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Edição 274

Conselho editorial debate a onda EAD no Brasil

O primeiro time de conselheiros da revista Ensino Superior está formado e debate as razões pelas quais o EAD se popularizou no Brasil

Publicado em 24/04/2023

por Gustavo Lima

Conselho Editorial Oito nomes compõe o primeiro Conselho Editorial da revista Ensino Superior

A plataforma Ensino Superior, que compreende a revista, site e redes sociais, ao completar 25 anos, institui seu primeiro Conselho Editorial. Oito especialistas se apresentam ao mercado discutindo a questão do EAD. Internamente, junto aos jornalistas, vão direcionar as pautas para que se tornem abrangentes, inclusivas e democráticas. O mandato é de um ano.

Conforme o Censo da Educação Superior, entre 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EAD), aumentou 474%. Para quem está no setor, a explicação para o crescimento não é uma só. No entanto, há um aspecto em comum na avaliação dos especialistas: o financeiro.

A seguir, apresentamos os conselheiros e como veem o EAD.

Danielle Rodrigues, vice-reitora na Unifeob, destaca o preço como a principal de três razões para o crescimento de matrículas no EAD. “Dos potenciais estudantes, 77% não podem pagar uma mensalidade acima de R$ 600. Como os valores na modalidade EAD, em sua maioria, estão abaixo dessa faixa, isso aumenta o acesso.” O segundo apontamento da vice-reitora é a abertura do público para a modalidade. “Antes era visto como algo de baixo valor.

Ainda tem muito disso, mas evoluímos bastante em termos de consciência e abertura a novos modelos. O terceiro ponto que não podemos desconsiderar é que os polos de ensino a distância estão cada vez mais presentes em regiões menores, em termos de população. Isso acelera e possibilita o acesso à educação”, explica.

 

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O especialista em marketing educacional e fundador da SADEBR, Glauson Mendes, também enxerga o maior acesso à educação como um fator de impulso do EAD. “Ele permite que um número maior de pessoas tenha acesso à educação onde quer que estejam morando, isto é, a localização geográfica, e as condições socioeconômicas. O acesso é um ponto positivo da modalidade, independentemente de todas as limitações sobre qualidade”, diz. 

Jaqueline Gomes de Jesus, docente permanente dos programas de pós-graduação em ensino de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e em bioética, ética aplicada e saúde coletiva da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também enxerga a maior possibilidade de acesso permitida pela educação a distância como um ponto para sua popularidade. “Vejo alunos que não poderiam estudar porque trabalham durante o dia ou, às vezes, até à noite e há também uma dificuldade de transportes na cidade”, argumenta. A docente acrescenta ainda a facilidade de comunicação com outras regiões do país, uma vez que, no Rio de Janeiro, ministra aulas para estudantes do Amazonas, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. “E, além disso, existe a possibilidade de ser mais barato”, ressalta.

A economia é recorrente nas falas dos conselheiros, seja ela financeira ou relacionada ao tempo, como aponta o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente. Para ele, a pandemia ajudou a “descortinar” a possibilidade de se fazer qualquer coisa a distância. “Outro fator é que as pessoas têm uma rotina muito pesada, complicada para executar essas idas e vindas e o deslocamento de sair de casa, além de ser cansativo, custa. O EAD é uma alternativa para eliminar os gastos financeiros e de tempo”, salienta.

 

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O cientista digital e consultor do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), Maurício Garcia, chama atenção para o fim do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “O Fies era um recurso que permitia aos alunos terem acesso à educação presencial, que normalmente era mais cara, porque eles tinham o financiamento. Com o fim do programa e a redução do número de bolsas, os alunos que não podiam pagar acabaram optando por cursos com a mensalidade mais baixa, assim vão para o EAD”, avalia. 

Priscila Simões, diretora do Ibmec Digital e da área de Soluções Corporativas do Ibmec, também coloca o Fies em pauta. “Isso tem muito a ver com o acesso ao ensino superior de uma população que precisa e quer estudar, fazer uma faculdade, mas com poucas condições financeiras. Tem menos a ver com a modalidade em si e mais com sua transformação na única opção para uma grande parcela da população brasileira. Vemos isso, principalmente, com o decréscimo do Fies. O que sobrou para quem tem pouca grana é o EAD”, corrobora.

O aspecto financeiro também se faz presente na fala da professora ph.D. de física experimental do Instituto de Tecnologia de Aeronáutica – ITA, Sônia Guimarães. A cientista, no entanto, traz uma perspectiva diferente para o debate. “Em primeiro lugar, existem escolas que não estão dando outra alternativa. Pelo EAD, um único professor pode dar aulas para diversos alunos, então algumas escolas estão economizando, ofertando o EAD para não gastar dinheiro com professores.” Sônia comenta sobre instituições da área de saúde que adotam essa postura em São José dos Campos (SP). “Enquanto deveria estar atuando em um hospital, em uma clínica e em contato com o paciente, o estudante está recebendo aula a distância. Que profissional ele será quando se formar?”, indaga.

 

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Sônia não descarta a possibilidade de boas aulas oferecidas a distância, mas defende que determinadas disciplinas não funcionam no EAD. “O laboratório de física, por exemplo, não funciona dessa forma. Para algumas matérias é possível usar itens de casa, mas no laboratório existem materiais que os alunos não possuem em casa. Caso não tenha equipamento, não tem jeito, não pode ser EAD. Ainda assim, algumas escolas estão economizando. Continuam cobrando a mesma mensalidade dos estudantes, que fazem o curso com uma qualidade menor. O EAD é economicamente mais vantajoso e sua procura é mais ou menos por conta disso”, critica.

O Conselho Editorial da Ensino Superior conta com a participação do diretor executivo e de assuntos financeiros do Semesp, o economista Rodrigo Capelato, com larga experiência em pesquisa e que identificou essa tendência há alguns anos. “Antes, o aluno EAD era mais velho, com intenção de retomar a graduação. Hoje há o acréscimo de novos estudantes. E aí, sim, a questão que provoca o crescimento é financeira.” 

Para Capelato, a pandemia apenas legitimou, acelerou algo que já se via nos gráficos de matrículas, o crescimento do EAD. Agora é aperfeiçoar a qualidade, como no passado foi com o presencial.

Autor

Gustavo Lima


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