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NOTÍCIA

Formação

IES preparam profissional para mercado de moda

Graduações da área apostam forte em desfile e outras experiências práticas para enriquecer a formação

Publicado em 06/10/2025

por Luciana Alvarez

Senac e SP Fashion Week No Senac São Paulo, a parceria com a São Paulo Fashion Week movimenta dezenas de unidades dos cursos da área de moda (foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite)

Em 2024, com faturamento de R$ 212,6 bilhões, o segmento têxtil e de confecção registrou crescimento de 4,8% na produção em relação ao mesmo período de 2023, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). O setor emprega diretamente 1,3 milhão de pessoas no país. Os dados colocam a indústria têxtil e de confecção brasileira como a quinta maior do mundo. Para 2025, a Abit projeta um crescimento de 1,2% em toda a cadeia.

As IES assumem o compromisso de formar profissionais para o setor. Concursos, desfiles e projetos com a comunidade têm sido as estratégias recentes adotadas por cursos de moda para levar aos estudantes vivências significativas na graduação. As experiências práticas feitas com orientação e tempo para reflexão permitem que cada um desenvolva capacidade de pensamento crítico, criatividade e colaboração.

No Senac São Paulo, a parceria com a São Paulo Fashion Week movimenta dezenas de unidades dos cursos da área de moda – o que inclui o técnico em produção de moda, o bacharelado presencial de design em moda e o tecnológico em EAD de design de moda –  e os cursos livres de maquiagem e cabelo. Estão incluídos ainda estudantes do curso superior de fotografia.

 

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São entre 100 e 200 estudantes do Senac a cada edição; no ensino superior, cada turma recebe uma “cota” e eles próprios decidem quem vai participar. “Os alunos de EAD normalmente vêm de longe. Então, eles participam de um dia só: fazem uma visita guiada, conhecem os bastidores, veem o ensaio, o desfile, e conversam com os estilistas”, conta Karina Bottini Pierri Takamura, coordenadora de Moda e Beleza do Senac São Paulo. Os alunos do bacharelado, por serem da capital, acabam indo todos os dias e põem a mão na massa, atuando nos bastidores para ajudar a vestir modelos e fazer finalização das peças.

Em todos os momentos, eles estão acompanhados por professores para que a experiência seja de fato pedagógica. “Quem os orienta é a pessoa do evento, mas o professor fica para dar suporte. Às vezes, o aluno diz que não sabe fazer exatamente o que foi pedido, e o professor ajuda nessa hora. Ele fica de mediador”, explica a coordenadora.

E o impacto não é só na semana do desfile: antes e depois, a SPFW acaba sendo uma forma de incentivar o contato com práticas reais. Para entrarem no programa, os alunos do técnico, por exemplo, mandam currículo e fazem uma entrevista. “Quando a gente fala sobre a seleção (para a SPFW), eles passam por um processo de montar um portfólio, aprendem como se comportar numa entrevista”, cita Karina. Depois, cada um é incentivado a compartilhar com os colegas suas impressões.

A SPFW não é a única experiência prática dos estudantes de moda do Senac. Há projetos com marcas parceiras e participação de alunos na Casa de Criadores; neste último, alguns alunos são selecionados e produzem peças de uma coleção autoral no desfile.

 

Ética, glamour e extensão

O bacharelado em Moda, de quatro anos, do Centro Universitário Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), faz seu próprio concurso de moda, o Concurso FAAP Moda, atualmente o maior do país entre os concursos estudantis. A premiação existe há 20 anos, desde a época em que o curso da FAAP era um tecnológico de dois anos de duração. Diferentemente de uma apresentação de TCC, alunos de todos os semestres podem se inscrever para serem selecionados por um júri.

FAAP Moda

Centro Universitário Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), faz seu próprio concurso de moda, o Concurso FAAP Moda (foto: Fernando Silveira/FAAP)

Em cada etapa do concurso, o aluno é orientado a se desenvolver ao máximo. Porém, a experiência é importante até para quem se inscreve e acaba não sendo selecionado. “A gente aproveita o concurso para trabalhar questões éticas, respeito aos outros profissionais e colegas. Quem não é selecionado também pode conversar com os professores, entender o que ainda está faltando desenvolver”, explica a coordenadora do curso, Maíra Zimmermann.

A existência de um concurso tão desejado acaba ajudando a construir também habilidades socioemocionais importantes para a vida, como a resiliência. “Temos um perfil de alunas muito perfeccionistas e, por mais que seja difícil uma negativa, lidar com ela acaba sendo uma preparação para o mercado”, diz a coordenadora.

 

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Renata Paternostro, uma das organizadoras e idealizadoras do FAAP Moda, concebe o  evento como uma ponte importante com o mercado de trabalho. As conexões vão acontecendo durante o processo. “A gente convida pessoas do mundo da moda, faz reuniões para entender todo o processo, de maquiador a casting, som e luz”, explica. Mas, muitas vezes, elas continuam também depois do desfile. “As marcas olham nosso desfile e sempre me pedem contatos”, garante.

