NOTÍCIA

Edição 287

IES brasileiras precisam valorizar inovação pedagógica

Pesquisa da FGV analisou políticas de inovação pedagógica apresentadas nos sites institucionais de 30 IES ao redor do mundo, com o objetivo de identificar práticas de destaque que possam servir de modelo para outras instituições

Publicado em 01/10/2024

por Ensino Superior

Monash University (Austrália): base para avaliar as candidaturas de funcionários para promoção na carreira

Por Clio Radomysler, Tatiane Guimarães, Marina Feferbaum e Larissa Margarido

No cenário atual de rápidas e constantes transformações, a inovação pedagógica é um pilar essencial para o sucesso das IES. São as que priorizam o ensino de excelência, reconhecem e também incentivam a inovação pedagógica como uma ferramenta vital para aprimorar a experiência de aprendizagem e preparar os estudantes para desafios do contexto atual.

Inovação pedagógica não se resume à adoção de novas tecnologias em sala de aula. Exige transformação das práticas educativas a partir da postura crítica e reflexiva sobre os processos de ensino e aprendizagem. Envolve a criação de um ambiente de abertura para reconfiguração das formas de entender e construir o conhecimento, no qual a experimentação e a criatividade são valorizadas e incentivadas.

A criação de um ambiente favorável à inovação pedagógica depende, portanto, de políticas institucionais e de liderança acadêmica. No entanto, as universidades se encontram pressionadas a responder a diferentes e, por vezes, conflitantes demandas – regulatórias, de mercado, financeiras, de novas pautas sociais, entre outras – que acabam relegando a inovação pedagógica a um segundo plano nas escolhas institucionais. 

É diante da urgência do fomento institucional à inovação pedagógica que, em 2022, a FGV resolveu criar o Hub de Inovação Pedagógica (HIP FGV). O HIP FGV reúne 39 membros de diversas escolas e unidades da Fundação Getulio Vargas para fomentar a inovação no ensino e promover a melhoria contínua das metodologias utilizadas nos cursos oferecidos.

 

Leia: A importância da Tese de Inovação no ensino superior

 

Neste mês, o HIP FGV lançou uma pesquisa pioneira que criou um framework para a incorporação de políticas de inovação pedagógica por instituições de ensino superior. A pesquisa também analisou políticas de inovação pedagógica apresentadas nos sites institucionais de 30 IES ao redor do mundo, com o objetivo de identificar práticas de destaque que possam servir de modelo para outras instituições.

 

Framework de políticas institucionais de inovação pedagógica

A pesquisa do HIP FGV revelou que a inovação pedagógica pode ser analisada sob três perspectivas principais: institucional, profissional e comunitária. Com base nessa análise, foi desenvolvido o “triângulo da inovação pedagógica”, framework que esquematiza os elementos essenciais para fomentar a inovação dentro das IES.

  1. Posicionamento institucional: reconhecimento da inovação pedagógica como prioridade nas metas, normativas, estruturas e narrativas institucionais.
  2. Inovação como pilar da carreira acadêmica: incentivos oferecidos aos docentes para integrar a inovação em sua prática profissional.
  3. Formação e comunidade: criação de espaços para troca de experiências, capacitação e apoio à inovação pedagógica entre a comunidade acadêmica.                                                      

A perspectiva denominada “posicionamento institucional quanto à inovação pedagógica” destaca a necessidade de verificar se a inovação pedagógica é um elemento central na atuação da IES em diferentes dimensões: em seu discurso, nas metas estabelecidas, na estrutura organizacional, e na pesquisa e produção de conhecimento, envolvendo toda a comunidade acadêmica. Os indicadores listados na imagem servem de parâmetros para a avaliação de um posicionamento institucional incentivador da inovação pedagógica.

 

 

Na perspectiva “inovação pedagógica como pilar da carreira acadêmica”, é essencial compreender como a inovação pedagógica é integrada à carreira docente, funcionando como um critério relevante para a contratação de novos professores, promoção na carreira e oferta de cargos permanentes. Os indicadores listados na imagem servem de parâmetros para a avaliação da inserção da inovação pedagógica como pilar na trajetória profissional dos docentes dentro da IES.

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Por fim, a perspectiva chamada “formação docente e construção de comunidade para inovação pedagógica” enfatiza a importância de fomentar a inovação pedagógica por meio da criação de espaço de trocas, capacitação e apoio. Os indicadores listados na imagem servem de parâmetros para avaliar se há, dentro da IES, um esforço para a construção de um ambiente de formação, experimentação, compartilhamento de reflexões, e reconhecimento de boas práticas voltadas à inovação pedagógica dentro da IES.

 

As políticas de inovação pedagógica ao redor do mundo

A análise das políticas adotadas pelas 30 instituições de ensino superior ao redor do mundo apontou desafios e potencialidades na promoção da inovação pedagógica, apresentando insights relevantes para o contexto brasileiro. 

