NOTÍCIA
Pesquisa do Instituto Semesp revela que nos últimos quatro anos o número de alunos em cursos de pós-graduação aumentou 74%. A expansão foi puxada pela rede privada
Publicado em 02/03/2020
Com 60 cursos de especialização no portfólio, a Universidade Presbiteriana Mackenzie fechou 2019 com um balanço positivo para a pós-graduação: o número de alunos cresceu aproximadamente 60% em comparação com o ano anterior.
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O bom resultado se deve aos investimentos feitos pela instituição paulista, que criou sete cursos novos em 2019, e também a uma forte tendência de mercado. O desemprego, a necessidade de atualização profissional e a abertura de novas frentes de trabalho estão impulsionando as pessoas a buscar programas de formação continuada.
Um levantamento inédito realizado pelo Instituto Semesp mostrou que nos últimos quatro anos o número de matriculados em cursos de especialização lato sensu e MBA cresceu 74%, saltando de 683 mil alunos para quase 1,2 milhão. Grande parte desses alunos frequenta instituições privadas (veja mais na pág. 32), onde a oferta corresponde a 91% do total.
Na avaliação de Rodrigo Capelato, que coordenou a pesquisa, os bons resultados da pós-graduação são surpreendentes, especialmente quando comparados com os números da graduação. Enquanto as matrículas nesta modalidade cresceram apenas 1,9% em 2018 em comparação com 2017, na pós o aumento foi de 21%. A revelação dos números também mostrou uma mudança no comportamento dos brasileiros frente à crise econômica. Eles estão apostando mais na formação continuada para se manter competitivos no mercado de trabalho, tal como a população dos países desenvolvidos, comenta o diretor executivo do Semesp.
No Mackenzie o aumento das matrículas foi puxado por “programas alinhados com as novas concepções do mercado de trabalho, que tratam de temas contemporâneos, como Marketing Digital e Direito Digital”, revela Natacha Bertoia, coordenadora de Cursos de Educação Continuada.
Situação semelhante foi verificada no Centro Universitário IESB, de Brasília (DF). De acordo com Luiz Claudio Costa, vice-reitor do IESB, os cursos da área de tecnologia, como o de Ciência de Dados, foram os que mais cresceram, com matrículas registrando alta de 31% em 2019 em comparação com o ano anterior. “Essa área está em ascensão desde 2017 em função das transformações tecnológicas e, especificamente, da chegada da indústria 4.0”, comenta o executivo.
O IESB também percebeu um aumento da procura nos campos de gestão, saúde, educação e tecnologia. “Acreditamos que aquele modelo antigo de formação, em que você estuda, se forma e trabalha, caiu em desuso. As pessoas precisam continuar se especializando, precisam se aprimorar o tempo todo. Isso vem fazendo com que as pessoas busquem uma especialização”, diz.
Em resposta à demanda do mercado, a instituição brasiliense quase dobrou o número de programas de lato sensu, que hoje somam 30. Em geral, os alunos que chegam ao IESB são pessoas que já estão no mercado de trabalho, mas há também casos de estudantes recém-formados em busca de habilidades específicas, conta o vice-reitor.
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De acordo com a pesquisa do Instituto Semesp, a maioria das pessoas matriculadas em programas de especialização e MBA tem entre 25 e 34 anos. Porém, houve um aumento da participação de pessoas acima de 35 anos. Em 2016, a faixa de 35 a 39 anos representava 16,6% do total; em 2019, ela subiu para 17,6%. No grupo de 40 a 44 anos, houve um salto de 9,8% para 11,9%.
Os estudantes são predominantemente do sexo feminino (62,6%), se declaram da cor branca (60,3%) e têm ocupação profissional (84,9%). Entre os que trabalham, 65,7% estão há dois anos ou mais no mercado de trabalho e estes recebem, em média, R$ 5,5 mil de por mês.
