Revista Ensino Superior | IES cuidam de enviar alunos para fora

NOTÍCIA

Edição 292

Internacionalização: IES cuidam de enviar alunos para fora

A internacionalização tem ganhado destaque como estratégia para ampliar a visibilidade acadêmica, fortalecer parcerias internacionais e proporcionar experiências multiculturais a estudantes e professores

Publicado em 16/05/2025

por Carolina Firmino

Internacionalização

A internacionalização tem ganhado destaque como estratégia para ampliar a visibilidade acadêmica, fortalecer parcerias internacionais e proporcionar experiências multiculturais a estudantes e professores. Seja por meio de programas de intercâmbio, cooperação científica ou promovendo formação internacional e intercultural dentro da própria universidade, as instituições brasileiras têm buscado consolidar suas conexões globais e preparar alunos para um mercado de trabalho cada vez mais interconectado.

Esse movimento é evidenciado por diversas iniciativas e programas que visam ampliar a cooperação internacional e a mobilidade de professores e alunos, além de fortalecer a produção científica conjunta e a troca de conhecimento entre instituições brasileiras e estrangeiras.

Entre 2011 e 2018, o Brasil implementou programas significativos para fomentar a internacionalização, como o Ciência sem Fronteiras, que proporcionou oportunidades de estudo e pesquisa no exterior. Mesmo com o fim da oferta de bolsas, a busca por experiências educacionais fora do país continuou crescendo, impulsionada por parcerias institucionais e convênios bilaterais.

 

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Apesar desses esforços, ao comparar o cenário brasileiro com outros países da América Latina, ainda há muitos desafios para consolidar políticas nacionais de internacionalização, visto que os brasileiros dependem principalmente de iniciativas pontuais, muitas vezes limitadas por barreiras financeiras e burocráticas. Entre os desafios estão superar barreiras financeiras e integrar práticas inovadoras ao currículo.

À medida que cresce o interesse dos estudantes por vivências no exterior, muitas IES têm se consolidado como pontes para essas oportunidades, oferecendo suporte acadêmico e parcerias estratégicas.

 

Abordagem estratégica

O Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (Unifeob), a Universidade São Francisco (USF) e a Universidade de Uberaba (Uniube) são instituições que buscam oportunidades nesse sentido, investindo na criação de núcleos de relações internacionais e na parceria estratégica com universidades estrangeiras.

Na Unifeob, a prioridade são as práticas voltadas aos estudantes de graduação: “Recentemente, também ampliamos o escopo com iniciativas voltadas à pesquisa colaborativa internacional e à internacionalização do currículo. Além disso, mantemos convênios com instituições estrangeiras para proporcionar vivências profissionais por meio de estágios fora do Brasil”, explica Rodrigo Marudi Oliveira, professor e coordenador de pós-graduação e internacionalização. Segundo Marudi, os eventos internacionais, como hackathons e desafios globais, complementam essas ações, permitindo experiências multiculturais e colaborativas sem necessariamente sair do país.

 

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A USF segue o mesmo caminho, com o Núcleo de Relações Internacionais ativo desde 2014 e em crescimento contínuo: “Mais do que apenas enviar ou receber estudantes, a USF tem promovido a formação de uma cultura institucional voltada para a internacionalização, que valoriza o aprendizado de línguas, o contato com diferentes realidades socioculturais e o desenvolvimento de competências interculturais. Essa cultura perpassa o cotidiano acadêmico, incentivando projetos colaborativos, eventos com participação internacional, formação continuada de docentes e ações que integram a dimensão internacional ao currículo”, relata o professor Lucas da Silveira Andrade, que coordena o Núcleo.

Já na Uniube, apesar de uma participação significativa nesse processo de internacionalização desde 2011, com o programa Ciência sem Fronteiras, só em 2016 passou a existir um órgão exclusivo com competência administrativa para esse fim. Leonardo Campos Assis, coordenador do Escritório de Relações Internacionais, afirma que, de modo pragmático e ciente de que a disponibilidade de recursos financeiros é um entrave para os alunos que desejam fazer um intercâmbio, há esforços para solucionar esse desafio: “A Uniube oferece a isenção da cobrança de mensalidade durante o período em que o aluno está no exterior, nos casos em que o intercâmbio ultrapassa três meses. Assim, a matrícula é feita em um componente curricular isento de custos, mantendo o vínculo institucional”, explica.

