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“O ensino superior não morreu, mas está desafiado”

Professores youtubers não vão substituir a educação formal, alerta o professor e historiador Leandro Karnal. Mas o modelo de ensino precisa ser reformulado

Publicado em 26/09/2019

por Marina Kuzuyabu

karnal-fnesp O professor abriu o 21º Fnesp (foto: Laura Rachid)

O ensino superior está sob questionamento, mas ele não vai deixar de existir, acredita o historiador Leandro Karnal, que abriu a programação do 21º Fnesp, realizado pelo Semesp.

Na visão do professor da Unicamp, a concepção educacional dominante no século 20 foi aniquilada pela tecnologia e pelas profundas transformações sociais, que enalteceram o individualismo. “O mundo começa e termina comigo. Esse é um padrão muito atual”, disse o professor.

Esse individualismo, que muitas vezes se manifesta com uma indiferença às tradições, ao conhecimento acumulado pelos professores, levou ao questionamento de muitas coisas, incluindo a importância do diploma de ensino superior.

Leia: Leandro Karnal: “a universidade ainda não foi superada”

“Tem gente que fala que o saber está na internet, que a universidade morreu. O que acontece é que o ensino superior não morreu, mas está sendo desafiado”, declarou.

ensino superior
O professor abriu o 21º Fnesp (foto: Laura Rachid)

As mudanças necessárias

Entre tantos aspectos que precisam ser repensados, Karnal destacou o tempo em sala de aula, geralmente de quatro anos. Considerando que a atenção dos alunos dura apenas quatro minutos, esse período de quatro horas precisa ser revisto, alertou.

O excesso de conteúdos é outro problema. Citando mudanças feitas recentemente no currículo do curso de História da Unicamp, onde leciona, Karnal mencionou que muitas instituições estão acrescentando novos temas de estudo, sem que haja um aumento da carga horária. “O excesso é um drama.”

A maneira tradicional de ensinar, que preza a memorização de conteúdos, precisa igualmente ser abandonada. “A escola é quase profissional em eliminar a curiosidade. A escola pega uma coisa extraordinária e a transforma em algo ruim”, disse se referindo à maneira como os professores tradicionalmente ensinam Machado de Assis.

Gestores educacionais

Se referindo diretamente aos gestores educacionais, reitores, administradores e demais dirigentes, o historiador lembrou que o mais importante para as IES neste momento é definir uma filosofia educacional e, principalmente, praticá-la. “O que caracteriza um projeto sólido não é a quantidade de aparelhos”, alertou Karnal ao se referindo à confusão feita por muitos gestores, que acreditam que a simples aquisição de aparelhos tecnológicos alinha automaticamente a IES às demandas contemporâneas.

“O Brasil precisa desesperadamente de bons gestores educacionais que tenham, além de capacidade estratégica, visão humanista. Temos um déficit enorme nesse campo”, finalizou.  

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Autor

Marina Kuzuyabu


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