Durante dois anos os gestores tiveram encontros com empresários e executivos de todas as áreas do mercado. Aí nasceram as profundas mudanças no currículo
Publicado em 30/09/2020
O Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – Ibmec nasceu no Rio de Janeiro, em 1970, como um nicho de educação que um grupo idealizou para fornecer mão de obra para a área que então estava deslanchando no Brasil, mas apenas com o MBA de finanças. O Ibmec começou quando se iniciava o processo de abertura de dezenas de instituições de ensino particulares no Brasil que veio resultar num setor que recebe 75% dos alunos do ensino superior. Cinquenta anos depois, o Ibmec mudou: são 9.000 alunos distribuídos entre Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, neste caso apenas MBA. É uma escola com ticket mais alto e pertence a um grupo de investidores.
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Mirando o futuro, iniciaram-se debates com as lideranças acadêmicas. Havia uma certeza: era urgente a mudança do currículo, para dar um salto de qualidade na formação dos jovens. Havia dúvidas sobre se os alunos formados estariam capacitados para enfrentar esse novo mundo do trabalho, se teriam chances de ser protagonistas em suas áreas. Priscila Simões, diretora de ensino, que coordenou esse trabalho, diz que a reformulação do currículo em si não é novidade, todo ano as IES revisitam seus cursos para avaliar mudanças. Mas isso fica restrito ao grupo interno, normalmente pequeno.
“Nós resolvemos dar um passo mais ousado. Desde 2019, realizamos eventos com as pessoas de destaque de cada setor”, diz Priscila Simões. No ano passado foram todos presenciais, mas em 2020 foram realizados dois encontros virtuais com 70 personalidades do mundo jurídico, juízes, desembargadores, advogados especializados, jurídico de empresas particulares e públicas, um contingente de especialistas, mas que cobria todo o espectro daquela graduação.
E então o Ibmec resolveu cocriar todos os cursos, resgatar o propósito de sua criação, que era manter uma relação estreita com o mundo do trabalho. Nos eventos foram criadas dinâmicas para buscar as informações desejadas: quais habilidades e competências o mercado pede nos dias de hoje. Recolhidas as informações, voltou-se à prancheta para, aí sim, redesenhar os cursos. Partiu-se do pressuposto de que normalmente as pessoas são desligadas do seu trabalho não por falta de conhecimento, mas por questões socioemocionais, então foi idealizado um software proprietário para ajudar na implantação dessas habilidades.
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A formação socioemocional, segundo Priscila Simões, não é uma preocupação das faculdades, normalmente. “Para nós autoconhecimento e empatia são fundamentais para enfrentar as questões que o mundo de um modo geral pede. Foi então que elegemos quatro pontos para trabalharmos, que são, adaptabilidade, empatia, visão e centralidade (autoconhecimento)”.
Adaptabilidade estimula a criatividade para novas ideias, enquanto na empatia avalia-se a capacidade de interagir e atuar em grupo. Visão é a leitura de cenários, compreensão das circunstâncias e ter atuação estratégica. A centralidade vem a ser controle emocional, resiliência e autoestima. Esses são os pontos nos quais estão ancoradas as ações de todas as unidades do Ibmec.
Embora tenha sido um trabalho de grande envergadura, o projeto, denominado Sócrates, mobilizou todas as áreas do Ibmec, convidados que foram dar seu depoimento, sem custo. Apenas a Cia. de Talentos trabalhou remuneradamente. E a pesquisa disponibilizada apontou que 60% dos jovens querem um emprego com propósito que os faça felizes, enquanto 40% estão mais preocupados com um trabalho que ofereça uma vida estável e confortável.
Até o nome do projeto foi escolhido por ser adequado ao que o Ibmec busca para seus alunos. Projeto Sócrates, do filósofo grego que nasceu em 469 a.C. e que usava uma ferramenta de ensino peculiar que encorajava a compreensão clara e fundamental do assunto estudado. Nas palavras de Priscila Simões, “pressuposto de que o aprendizado depende da participação do aluno, que ele traga a resposta ao problema, ao ser instigado”. E também considerou que os docentes começassem a usar intensivamente metodologias ativas de ensino.
“Quando se começou esse projeto, em agosto de 2018, a pergunta que fizemos foi que alunos estaríamos formando, levando em conta que as pessoas não são mais recompensadas pelo seu conhecimento, e sim pelo que podem fazer com o que sabem, como se comportam e como se adaptam. De posse disso, a palavra que norteia o ensino é “formar líderes para o Brasil e protagonistas para o mundo”, diz Priscila Simões.
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Entusiasmo é como se pode definir o sentimento dos líderes desse projeto, que foi sendo implantado aos poucos. O primeiro, um piloto, na verdade, foi o curso de Relações Internacionais. Foi constatado que a evasão diminuiu do primeiro para o segundo semestre, o que foi considerado como indício de que esse era o caminho. Aí passou-se para Administração, Economia e Direito. Essa mesma reformulação se aplicou aos cursos de Negócios, Projetos, Finanças, RH e Marketing. Mas também os MBAs tiveram de ser enquadrados nesses novos valores.
O que sempre se buscou no Ibmec foi como ficar ligado ao mercado, até pela sua origem, mas também para não perder a relevância para os jovens que pensam hoje muito diferente de quando os cursos foram criados, ainda que nesse período tenham sido feitas mudanças cosméticas. “Como inovar para ser relevante, essa foi sempre a questão”, diz Priscila Simões. As empresas identificavam um descompasso entre a formação e suas reais demandas. Mas tratava-se de observações que não eram aprofundadas.
Os encontros realizados pelo Ibmec não foram eventos de congraçamento. Foram criadas dinâmicas para extrair dos participantes o que realmente sentiam quando o jovem começava seu trabalho. Então só tinha um caminho: a cocriação. A academia, que sempre estabeleceu os parâmetros do ensino, passou a ouvir de fato o mercado. E no paradigma de criação estritamente acadêmico transformou-se nessa nova junção: academia e empresas. E no paradigma da didática antes centrada no professor, que fazia sua preleção, agora ficou centrado no aluno com as vivências e aprendizagem ativa. E finalmente o paradigma do que ensinar: o que antes era só conhecimento passou a ser conhecimento com habilidades e atitudes.
O Ibmec nesses seus 50 anos criou mecanismos de participação no mercado de forma a estar sempre atualizado. “A gente tem certeza: quem não tiver essencialidade corre o risco de desaparecer logo. É por isso que o orgulho tomou conta de todos que participaram do projeto Sócrates. Estamos preparados no presente para garantir a continuidade”, finaliza Priscila Simões.
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