NOTÍCIA
Em sua coluna mensal, Alberto Costa lista os principais indicadores, segundo o Conselho Britânico, para aplicar a internacionalização em casa. Especialista reforça que os critérios são um desafio, ao considerar a pluralidade de metodologias das IES brasileiras
Publicado em 29/07/2021
Nesta coluna, já conversamos sobre diversos aspectos da internacionalização do ensino superior aqui no Brasil e fora dele. Mas, no último ano, o mundo inteiro passou por uma pandemia que não planejamos e nós (e, claro, os estudantes também) tivemos nossa mobilidade reduzida drasticamente – o que fez com que precisássemos nos adaptar.
E, por vezes, essa adaptação não é apenas de planos, mas também de entendimentos. Por muitas vezes falamos aqui que internacionalização não é apenas ou isoladamente a mobilidade de alunos e de cientistas. E diante desse cenário que nos atinge há mais de um ano tornou-se ainda mais importante entender que é cada vez mais importante investir em outros aspectos, favorecendo aproximações estratégicas e maximizando os links entre universidades, independente de barreiras físicas. Um programa eficiente começa por aí ao retirar travas que podem surgir pelo caminho.
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Isso é possível por meio de parcerias de diferentes tipos e de planos de ação que levam em consideração pontos atuais como a avaliação das ações de internacionalização e a estruturação de políticas linguísticas. E, nesse contexto, claro que a mobilidade gera valor – ela contribui para formar estudantes com competências multiculturais – mas ela não é o único meio para que o país evolua seu ensino superior.
E foi nesse momento que pudemos comprovar o quanto a internacionalização em casa é realmente eficaz e como montar um projeto que não envolva a mobilidade geográfica dos estudantes sem comprometer a qualidade da experiência.
A melhor saída para conseguirmos avançar com a internacionalização remota é se apropriar dos meios digitais para formatar o ambiente perfeito para as trocas e incorporar aspectos globais nas atividades acadêmicas.
O Conselho Britânico desenvolveu alguns indicadores para nortear cada modelo de internacionalização possível dentro do ensino superior, como forma de orientar o processo dentro de cada instituição e garantir que todos que buscam oferecer essa forma de ensino estejam dentro dos mesmos parâmetros.
De acordo com isso, para a internacionalização em casa, os principais indicadores são:
– O número de autores estrangeiros nas bibliografias dos cursos.
– Infraestrutura e acesso a conteúdo internacional – Uso de vídeos e metodologias estrangeiras, como por exemplo, o design thinking e outras metodologias de ensino criadas por instituições de outros países.
– Disponibilização de capacitações e atualizações para o corpo docente que incluam perspectivas internacionais dentro de seu currículo.
– Participar de redes de pesquisa e ensino que encorajem a troca entre alunos e grupos de dois ou mais países.
Esses parâmetros também foram definidos como forma de avaliação, para analisar as instituições que querem trabalhar com a internacionalização em casa e se estão realizando isso de forma que não se perca a qualidade no ensino.
Mas, chegar a uma maneira objetiva de resultado a partir apenas desses critérios ainda é um grande desafio principalmente em função da pluralidade de metodologias aplicadas nas universidades brasileiras.
O ecossistema é formado por universidades que se dedicam mais à pesquisa e por outras em que o ensino é focado mais na parte prática, há aquelas orientadas para gerar pesquisas que causem impacto nacional e internacional, enquanto outras estão mais próximas das questões que afetam as regiões nas quais estão inseridas.
Entretanto, nada disso é um impeditivo para tornar-se uma World Class University, que são as instituições que têm em seu DNA a proposta de serem internacionais, inclusive como um critério para desempenhar bem e aparecer no topo dos rankings de melhores universidades do mundo, como as brasileiras Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O que vai determinar o sucesso da sua internacionalização é a adoção de uma política que considere os objetivos da sua população de forma alinhada com os critérios que conduzem uma instituição a esse patamar (para dar condições que os indicadores apontados pelo British Council estejam naturalmente englobados no perfil da sua universidade) e de maneira integrada ao programa linguístico que precisa ser bem estruturado e fundamentado (para propiciar a comunicação e a troca entre as comunidades).
A tendência de internacionalização em casa reforça a oferta de disciplinas ministradas em inglês na graduação e na pós-graduação e faz nascer novos arranjos, como aulas entre turmas no Brasil e no exterior, mediadas pelo idioma e pela tecnologia, sem a necessidade de cruzar oceanos. Dessa forma, não precisamos estagnar em um campo de atuação que começava a ganhar mais tração assim que a crise sanitária se instalou.
Alberto Costa é senior assessment manager américas, na Cambridge Assessment English
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