O levantamento ainda mostra que a maior parte dos alunos de especialização frequenta cursos na modalidade presencial (68%). No entanto, a modalidade de ensino a distância está ganhando espaço: no período de 2016 a 2018, o número de alunos aumentou 125% e, em 2018, sua participação já representava um a cada três alunos.
O Istituto Europeo di Design (IED) ainda não oferece cursos de pós a distância, mas pretende fazê-lo ainda este ano, adianta Gianfranco Pisaneschi, diretor da instituição de origem italiana. A aposta é motivada pela tendência de mercado e pelos resultados positivos conquistados pelo IED no campo da pós. “Acertamos a mão nos temas que selecionamos, pois as nossas matrículas só crescem”, comemora o executivo.
Tendo registrado um aumento de 8% no número de alunos matriculados em 2019 em comparação com o ano anterior, Pisaneschi conta que a instituição reforçou recentemente os pilares mais valorizados pelos alunos que buscam o IED, entre os quais o empreendedorismo e o conhecimento aplicado.
“Em todos os nossos cursos temos uma empresa parceira. A Levi’s, por exemplo, apadrinhou o curso de pós-graduação em Marketing e Comunicação de Moda e propôs a solução de diversos problemas. Nissan, Amaro, Dafiti e Casa Cor são outros exemplos de empresas com as quais trabalhamos em conjunto. Também devemos fechar com o Uber em breve”, adianta o diretor.
Além de sugerirem temas e projetos aos cursos, os convidados também dão aulas, participam de encontros especiais e de bancas de avaliação. “Alexandre Birman, presidente da Arezzo, esteve no IED recentemente desafiando os alunos a resolver um problema de estocagem. Para esses empresários, funciona como uma consultoria gratuita, enquanto os alunos ganham oportunidades especiais de aprendizagem”, pontua.
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O Instituto Mauá de Tecnologia, localizado em São Caetano do Sul (SP), também está vivenciando a alta do mercado. Em 2019, as matrículas nos programas modulares cresceram em torno de 30% em relação a 2018, informa Julio Cesar Lucchi, coordenador da pós-graduação.
Criados em 2018, os programas modulares têm uma estrutura peculiar que permite aos alunos estudar conforme suas demandas. “O aluno não tem mais a obrigação de ficar na Mauá por mais tempo do que precisa. Ou seja, em vez de fazer o curso de especialização de uma vez, ele pode optar por fazer apenas um módulo, de 120 horas, e sair com um certificado de atualização. Se fizer o segundo módulo, ele sai com um certificado de aperfeiçoamento e, finalmente, se concluir o terceiro, ele se torna um especialista. Os três somados dão 360 horas”, explica. “Os alunos não têm a obrigação de fazer os três módulos na sequência, e isso tornou os programas muito atrativos. Aliás, os alunos sequer precisam fazer os três módulos. O planejamento vai de acordo com a necessidade de cada um”, acrescenta o diretor.
Com um processo de mudança iniciado em 2018, hoje todos os programas de pós da Mauá seguem com esse modelo. Atualmente, há 11 módulos disponíveis, e os que mais crescem são os que tratam de temas atuais, tal como verificado em outras IES. “O curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial tem uma procura significativa”, comenta.
Na contramão do mercado, a Mauá não oferece cursos na modalidade EAD e também não tem planos de fazê-lo. “Nossos cursos são técnicos, mão na massa, e demandam o uso de laboratórios. A presencialidade é importante. Também valorizamos muito o networking”, diz Lucchi.
Analisando o cenário em geral, o diretor de pós-graduação da Mauá enxerga com bons olhos o aumento da procura pela formação continuada. “Estamos vivendo um apagão de mão de obra em algumas áreas. As pessoas precisam se qualificar para ontem. Nessa perspectiva, os programas de especialização podem ser uma solução educacional para o país”, finaliza.
Confira os principais resultados da pesquisa direcionada à pós-graduação realizada pelo Instituto Semesp. O levantamento se baseia nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo IBGE, e em informações contidas no site do e-MEC e no Guia do MBA 2019, divulgado pelo Estadão.
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