prêmio Capes de Tese. Rafael Xucuru-Kariri, do povo Xucuru-Kariri, de Alagoas, foi o primeiro pesquisador indígena a vencer na categoria Grande Prêmio Lélia Gonzalez, referente ao Colégio de Humanidades.
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rafael Xucuru-Kariri é autor de Retomar o Brasil: um estudo das cartas escritas pelos povos indígenas nos últimos 50 anos. A pesquisa traz cerca de mil cartas indígenas do período de 1972 a 2022, seus autores, a quem são destinadas, o assunto e os contextos em que foram escritas.
Em seu perfil nas redes sociais, Rafael conta que “ao longo deste estudo, busquei em diferentes contextos políticos as expressões, ideias e conceitos por meio dos quais nós, povos indígenas, interpretamos nossa relação com o país. Isso implicou em analisar a própria história recente do Brasil a partir de perspectivas presentes nos discursos indígenas e na nossa maneira de contar essa mesma história.”
Conheça a pesquisa de Rafael Xucuru-Kariri: Retomar o Brasil: um estudo das cartas escritas pelos povos indígenas nos últimos 50 anos
*Com Agência Brasil
_ _ _
A décima edição da cerimônia de premiação do Q1, na Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), celebrou o trabalho de mais de cem pesquisadores vinculados aos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da universidade. O evento é realizado pela Diretoria de Pesquisa da PUCPR e reconhece os docentes pela produção científica qualificada e de impacto internacional publicada em 2024, com destaque para as publicações em periódicos classificados como Q1 pelo Scimago Journal & Country Rank.
A PUCPR se posiciona entre as 15 universidades do país com citações acima da média mundial, de acordo com o Relatório Elsevier-Agência Bori de 2024). A pesquisa está orientada aos ODS da ONU, no quesito impacto social, de acordo com Paula Trevilatto, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação. Em 2024, a PUCPR configurou como a 5ª instituição de ensino e pesquisa do país em qualidade de pesquisa, entre públicas e privadas, no levantamento mundial Times Higher Education World University Rankings.
Audrey Tieko Tsunoda, professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde, é autora do artigo de maior fator de impacto entre todas as publicações consideradas no Q1 2024 – “Quality indicators for evaluating cancer care in low-income and middle-income country settings: a multinational modified Delphi study”, na The Lancet Oncology.