Além do glamour das passarelas, a instituição oferece outras atividades práticas em que os estudantes se conectam diretamente com a comunidade não universitária. Já houve um projeto de capacitação com mulheres bolivianas, trabalhos com mulheres em situação de vulnerabilidade, palestras abertas sobre moda. “Nesses projetos, o protagonismo é dos alunos; são eles que ensinam, que organizam os eventos. Trazem também uma vivência de outras relações entre moda e sociedade”, diz Maíra.

 

Derivas paulistanas

Alunos Santa Marcelina

Alunos da Faculdade Santa Marcelina (foto: divulgação)

Embora seja o glamour um dos pontos que atraem estudantes para cursos de moda, professores e coordenadores oferecem atividades mais pé no chão, logo nos primeiros semestres. Na faculdade Santa Marcelina, no primeiro semestre, os jovens são desafiados no “Derivas paulistanas” a um reconhecimento do próprio território. “Eles se dividem em grupos e saem pela cidade para trabalhar o desenho de observação, fotografias e até uma certa etnografia. A ideia é fazer uma aproximação das pessoas com a cidade e depois traduzir essa experiência, na aula de modelagem experimental, em formas”, conta Simone Mina, coordenadora do curso.

O bacharelado em moda da Santa Marcelina, de oito semestres, vem de um curso mais antigo, o desenho e moda, e aposta muito em atividades mão na massa. São vários ateliês diferentes, como de gravura, serigrafia, fotografia, que ficam à disposição dos alunos de manhã à noite, com monitores, para que possam fazer a “travessia” da imaginação para um objeto concreto, um produto. Há ainda a preocupação de que essas produções dialoguem com as necessidades e desejos da sociedade.

Há, por exemplo, uma parceria com uma rede de mobiliário, que vai à faculdade, apresenta um briefing das tendências do momento e, nas aulas de estamparia, os estudantes desenvolvem um projeto de moda casa. “Outro projeto importante, que já está na 11a edição, é uma parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Tudo começou com fazer lenços, mas logo se ampliou. Os estudantes vão ao hospital, conversam com os pacientes para saber do que eles gostam, que tipo de roupa precisam e fazem um modelo exclusivo, em que o paciente vai ser o modelo do desfile.  É uma forma de entender a moda, o poder que tem, para além de estudar formas e cores”, afirma Simone.

 

Do luxo às massas

O Brasil é um dos poucos lugares do mundo em que a cadeia da moda inteira está presente, ressalta Valeska Nakad, coordenadora da graduação de design de moda da Belas Artes, cujo curso visa uma preparação “holística”, para todas as pontas do processo.

A matriz curricular atualizada anda lado a lado com experiências práticas. Como a faculdade está num shopping center, é como ter um laboratório o tempo todo à disposição. “Fizemos parceria com uma marca e os alunos desenvolveram peças para ela. Dependendo do que estão estudando, vão conversar com as vendedoras. Se estudam luxo, visitam as lojas de luxo; se o tema é o mercado de massa, também têm os exemplos aqui”, cita Valeska. Os alunos também já fizeram exposições de trabalhos no átrio do shopping.

Produto, preço, praça (ponto de venda/ gestão de varejo), pessoas, e apresentação: tudo é estudado e visto na prática e a partir dos projetos. “Nos projetos, eles não trabalham com nada muito fictício.  Eles veem a realidade do mercado de trabalho, têm contato com profissionais, passam pelo processo desde o conceito até o descarte. Queremos um olhar estratégico”, diz a coordenadora.

 

Leque de oportunidades

Da fantasia para as escolas de samba ao design de sapatos, passando pela gestão de empresas da área: formar profissionais prontos para atuar em vários pontos da cadeia da moda é também o objetivo do curso de graduação em design de moda do IED-SP (Istituto Europeo di Design). “Antes, o perfil de saída do egresso era pensando que ele fosse se tornar um designer autoral, dentro do nicho dos estilistas. Mas a gente percebeu que isso não refletia o que todos os estudantes queriam de fato. Havia estudante que terminava o curso e ia abrir marca de joias”, afirma Antonio Slusarz, coordenador do curso.

 

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A cada semestre, o bacharelado tem um projeto, com a obrigatoriedade de entregar um produto final. Os estudantes vão passando por todas as vertentes até escolher no que desejam se aprofundar. Como projeto final, o estudante escolhe entre caminhos como desenho de peças de moda, figurino, performance, projeto de gestão e produção de artefatos.

Entretanto, uma coleção autoral continua sendo uma experiência de interesse e pela qual todos devem passar. “Temos um projeto de coleção; cada estudante entrega de cinco a sete looks e eles fazem um desfile da turma. São os estudantes que organizam tudo, da trilha sonora à maquiagem, além de pensar no cronograma”, diz o coordenador.

Para ele, essa experiência prática do desfile é relevante também para as famílias. “Por mais que seja visto como um campo glamouroso, nem todas as famílias entendem a opção pela moda e preferiam ver os filhos em cursos mais tradicionais. Mas no momento em que veem a apresentação das roupas prontas, de um produto que desperta um desejo, é realmente um marco de aceitação”, conta Slusarz.

Autor

Luciana Alvarez


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