NOTÍCIA
As instituições de ensino superior desempenham um papel primordial na formação de jovens profissionais, que deverão estar preparados para um mundo globalizado, interconectado, interdependente e em constante mudança
Publicado em 09/01/2020
Por Lourdes zilberberg*
Nos primórdios da 4a revolução industrial, são muitos os desafios que o ensino superior enfrenta em nível global. Um deles é o crescimento da economia do conhecimento, também chamada de inovação, na qual a base do desenvolvimento é a expertise e a análise de dados destinados à melhoria contínua dos produtos e serviços, produzindo valor por meio da criatividade.
Diante desse cenário, as instituições de ensino superior (IES) desempenham um papel primordial na formação de jovens profissionais, que deverão estar preparados para um mundo globalizado, interconectado, interdependente e em constante mudança.
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Além disso, as IES devem contribuir para o desenvolvimento do sistema de ciência e de tecnologia do país, fomentando a pesquisa em uma relação tripartite – ou seja, governo, setor produtivo e sistema de ensino superior –, além de se integrar a outros sistemas, promovendo redes de cooperação para a geração de conhecimento.
Outro desafio que predominará durante os próximos anos é a questão da massificação do ensino superior que, em suas origens, era de elite e que passou a ser de massa devido ao aumento da demanda. Desta forma, o principal objetivo das políticas educativas tem sido facilitar o acesso dos alunos tradicionalmente excluídos do sistema e de promover a inclusão, por meio do acompanhamento do discente, a fim de evitar sua evasão.
O primeiro sistema de ensino superior de massa foi estabelecido nos Estados Unidos, nos anos 1920. Atualmente, em todas as regiões do mundo, a procura pelo ensino terciário tem se intensificado. Entre 1995 e 2011, a porcentagem de estudantes (em idade universitária) matriculados passou de 15% para 30%, segundo um estudo de Simon Marginson.
É evidente que a questão da massificação leva a repensar a estrutura do ensino superior e traz consigo discussões sobre as fontes de financiamento e o rol do Estado no subsídio à educação. Contudo, a tendência internacional é de redução desse subsídio, introduzindo taxas e mensalidades onde não há e criando novas taxas ou aumentando as já existentes nos sistemas em que o ensino já é pago, como afirma a especialista Katherine Punteney.
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Esta situação tem forçado as instituições a procurar por novas fontes de financiamento. Isto acontece em países como os Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, e nos MESCs – Main English Speaking Countries (principais países de destino de idioma inglês) em que haverá uma maior procura por alunos no exterior, pois eles pagam matrículas e mensalidades diferenciadas. Com toda essa concorrência, alguns autores referem-se aos efeitos negativos da comercialização do ensino superior, que passa a ser uma espécie de commodity.
Soma-se a essa questão a preponderância dos MESCs e dos países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico na geopolítica do conhecimento e na mobilidade internacional de estudantes, pois eles são os principais provedores do serviço educativo. Entretanto, as nações em desenvolvimento são os principais consumidores, com pouquíssimas exceções (como a República Popular da China, um dos países que mais enviam e recebem alunos).
Desta forma, em 2018, mais de 5 milhões de pessoas estudaram no exterior – segundo o Institute of International Education – sendo que os países que mais receberam estudantes foram: EUA, Reino Unido, China, Austrália e França. Ainda assim, a região que mais envia é, de longe, a asiática.
Sem dúvidas, a internacionalização tem sido um dos acontecimentos mais marcantes do ensino terciário. Trata-se do “processo de integrar as dimensões internacional, intercultural e global no propósito, função e provisão de ensino superior”, como pontuou a pesquisadora Jane Knight. Consiste em um esforço constante, que deve permear por todas as estruturas da IES e tem de ser compreensivo, um compromisso transformado em ação.
Assim sendo, as universidades passaram a ser os principais agentes da educação internacional, promovendo acordos de cooperação e ofertando programas em nível transnacional, além de desenvolver a internacionalização do campus (internationalization at home).
Nesse contexto de internacionalização e de comercialização do ensino superior existe uma atenção cada vez maior com os rankings internacionais que, devido à sua crescente importância, passaram a ser usados como referência para avaliar a qualidade das instituições.
Portanto, as IES passaram a se preocupar em aparecer nessas listas, que priorizam a pesquisa em detrimento do ensino. Tudo isso tem a ver com outra preocupação, que ainda persiste: a administração do mencionado anteriormente, sem perder de vista a qualidade do ensino e a formação do aluno, que deve estar sempre no centro do processo.
*Lourdes Zilberberg é diretora de internacionalização da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP).
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