 

Vivendo (e estudando) lá fora

Laura Franco Carvalho Lucas estudava engenharia agronômica da Unifeob quando viajou ao Chile, no segundo semestre de 2024, para fazer um estágio, que, segundo ela, contribuiu para sua formação em todos os aspectos: “É uma experiência gigantesca, para mudança de mentalidade mesmo. Vivenciar outra cultura, conviver com as pessoas, falar outra língua são experiências que vão além da área acadêmica”, diz.

Com o apoio institucional da Unifeob, Laura cumpriu 300 horas obrigatórias em um laboratório da Universidade do Chile, participando de análises laboratoriais de vinhos Cabernet Sauvignon, de painéis sensoriais e de visitas técnicas a vinícolas: “[O estágio] vai me render a coautoria de um artigo científico que está sendo desenvolvido. Além disso, acredito que teve um peso muito grande para ter conseguido entrar no mestrado”, conta ela, que hoje é mestranda em Fitotecnia na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq/USP, em Piracicaba.

“A adaptação foi um pouquinho difícil, porque eu não falava espanhol. Meu primeiro contato com uma cidade grande, sozinha, foi em Santiago, e eu nunca tinha andado de metrô na vida. Mas, na hora que eu olho para trás e vejo como foi, penso que foi uma experiência maravilhosa”, pontua a engenheira.

 

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Em 2019, com apoio institucional da USF, Giulia Morbidelli de Camargo também esteve no Chile como intercambista. Na época, ela estudava arquitetura e urbanismo, e escolheu a Universidad Tecnica Federico Santa Maria (USM) para estudar durante um semestre. “Ganhei uma bolsa de estudos integral, ficando por minha responsabilidade apenas o custo de vida. [Entre as minhas atividades], destaco o projeto de reforma da guardería do Parque Nacional Llanos de Challe, que fica na costa do Deserto do Atacama. A guardería é onde moram os guardas responsáveis por cuidar do parque”, explica Giulia. A obra fez parte da disciplina ministrada em parceria com o arquiteto Camilo Moraes, ganhador do prêmio internacional “Small Project of the Year” em 2018. Segundo ela, foi algo único, pois, “pela primeira vez, não estávamos tratando de um projeto hipotético, mas realmente decidindo o futuro da moradia dos guarda-parques”, completa.

No geral, Giulia acredita que, a fim de aproveitar ao máximo o intercâmbio, é essencial um bom planejamento financeiro, não apenas para o custo de vida no país de destino, mas também para toda a jornada, que envolve atividades acadêmicas, passeios culturais, turísticos e viagens. Sobre os impactos profissionais, ela destaca a transformação em sua forma de enxergar a arquitetura. “Quando iniciei a faculdade, em 2016, pensava que atuaria com design de interiores. Mas, durante a estadia no Chile, percebi que trabalhar com projetos de edificações e vê-los tomando forma era o que aquecia meu coração – e foi isso que aconteceu desde então”, conclui.

 

_Rede Enlazar: oportunidades na América Latina

A Unifeob, a Uniube e a USF fazem parte da Rede Enlazar, vinculada ao projeto Redes de Cooperação do Semesp e administrada pela Realcup, Rede de Associações Latino-Americanas e Caribenhas de Universidades Privadas. Essa é uma iniciativa que visa conectar e estabelecer vínculos entre universidades latino-americanas, facilitando o desenvolvimento de projetos conjuntos e a troca de conhecimentos.

A Enlazar oferece às instituições participantes acesso a uma ampla rede de contatos e parcerias internacionais, expandindo oportunidades de intercâmbio e mobilidade para alunos e professores. Diante disso, os representantes das três universidades classificam a experiência com a rede, ainda em fase inicial, como positiva. “Possibilitou oportunidades de trocas de boas práticas e conexão institucional significativa, além de ampliar nossa visibilidade internacional e fortalecer nossos projetos”, diz Rodrigo Marudi, da Unifeob.

O momento dessas instituições na Enlazar, diz Assis, da Uniube, é de prospecção, com o objetivo de identificar afinidades para um posterior convite, seja nos âmbitos do ensino, da pesquisa ou da extensão. A USF também está começando algumas parcerias, vislumbrando novos convênios: “É uma excelente oportunidade para fortalecer a cooperação acadêmica com universidades latino-americanas. Nós confiamos no potencial do projeto e acreditamos que, uma vez concluídos os trâmites, essas conexões resultarão em intercâmbios ativos, beneficiando alunos e professores”, evidencia Andrade.

 

Autor

Carolina Firmino


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