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Formação

Cidadania em xeque: falta de qualificação profissional na juventude compromete desenvolvimento do país

Especialistas apontam problemas na formação profissional dos jovens; secretária executiva de educação integral e profissional de Pernambuco, Maria Medeiros, fala de iniciativa do estado para o amparo da juventude no ensino técnico

Publicado em 19/08/2022

por Gustavo Lima

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Na manhã desta sexta-feira, 19 de agosto, números alarmantes se tornam base para a discussão: será que o ensino técnico foi redescoberto no Brasil? Dando início ao painel sobre o tema, a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue, é direta: “não tem saída, temos que olhar para a rede pública”. O fato é que 88,8% dos jovens brasileiros matriculados no ensino médio estão nas escolas públicas – prova de que um olhar para essas escolas é mais do que urgente.

Leia: Olhar social é a base para investimentos na educação

Apesar de um aumento significativo de jovens matriculados no ensino superior entre os anos 2000 e 2015 (cerca de 70% em relação a 2001), a expansão não foi o suficiente para atender a todos. Atualmente, na faixa dos 18 aos 24 anos, 80% dos jovens encontram-se fora das instituições de ensino superior, principais responsáveis por encaminhá-los ao mercado de trabalho. A taxa de desemprego na juventude representa 19,3%, mais do que o dobro do percentual entre a população ativa (equivalente a 9,3%).

Cerca de 15 milhões de jovens vão direto para o mundo do trabalho e, na maior parte, sem nenhuma qualificação. Ana Inoue também chama a atenção para uma outra questão: falta uma política dedicada à juventude que não ingressa nas universidades. 

Painel aconteceu no último dia do GEE 2022

Vantagem do bônus demográfico

Ana explica que o Brasil ainda possui mais jovens do que idosos, o que ela aponta como uma ‘vantagem do bônus demográfico’. “Se a gente ainda cuidar da nossa juventude, formá-la e dar condições para que ela se desenvolva, eles [os jovens] serão os adultos que tomarão conta do Brasil”, explica. Esse cuidado, entretanto, deve começar o quanto antes. Uma vez analisado o status atual da juventude, pode-se observar: 

  • Jovens fora da escola;
  • Jovens em empregos informais ou desempregados;
  • Jovens sem qualificação;
  • Jovens com risco de queda de renda futura.

Ao colocar em pauta uma mudança para esse cenário, a superintendente propõe a reflexão de quais jovens e de que futuro estamos falando?. “A escola pública não está sendo tratada com o devido respeito”, critica.

Leia: Comunidade ao redor da escola é ferramenta poderosa de transformação

De acordo com o Relatório Fórum Econômico Mundial de 2021, o Brasil ocupa a 71ª posição no ranking de competitividade. A falta de jovens qualificados para o mercado de trabalho é um dos fatores que levam a essa classificação e o documento coloca a formação profissional como uma das recomendações para o pós-pandemia.

“A falta de investimento nas juventudes custa muito caro para o país. Cada ano de evasão escolar custa R$ 220 bilhões para o Brasil”, ressalta. “Se não entendermos que esse investimento precisa ser feito agora, a gente está comprometendo o futuro do país”, completa.

Caminhos para a profissionalização

A evasão não é alta apenas nas instituições de ensino superior, o ensino técnico também é marcado pela baixa presença da juventude. Muito dessa falta se deve ao preconceito que a sociedade possui do modelo, mas Ana Inoue pontua que o ensino técnico é apenas uma etapa para algo maior.

“A educação profissional do século 21 precisa ser emancipatória. É apenas uma etapa no desenvolvimento profissional das pessoas. Se houve um momento em que era [vista como] um beco sem saída ou fim da linha, hoje ela é o começo da linha.”

Cleunice Rehem, diretora-presidente da Brasiltec, enfatiza o cenário de que “convivemos com um número muito baixo de estudantes no ensino técnico”. Ela afirma que os números são baixos tanto para o número de jovens presentes no Brasil quanto em relação à meta estabelecida pelo PNE (Plano Nacional de Educação).

A meta em questão estabelece mais de 3 milhões de matrículas e, hoje, possui cerca de 2 milhões. “Precisamos elevar em 80%. O que os profissionais das empresas anunciam é que há um previsível apagão de mão de obra técnica no Brasil nos próximos anos”, alerta.

Leia também: Instabilidade no MEC provoca atraso no novo Enem

Esperança

Apesar da drástica situação, Cleunice traz uma lista de razões pelas quais acredita ser possível ter esperança. Entre elas ações assertivas por alguns estados para a ampliação das ofertas de cursos técnicos; testes promovidos pela Setec/MEC para que o jovem descubra as suas vocações; estímulos e fomento pelo CNE para inovações na formação dos professores para a EPT; redes privadas investindo na ampliação das ofertas de ensino técnico; entre outras.

A secretária executiva de educação integral e profissional de Pernambuco, Maria Medeiros, também esteve presente no painel e contou sobre a política pública de educação profissional do estado – que coloca em prática um dos pontos de esperança levantados pela representante da Brasiltec. Em 2022, a pasta completa 13 anos.

“Isso significa que há 13 anos o governo do estado de Pernambuco tomou a decisão estratégica de trazer a oferta da educação profissional da pasta da Secretaria de Ciência e Tecnologia para a pasta da Secretaria de Educação e Esportes”, explica Maria Medeiros.

Segundo Maria, Pernambuco entende que o tempo integral é uma estratégia para materializar uma formação integral que busca trazer o jovem e seu projeto de vida para o centro das práticas educativas. “Quando se começa a dialogar educação integral com educação profissional, ganhamos potência no processo de expansão e oferta”, garante. O estado do nordeste brasileiro conta hoje com 58 escolas técnicas e duas em construção. 

A íntegra do painel poderá ser vista em nosso canal do YouTube: clique aqui.

Autor

Gustavo Lima


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