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NOTÍCIA
Após desafios como as enchentes, a Unisinos, no Rio Grande do Sul, mantém sua toada de expansão das pesquisas e da internacionalização
Publicado em 21/03/2025
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) foi fundada em 1969 e deu continuidade à presença de jesuítas em São Leopoldo, cidade que pertence à região metropolitana de Porto Alegre. Antes, ali funcionou o Seminário Nossa Senhora da Conceição, que formou gerações de padres e bispos até por volta da década de 1950, quando essa formação passou a ser realizada pelas próprias dioceses.
“Como nós já estávamos na lida com a educação superior, em vez de ficar focados na formação do clero, fomos migrando, a partir da necessidade da região, para a formação de profissionais. Os próprios jesuítas que trabalhavam lá foram se preparando e se formaram na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também vieram jesuítas de fora, conta o reitor, Sérgio Eduardo Mariucci.
A princípio, a Unisinos ofereceu os cursos clássicos, como letras e filosofia. “E cresceu junto com a cidade. A Unisinos integra as universidades católicas do Brasil que foram se desenvolvendo na medida em que havia demanda pela formação, primeiramente, de professores, depois de engenheiros, em seguida a área de gestão e negócios e a tecnológica. Agora, a própria pesquisa vem se consolidando. A Unisinos tomou a decisão de ser uma universidade global de pesquisa.”
Nessa toada, hoje são cerca de 20 mil alunos em dois campi, 70% deles em São Leopoldo e 30% em Porto Alegre. São oitenta cursos de graduação, 14 programas de pós-graduação em atividade e 309 projetos de pesquisa em andamento, que acontecem nos centros de pesquisas, entre eles, cinco institutos tecnológicos dedicados à inovação. A expansão da internacionalização abarca 214 acordos internacionais com universidades do mundo todo e a presença de seus alunos e pesquisadores em 27 países. “Mais de 250 alunos, por ano, fazem alguma etapa da sua formação em outro país. Temos também reciprocidade com esses países.”
Padre jesuíta, Mariucci tem sua trajetória no âmbito da Companhia de Jesus no Brasil, com atuação por duas décadas na escola básica, entre equipes do professorado e na formação docente. Foi diretor-geral do Colégio dos Jesuítas, em Juiz de Fora, Minas Gerais. O mestrado no Boston College e o doutorado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) foram em educação e gestão. Natural de Maringá, no Paraná, Mariucci conta que adotou o Rio Grande do Sul, onde reside desde 1990, como sua “terra de missão”. “Estou aprendendo a ser gaúcho há bastante tempo.”
A convite de seu antecessor, padre Marcelo Fernandes de Aquino, chegou à Unisinos em 2016 e dois anos depois assumiu a direção da graduação, a maior área da universidade. Em 2022, tornou-se reitor. Ele termina este ano a sua primeira gestão e se manterá na reitoria nos próximos quatro anos.
O reitor Sérgio Eduardo Mariucci lidera a Unisinos na consolidação da pesquisa e da internacionalização (foto: Unisinos/Pedro Heinrich)
Se “mar calmo não faz bom marinheiro”, como lembra o reitor, o período como diretor de graduação foi intenso de aprendizados. No Rio Grande do Sul, a implementação do nono ano ocorreu com atraso, em 2018, e de forma abrupta, o que ocasionou um ano sem alunos ingressantes em todas as universidades do estado. “O impacto foi grande.” Houve também a pandemia, que exigiu preparar os doentes e tomar as demais providências relativas às mediações tecnológicas.
Uma vez na reitoria, foi preciso, com “alguma dor”, partir para a reestruturação orçamentária com corte de custos. E enfrentar mais uma situação desafiadora: as enchentes ocorridas em 2024. “Tivemos aqui em nosso campus de São Leopoldo 1.600 pessoas abrigadas por três semanas. Fazíamos dez mil refeições por dia. E tínhamos uma previsão catastrófica de evasão e inadimplência, que não se concretizou. Achávamos que seria o fim, mas superamos.”
Para os próximos anos, conta o reitor, os investimentos serão alocados nas áreas da saúde e das engenharias e na própria estrutura do campus de São Leopoldo. “Temos três parques tecnológicos, vamos criar mais um voltado à área da saúde, em parceria com a iniciativa privada. E vamos ampliar e melhorar todos os laboratórios da Escola Politécnica”, detalha.
“No ano 2000, propriamente, é quando a pesquisa que já tínhamos começa a se projetar para o país e o mundo”, afirma o reitor. O objetivo de fortalecer cada vez mais a pesquisa, a pós-graduação e a internacionalização passa também pelos institutos de pesquisa da Unisinos. “A internacionalização e a projeção da universidade no âmbito nacional muito decorrem da pesquisa feita aqui.”
Já a inovação é o escopo dos institutos tecnológicos, criados em 2014, focados no desenvolvimento de soluções tecnológicas e científicas para empresas e indústrias. “Enquanto os programas de graduação são amarrados ao exercício de construção das teses e dissertações, com as orientações da Capes, os institutos permitem que a pesquisa repercuta em soluções para o mercado. Fazem o envelopamento da pesquisa e atendem a demandas específicas do setor produtivo”, explica Mariucci.
