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Sociedade

Fundo Agbara beneficia mulheres negras e indígenas em Campinas

Doações captadas pelo fundo já favoreceram 80 mulheres empreendedoras durante a pandemia. Iniciativa conta com 260 colaboradores fixos

Publicado em 02/04/2021

por Redação

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Um projeto coordenado por nove mulheres ajudou a sustentação dos negócios de 80 empreendedoras negras e indígenas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) durante a pandemia. O Agbara, fundo rotativo solidário idealizado em meio ao avanço da covid-19, conta atualmente com 260 colaboradores fixos, cujas doações realizadas são repassadas ao público-alvo em situação de vulnerabilidade social.

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O Fundo Agbara, que completou 6 meses em março às vésperas do Dia Internacional da Mulher, nasceu com o propósito de viabilizar a continuidade dos negócios de empreendedoras negras e indígenas, impactados pela crise sanitária mundial. Por meio de doações voluntárias, é garantida às mulheres inscritas uma transferência de renda, com pequeno capital que permite o sustento financeiro de suas atividades.

Além do repasse de verbas, o projeto atua em duas outras frentes: as assessorias técnicas, que oferecem serviços gratuitos às mulheres, como orientações para a criação de marca e logotipo, elaboração de plano de negócio, treinamento em comercialização etc.; e as iniciativas voltadas à educação, com promoção de qualificação profissional e formações políticas de cidadania e de direitos humanos.

No primeiro semestre de atuação, o Fundo Agbara captou R$ 41 mil em arrecadações, e gerou uma série de parcerias com autônomos e instituições, garantindo às empreendedoras inscritas assessorias jurídica, médica e psicológica, além de aulas de música, de inglês, entre outras. Para a idealizadora Aline Odara, ex-aluna da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, a missão de defender os direitos e os acessos do público-alvo está sendo cumprida.

“O Fundo Agbara acredita que o fomento financeiro é fundamental para que as mulheres negras, em meio às suas inúmeras demandas materiais de urgência, encontrem suporte para começar suas atividades. No entanto, para que o desenvolvimento de seu pequeno negócio aconteça de maneira sustentável, com ações planejadas e ordenadas de longo prazo, se faz imprescindível a aquisição de formações emancipadoras e de capacitação dessas mulheres, reforçando todo seu potencial de criar, planejar e implementar qualquer projeto”, destaca Aline.

Outra ação do Agbara – termo que significa potência, força e poder em iorubá, idioma de origem nigeriana – é a divulgação, via redes sociais, dos negócios de mulheres negras. No ano passado, foi confeccionado um catálogo virtual e impresso com os produtos de todas as participantes. A ação será repetida em 2021 e, ao término da pandemia, a expectativa é realizar o Festival Agbara para o fortalecimento da cultura negra e para a comercialização das mercadorias vendidas pelas empreendedoras inscritas no programa.

“É preciso consolidar essa rede de empreendedoras negras que está sendo criada pelo Agbara, a fim de fortalecer laços de solidariedade ancestrais, cultivados desde a África e perpetuados no Brasil através dos Quilombos, de irmandades e de organizações do movimento negro. Chegamos até aqui, inclusive, por conta da solidariedade ancestral do nosso povo”, avalia Aline.

No Instagram e no Facebook, o Fundo Agbara coleciona histórias e relatos das mulheres negras favorecidas pelo projeto. São cabeleireiras, artesãs, cozinheiras, revendedoras e empresárias de pequenos negócios, unidas pelo desejo comum de ocupar seus lugares no mercado de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras estão na base da pirâmide social, ocupando os maiores índices de desemprego, os postos de trabalho mais precários e com remunerações que não atingem a metade do salário de homens brancos.

Contemplada em outubro, a autônoma Nil Sena conta, com entusiasmo, que utilizou o dinheiro na compra de um fogão e de insumos para a produção de seus pães artesanais, além de quitar um empréstimo. “Fiz o melhor investimento que pude e precisava”, disse Nil em uma publicação compartilhada nas redes sociais.

Depoimentos de doadores também ilustram a importância do projeto, que tem organizado suas ações de forma virtual devido às medidas de isolamento social impostas pela pandemia. “Apoio o Agbara por considerá-lo uma construção potente para fortalecer mulheres negras periféricas. Essa ideia do fundo social é bastante importante no atual momento da nossa história. O Estado não faz nada e só a ajuda mútua entre o povo pode nos fortalecer. O projeto organiza essa ajuda e fortifica a luta antirracista”, afirmou o voluntário João Manoel.

“Em sua luta pelos direitos humanos e igualdade racial, o Agbara produz e divulga aos doadores textos que dissertam sobre as relações étnico-raciais e a situação da população negra no Brasil, permitindo à população caucasiana compreender o racismo não apenas como um problema de pessoas negras”, salienta Aline, enfatizando o caráter educador do movimento negro.

Influência da Universidade

Aline e Iara, formadas em Ciências Sociais pela PUC-Campinas, participaram, durante o período acadêmico, de Projetos de Extensão que buscam utilizar os conhecimentos adquiridos em sala de aula em benefício da comunidade local. Os projetos “Mulheres en-cena: arte-educação e empoderamento feminino” e “Cidadania feminina em ocupações urbanas: mulheres em ação politizando a cidade”, coordenados pela Profa. Dra. Stela Godoi, impactaram a vida profissional das então alunas, que utilizaram as experiências das iniciativas universitárias para fortalecer as ações do Projeto Agbara.

Para Iara Teixeira, coordenadora do Agbara, a participação nos projetos de extensão possibilitou sua compreensão sobre a realidade e as dificuldades das mulheres negras empreendedoras. “As vivências, que permitiram vasto conhecimento de temáticas como gênero e raça, nos trouxeram bases acadêmicas e empíricas para a criação e manutenção do Fundo Agbara”, explica Iara.

“Uma série de elaborações e hipóteses suscitadas à época, em diálogos com a professora Stela, como compreender o desestímulo e a falta de continuidade das mulheres da ocupação (Joana D’Arc, em Campinas) à frente de seus projetos pessoais e profissionais como consequência de uma precariedade material, foi essencial para se pensar o contexto das mulheres inscritas no Agbara. Desta forma, podemos elaborar ações mais concretas e conscientes para o período pós-pandemia”, complementa Aline.

Fonte: Assessoria PUC Campinas


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