As iniciativas mais comuns encontradas nos sites das IES selecionadas estão relacionadas à dimensão institucional e comunitária do triângulo da inovação pedagógica. Quase todas as instituições analisadas possuem um centro ou unidade específica para a inovação pedagógica (29 das 30 IES), compartilham e divulgam materiais de apoio aos docentes (28 IES), oferecem cursos de formação docente (27 IES) e organizam eventos voltados ao ensino (27 IES). 

Já as iniciativas menos comuns são voltadas para a dimensão profissional. Poucas IES apresentam critérios de inovação pedagógica para a entrada de novos docentes (5 IES), incorporam a inovação pedagógica no plano de carreira docente (11 IES), possuem uma política específica para monitoramento e feedback das práticas pedagógicas (12 IES) e oferecem serviços específicos de apoio ao desenvolvimento de atividades inovadoras (12 IES).

A pesquisa também apontou que as 5 IES da América Latina selecionadas para a análise, no caso todas brasileiras, estão atrás dos demais continentes na promoção e valorização da inovação pedagógica. A América Latina foi o continente com o menor número de políticas de inovação pedagógica identificadas, além de ter o menor número de políticas consideradas de destaque.

Esse resultado também reflete a avaliação dos sites institucionais das universidades da região, que tiveram os piores resultados da avaliação em termos de clareza e organização das informações, facilidade de navegação e acesso a documentos institucionais e atratividade do seu layout. 

Os resultados da pesquisa demonstraram, portanto, a necessidade urgente de maior valorização da inovação pedagógica pelas IES brasileiras e, no âmbito global, a oportunidade de integrar mais profundamente a inovação pedagógica como um elemento central na carreira docente.

 

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Destaques de políticas de inovação pedagógica 

Dentre as 38 políticas de destaque descritas na pesquisa, apresentaremos três iniciativas, uma para cada dimensão do framework elaborado. 

Stellenbosch University (África do Sul): aprendizagem centrada no aluno, com quatro dimensões interdependentes

Com relação ao posicionamento institucional voltado para inovação pedagógica, a Stellenbosch University (África do Sul) implementou em 2018 a Teaching & Learning Policy, uma política que estabelece parâmetros para o ensino e a aprendizagem de qualidade na IES por um período de cinco anos.  Essa política tem como pilar a aprendizagem centrada no aluno e possui quatro dimensões interdependentes: profissionalização de acadêmicos para a docência, pesquisa voltada para práticas pedagógicas, infraestrutura e tecnologias de aprendizagem e contínuo aprimoramento do programa.   

Na dimensão da inovação pedagógica como pilar da carreira acadêmica, a Monash University (Austrália) possui o Education Performance Standards, documento que apresenta expectativas específicas em relação a cada nível e atividade docente, e que serve como base para avaliar as candidaturas de funcio

Monash University (Austrália): base para avaliar as candidaturas de funcionários para promoção na carreira

nários para promoção na carreira. Os elementos avaliados são organizados em torno de três áreas centrais: (i) impactos na aprendizagem dos estudantes; (ii) impacto no conhecimento sobre educação; e (iii) impacto no ambiente de aprendizagem, que inclui a inovação pedagógica e liderança.

Por fim, um destaque de política de formação e construção de comunidade foi a University of Queensland (Austrália), que promove o Peer Observation, modelo colaborativo de aprendizagem profissional em que um docente observa um colega ensinando, reflete sobre o que viu, participa de conversas para fornecer ao observado um feedback construtivo sobre sua prática e discute maneiras pelas quais o ensino e o aprendizado podem ser aprimorados; e as Communities of Practice, networks de profissionais que trabalham com o ensino e a aprendizagem na universidade.

University of Queensland (Austrália): aprendizagem profissional em que um docente observa um colega ensinando

Essas e as outras políticas destacadas na pesquisa podem servir de inspiração para as instituições de ensino superior ao redor do mundo.

 

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Futuro da inovação pedagógica no Brasil

A pesquisa conduzida pelo HIP FGV oferece insights valiosos para as IES brasileiras que desejam fortalecer suas políticas de ensino. Ao adotar as melhores práticas globais e fomentar um ambiente de experimentação e colaboração, as instituições podem não apenas melhorar a qualidade do ensino, mas também preparar seus alunos para um futuro de constantes mudanças e desafios. A inovação pedagógica não é apenas uma tendência; é uma necessidade para as IES que almejam excelência e relevância no cenário global.

 

*Este artigo se baseia no Hub de Inovação Pedagógica da FGV com pesquisa inédita sobre políticas de inovação pedagógica no ensino superior, com uma análise de 30 IES ao redor do mundo, apresentação de 38 políticas de destaque e um framework para inspiração das IES brasileiras.

 

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