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Formação

Licenciaturas têm que ser repensadas, mostra Mapa

Novo Mapa do Ensino Superior traz capítulo dedicado à formação docente

Publicado em 08/05/2024

por Ensino Superior

Licenciaturas Dados indicam que o Brasil ainda pode enfrentar a falta de professores em áreas específicas

Um panorama sobre os cursos de licenciatura ganhou destaque na nova edição do Mapa do Ensino Superior. Elaborado pelo Instituto Semesp e lançado nesta quarta-feira, 8 de maio, o documento destaca que as licenciaturas representam 17,7% do total de matrículas no ensino superior brasileiro, o que corresponde a 1,67 milhão de alunos. Apesar da diversidade de cursos ofertados no país, 49,2% – praticamente metade dos estudantes – estão matriculados na área de pedagogia. Diante da sinalização de um possível “apagão docente”, os dados indicam que o Brasil ainda pode enfrentar a falta de professores em áreas específicas, como química, física e biologia.

Com mais de 300 páginas, o documento também apresenta dados sobre os cursos mais procurados, taxa de escolarização, bolsas e financiamento, Enem, pós-graduação, entre outros.

O Instituto Semesp trouxe especialistas para uma análise em primeira mão do levantamento. Guiomar Namo de Mello, doutora em educação pela PUC-SP, chamou atenção para o fato de que, há pelo menos duas décadas, os vestibulandos que se dirigem às pedagogias e licenciaturas são os que não conseguem, no ENEM, classificação para outra carreira. “E são também os que se originam nas camadas mais pobres da população”, pontuou.

 

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Segundo Mozart Neves Ramos, docente da USP de Ribeirão Preto, em São Paulo, muitos alunos desistem da graduação por falta de uma política de formação continuada que desenvolva um plano de carreira para os professores. “Outro problema é a reformulação profissional desses docentes que saem das IES sem uma formação prática. Os cursos de licenciaturas possuem um forte caráter teórico, então há uma necessidade de formação continuada para tapar esse buraco”, disse. “Deveria existir, por exemplo, um Fies voltado para a formação de docentes que possibilitasse que esses alunos frequentem cursos de qualidade e com formação sólida, não apenas cursos muitos teóricos”, defendeu Ramos.

Na avaliação de Guiomar, as IES devem desenvolver projetos integrados de formação. “Há muito que se critica a formação totalmente fragmentada dos professores, tanto do ponto de vista pedagógico como do ponto de vista institucional. Várias normas indicaram a necessidade de existir um espaço institucional próprio para a formação de professores, bem como projetos pedagógicos integrados.”

 

Formação a distância

O levantamento ainda indica que, do atual número de matrículas em licenciaturas, 64,2% estão no EAD. Na modalidade, 63,8% dos alunos de licenciaturas têm 30 anos ou mais, demonstrando que esta modalidade desperta maior interesse de faixas etárias mais elevadas e já inseridas no mercado. Para Ramos, o aumento de matrículas no EAD está ligado a diversos fatores, como os avanços tecnológicos, a perda de poder econômico potencializada pela pandemia e o fim do Fies.

“É preciso que se entenda também que os cursos de EAD não podem oferecer a mesma formação dos presenciais. Eles possuem características diferentes que precisam ser levadas em consideração, como a necessidade de bons tutores, um material didático apropriado, o uso de uma tecnologia amigável e mais prática profissional, uma necessidade que também precisa ser ampliada nos cursos presenciais”, comentou.

 

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Atualmente, 84,9% das IES que ofertam cursos de licenciaturas são privadas. No ensino presencial o índice é de 83,9%. Já no EAD, 78,2% das IES que ofertam licenciaturas são privadas.

O diretor de inovação e redes do Semesp, Fábio Reis, enfatizou que o problema não é a modalidade em si. Para o especialista, o que precisa ser repensado é como o EAD proporciona vivências práticas e vínculos sociais que contribuam com as experiências docentes. “Os cursos de licenciatura precisam ter um vínculo maior com a realidade, com estágios realmente efetivos que ofereçam prática para esses futuros docentes. Esses profissionais precisam de prática docente, de prática de sala de aula, de vivência na escola e com os estudantes. Sem essas mudanças, haverá uma intensificação da crise das licenciaturas.”

Na PUC-Campinas, Cyntia Andretta, Luciane Kern e Vanessa Zago, pró-reitora de graduação, gerente educacional de graduação, e gerente da unidade de licenciaturas, respectivamente, acreditam que os cursos de licenciaturas merecem uma revisita para a reflexão sobre a sua aderência ao público jovem. Em declaração, as profissionais evidenciaram a necessidade de refletir se o currículo está desconectado da realidade da sala de aula. “Não podemos ser uma ilha separada do continente.”

Acesse a nova edição do Mapa do Ensino Superior para conhecer todos os dados.

 

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