No âmbito dos institutos tecnológicos estão o Fuse, de ensaios e segurança funcional; o Nutrifor, que lida com pesquisas de alimentos para a saúde; o Oceaneon, de paleoceanografia e mudanças climáticas; o Performance, que pesquisa desempenho e construção civil e o Chip, instituto dedicado aos semicondutores.
Nesta área de semicondutores, por exemplo, a Unisinos mantém parceria com a empresa sul-coreana Hana Micron desde 2011, que resultou na criação de uma fábrica de semicondutores, localizada no próprio campus de São Leopoldo. A unidade atua no encapsulamento e fornecimento de soluções em semicondutores para o Brasil. Em março do ano passado, a parceria foi renovada por mais dez anos.
Outra cultura que se estabeleceu na Unisinos foi a do empreendedorismo. “Tivemos duas alunas de medicina dentro de um programa que criamos que possibilita mentoria, projeção, pensamento criativo. Elas viram que poderiam desenvolver um aplicativo. Fizeram a prototipagem, levaram à incubadora e hoje já estão com uma miniempresa e continuam como alunas de medicina”, detalha o reitor.
Cerca de 60% dos cursos da Unisinos são presenciais e não há previsão de expansão de cursos EAD. “A Unisinos é uma universidade presencial. Durante a pandemia havia a impressão de que os alunos iriam, majoritariamente, optar pelo modelo de aulas online. Entretanto, mal terminou a pandemia, as pesquisas mostravam que não seria assim. Os alunos queriam voltar e as pesquisas internas que nós fizemos apontaram que eles queriam voltar para ter contato com os professores.”
Entretanto, explica Mariucci, “as mediações tecnológicas já estão presentes na modalidade presencial, então, a formação dos professores traz, por exemplo, a inteligência artificial como um recurso extraordinário dentro do conjunto ferramental de mediações didático-pedagógicas, que tanto qualifica e aprimora o professor nos seus recursos e na relação com o aluno”.
Muita gente se pergunta se ninguém mais quer ser professor. Na Unisinos, os cursos de licenciatura, tão caros à tradição da instituição, não tinham suas vagas preenchidas. Entretanto, no ano passado, o Programa Professor do Amanhã, instituído pela lei estadual nº 16.001, de 2023, concedeu bolsas mensais de permanência de R$ 800,00 para o estudante, além de mais R$ 800,00 para a IES comunitária, para custeio da vaga. Foram mil vagas distribuídas entre as instituições. “A Unisinos ganhou cem dessas mil bolsas. Só na Unisinos houve a concorrência de 600 alunos por vaga, uma procura extraordinária e está indo muito bem. Em outras universidades a procura também foi grande. Então, sim, parece que há muitos que querem ser professores.”
De acordo com um estudo do Instituto Semesp, o Brasil poderá enfrentar um déficit de aproximadamente 235 mil professores na educação básica até 2040. Para Mariucci, esse déficit é estrutural e, para além de incentivos como bolsas, carece de mais atenção. “O prestígio da carreira docente foi deteriorado ao longo dos anos, não somente por conta da remuneração, mas, sobretudo, porque ser professor, em muitos momentos, passou a ser uma profissão de risco no Brasil – ele é exposto, criticado, ridicularizado, amordaçado.”
As engenharias também vêm sofrendo com a falta de profissionais num mercado que é essencial ao país. Para fazer frente a esse fenômeno, o Rio Grande do Sul lançou em fevereiro deste ano o decreto Bolsa de Incentivo à Inovação, que oferece base legal para o Programa RS Talentos, que será lançado em breve, voltado à formação de engenheiros e profissionais da tecnologia.
“A diversidade, a inclusão e as questões étnico-raciais são muito importantes para o país”, ressalta o reitor. Para ele, o estudo das culturas negra e indígena é essencial para a formação integral. Faz parte do posicionamento da Unisinos a mudança estrutural, em que há a contratação de mais pessoas negras e mais visibilidade a elas também.
O núcleo de estudos da diversidade religiosa da Unisinos tenta dar conta de um fenômeno complexo. O Rio Grande do Sul é o estado que mais tem terreiros, os espaços sagrados das religiões afro, mas tanto no estado quanto no país “são totalmente silenciados”. “Então há esse núcleo de estudo, que traz a tradição e enfrenta todas as resistências.”
No âmbito da diversidade sexual, há um núcleo em plena estruturação. “É muito importante que quem trabalha na Unisinos – em qualquer área, seja operacional ou como professor – possa se sentir seguro na identidade com a qual queira se apresentar; isso é fundamental para a qualidade do ambiente de trabalho e de pesquisa”, enfatiza Mariucci.
Para o reitor, se retrocessos no entendimento acerca das diversidades se anunciam, os progressos também são perceptíveis. Ele afirma que “é irrenunciável oferecer ao aluno uma experiência integradora, que faça com que ele cresça em sua humanidade. A pessoa cresce em humanidade na lida com o conhecimento, conforme conquista sua própria liberdade. Os temas relacionados às questões étnico-raciais e à diversidade integram esse conjunto conceitual que ajuda a pessoa a se entender e se realizar.”