Revista Ensino Superior | Os desafios do jornalismo de educação

NOTÍCIA

Edição 292

Os desafios do jornalismo de educação

A Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação – foi criada em 2016, nos moldes da Education Writers Association, a EWA dos EUA, para aprimorar a cobertura jornalística do setor educacional

Publicado em 08/05/2025

por Sandra Seabra Moreira

Jeduca A equipe executiva da Jeduca – a tarefa é aperfeiçoar a cobertura jornalística do jornalismo de educação no país (foto: Tiago Queiroz/Jeduca)

Siglas, índices, regulamentações, políticas públicas e suas eficácias, ou eventos extremos, como a violência que eclode em sala de aula, estão no dia a dia do jornalista que se dedica à cobertura da educação no país. Muitos deles são especialistas, estão na cobertura do setor há anos. Eles contribuem de maneira decisiva para que avance o debate público em torno de questões de uma área vital para a sociedade e estratégica para o país.

No melhor dos mundos, estes feras estariam em todas as redações. Não é assim que acontece. Educação não é prioridade nas pautas das grandes mídias, pelo menos, não como  economia, política ou esportes. Além disso, jornalistas em formação, recém-formados e mesmo os que cobrem vários setores acabam sendo destacados para reportar, por exemplo, a divulgação dos dados do Censo Escolar, ou o Censo da Educação Superior, sem prévio aviso ou preparo.

É justamente pensando neles que a Jeduca  – Associação de Jornalistas de Educação foi criada, em 2016, nos moldes da Education Writers Association, a EWA, dos EUA. A ideia é apoiar o jornalista para a realização de coberturas eficientes.

Os maiores desafios para a reportagem são tempo e dinheiro. “Uma cobertura eficiente envolve ouvir todos os atores; no mínimo, ir a uma escola, universidade, e tudo isso leva tempo, dinheiro para o deslocamento – o jornalista acaba fazendo muita coisa por telefone”, detalha Mariana Tokarnia, vice-presidente da Jeduca.

 

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E o setor é imenso. “A maior parte da população brasileira está envolvida, de alguma forma, com a educação. Está estudando ou tem  filho ou parente que estuda, são muitos professores, então é um setor que envolve muita gente e muito organizado também. São muitos sindicatos, fóruns, organizações, têm uma grande representação.” Na outra ponta, os órgãos oficiais, como o Ministério da Educação (MEC) e suas secretarias e institutos, os órgãos consultivos como o Conselho Nacional de Educação (CNE), a  área legislativa – o Congresso Nacional e suas comissões e votações.

Repórter da Agência Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), desde 2013, Mariana  conta que sua trajetória é parecida com a de muitos outros jornalistas que “caem de paraquedas na educação”. Embora a maioria das redações do país esteja mais enxuta e a setorização menos presente, na EBC, empresa pública, havia ao menos dois setoristas para cada uma das áreas de cobertura, entre elas, direitos humanos, saúde e educação. “Assim que entrei, a setorista de educação tinha pedido para sair e me  ofereceram a vaga.” 

Na lida diária em Brasília, Mariana percebeu que havia poucos jornalistas especializados e que a falta de formação específica criava um gap entre uma boa cobertura e as possibilidades dos jornalistas. A sua percepção era compartilhada por outros setoristas, como Paulo Saldanha, da Folha de São Paulo; Renata Cafardo, repórter especial do Estadão e atual presidente da Jeduca; Fábio Takahashi e Antônio Góes, ambos fundadores da Jeduca e membros do conselho curador. Foi com essa turma que Mariana se tornou, também, uma das fundadoras.

 

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“A Jeduca produz conteúdo para comunicadores. Nosso foco são jornalistas, professores de jornalismo e estudantes de jornalismo”, afirma Mariana. O conteúdo formativo, guia ou manual, pode se relacionar a um tema pontual, em alta no momento. Por exemplo, em agosto de 2024, o “Guia de cobertura da educação nas eleições municipais” orientou com dicas, indicação de temas relevantes e números,  de maneira didática e objetiva,  qualquer jornalista que acessasse o site da Jeduca. A maioria das orientações e informações vale, na verdade, a qualquer tempo, sobretudo para quem está iniciando na cobertura do setor ou foi pego de surpresa. 

O Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica –, “um indicador de qualidade dos ensinos fundamental e médio, abrangendo as redes pública e privada”, é tema de outro guia, assim como o financiamento da educação básica.  Orientação acerca de como realizar reportagens em escolas e entrevistas com crianças? Também tem guia. Na espécie de vinheta “Fique de olho”, a Jeduca antecipa o que está prestes a acontecer ou já se anunciando como pauta, facilitando o trabalho.

“Se está virando assunto, entramos e explicamos.” Foi assim, por exemplo, nos ataques violentos às escolas – a quem dar voz?  “Reunimos todo o material, conversamos com vários especialistas.” Em meio às polêmicas acerca das diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE) para a educação de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), “esmiuçamos a normatização, o histórico, o porquê da discussão”, conta Mariana. 

 

Mais interesse da sociedade

Jeduca

Mariana Tokarnia, vice-presidente da Jeduca, no último Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, em 2024: “Uma cobertura eficiente envolve ouvir todos os atores” (foto: Tiago Queiroz/Jeduca)

A educação, afirma Mariana, permeia todas as áreas. Em relação ao comportamento da mídia,  ela vem percebendo o crescimento do interesse na educação e a diversificação de pautas, antes basicamente centradas na cobertura de greves e vestibulares. “Por exemplo, agora estamos falando em mudanças climáticas, e isso tem um impacto muito direto na educação. No último edital, financiamos quatro pautas só voltadas à mudança climática na educação. Ou quando se fala de orçamento, economia, é possível inserir educação nas áreas e isso tem acontecido. Não só pelo nosso trabalho, mas a pasta de educação tem ganhado bastante destaque.”

Se o governo federal olha para a educação, o interesse da sociedade e a atenção da mídia aumentam. Mariana destaca exemplos de políticas federais que impulsionam esse interesse nos últimos anos: o Enem, que se transformou num vestibular nacional em 2009; o Fies e o ProUni – ambos criados para facilitar o acesso ao ensino superior, sobretudo para pessoas de baixa renda – e a política de cotas que impactou as universidades em todo o país.

 

Atuação ampliada

A atuação da Jeduca foi ganhando vertentes para além do conteúdo formativo disponibilizado gratuitamente no site. A Associação criou e organiza o Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. A oitava edição aconteceu em setembro. A importância e urgência dessa iniciativa fica evidente pelo reconhecimento das fundações que a patrocinam – Itaú, Lemann, Maria Cecília Souto Vidigal, Sonho Grande, Telefônica Vivo, Unibanco, Natura, entre outras. E pelo apoio institucional das associações do setor jornalístico, como a  Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance. 

O Edital de Jornalismo de Educação, em parceria com a Fundação Itaú, já teve seis edições. Na Categoria Estudante, premia Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) que abordem a  educação básica pública ou o jornalismo de educação. Os prêmios da última edição foram de R$ 3 mil (1º lugar), R$ 2 mil (2º lugar) e de R$ 1 mil (3º lugar). Na Categoria Jornalista, o edital concede bolsas para reportagens, no valor de R$ 8 mil a R$ 10 mil. TCCs premiados e as reportagens concluídas podem ser conhecidas no site da Jeduca. O Curso  “Jornalismo de Educação: bases para a cobertura” acontece a cada dois anos e caminha, este ano, para a sua quarta edição. 

O Congresso é a maior ação da Jeduca, afirma Mariana, e tem seus próprios patrocinadores, não necessariamente os institucionais. Para o funcionamento da Jeduca, os apoiadores institucionais fazem aportes anuais. “A Jeduca é uma organização sem fins lucrativos desde o começo. Vivemos de financiamento e tentamos diversificar ao máximo nossos financiadores”, finaliza.

Conheça a Jeduca: https://jeduca.org.br/

Autor

Sandra Seabra Moreira


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