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Formação

Manual traz dicas para criança com TEA perder o medo de dentista

A ansiedade odontológica é bastante comum em pais e filhos. Para a criança com transtorno do espectro autista o desafio pode ser ainda maior.

Publicado em 27/06/2023

por Sandra Seabra Moreira

Ilustração por José Arias Ilustração de José Arias para o manual "Como ajudar as crianças com transtorno do espectro autista a vencer o medo e ter uma experiência positiva no dentista"

Muita gente tem medo de ir ao dentista. Dados demonstram que entre 15% e 20% da população adulta sofre de odontofobia, o medo excessivo de ir ao dentista, ou ansiedade odontológica, aquela apreensão só de pensar no assunto. Entre crianças, esses percentuais podem ser ainda maiores, variando de 25% a 30%.

Ao longo de mais de três décadas no consultório, a odontopediatra Cristina Nunes Arruda observou o medo em seus pacientes e tinha perguntas: será que o medo dos pais influencia as crianças? Como o medo dos pais impacta a saúde bucal das crianças, será que elas têm mais cáries? Para respondê-las, Cristina foi para o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu de Mestrado em Odontologia da UNIP, na área de Saúde Coletiva. 

Cristina também é escultora e escritora de livros infantis. Ela conta que busca cuidar mais do aspecto humano e, nessa trajetória, para ela, a arte é fundamental. Já escreveu  Quem mora na minha boca? e A chupeta que queria voar. O terceiro livro, sobre dentinhos de prematuros, está quase pronto, com inspiração que veio de uma passagem em ambulatório para atendimento de prematuros na Unifesp. 

Cristina Nunes Arruda, odontopediatra, mestre pela Unip em Odontologia e escritora (Crédito: divulgação)

E mais um livro, espécie de manual, foi escrito no âmbito do seu mestrado: Como ajudar as crianças com transtorno do espectro autista a vencer o medo e ter uma experiência positiva no dentista. O lançamento aconteceu em abril deste ano, na 1ª Feira Cultural da Associação dos Amigos da Criança Autista (AUMA), uma ONG e escola especializada no atendimento de pessoas autistas, na capital paulista.

 

Os dados rígidos

 

Na Unip, Cristina teve como orientadora a professora doutora Vanessa Gallego Arias Pecorari, da área de estatística e saúde coletiva.  “Eu trabalho muito com revisão sistemática, metanálise, dados rígidos”, conta.  Para acomodar hipóteses e demandas de sua orientanda, Vanessa propôs, para o mestrado, a entrega de um artigo tradicional, a partir da metanálise, e um produto técnico, o livro, com um tema muito pouco explorado na academia e fora dela.  

Cristina enfrentou uma revisão sistemática. Depois da aplicação de ferramentas tecnológicas, machine learning, softwares e leitura de quase mil abstracts, sobrou um pouco mais de uma centena de artigos.  Revisão em pares,  agrupamento de temas, comparações, Cristina foi passando por todas as fases da metodologia. E enfim, qualificou. A conclusão de sua dissertação, intitulada Ansiedade dos pais e sua influência na saúde bucal da criança e comportamento durante o tratamento odontológico: revisão sistemática e meta-análise, teve duas frentes. 

Em relação às cáries, ainda não é possível afirmar que elas estejam mais presentes em crianças de pais que têm medo de ir ao dentista. Os estudos ainda são incipientes. “Inclusive, recomendamos que mais estudos sejam realizados nesse sentido”, diz a orientadora. Quanto ao medo dos pais influenciarem seus filhos, a conclusão não deixa dúvidas. Filhos de pais que têm medo de ir ao dentista têm 1,8 mais chances de ter medo de ir ao dentista quando comparados aos filhos de pais que não têm medo. “As chances são quase duas vezes maiores”, resume a orientadora. 

 

Professora Vanessa Gallego Arias Pecorari, da área de estatística e saúde coletiva da Unip (crédito: divulgação)

O trabalho social 

 

Respondidas as perguntas, Cristina não estava satisfeita. “Sentia que eu escrevia para uma minoria”. Mais do que isso, “Cristina queria ir a campo”, conta a orientadora. Foi então que emergiu o tema relacionado às crianças autistas e, com ele, mais desafios: “Evidências científicas sobre o tema em relação à criança com transtorno do espectro autista (TEA) ainda são escassas, mas é sabido que elas podem ter dificuldades em lidar com situações novas ou desconhecidas, o que pode resultar em ansiedade e medo. Uma ida ao dentista, então, pode ser particularmente difícil para elas”, explica a mestranda. 

O manual é voltado aos pais, cuidadores e professores que lidam com a criança autista. A linguagem é acessível, didática, com ilustrações e pictogramas que auxiliam na interação com a criança. “É necessário uma linguagem específica, estruturada, porque pessoas autistas seguem rotinas e essa estruturação é importante”, conta Cristina. O contato com a AUMA exigiu persistência. Quando foi possível mostrar o livro aos especialistas da entidade, a adesão a ele foi imediata. 

 

Revista Educação | Alunos autistas: iguais, mas com diferenças 

Autor

Sandra Seabra Moreira


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