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Em entrevista, Alexandre Scnheider fala sobre renovações na formação de professores e as práticas em funcionamento na escola de pedagogia do Singularidades, sob sua direção
Publicado em 08/09/2021
Graduado e com mestrado em administração pública, e prestes a concluir doutorado na Fundação Getúlio Vargas (FGV), pesquisador da FGV e da Universidade de Colúmbia, em Nova York, Alexandre Schneider resolveu aceitar o convite do Instituo Península para dirigir a escola de pedagogia, Instituto Singularidades, em São Paulo, em um amplo prédio especialmente adaptado para aulas, ao lado da avenida Paulista, o corredor cultural da cidade. Mantido pela família Abílio Diniz, o Singularidades, cujo propósito é transformar e potencializar vidas para catalisar o desenvolvimento sustentável da sociedade, não tem fim lucrativo e seu déficit anual é coberto pelo Instituto Península.
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Schneider conseguiu se equilibrar entre uma vida pública extensa e a academia. Foi secretário adjunto da educação municipal de São Paulo, com o prefeito José Serra, e ficou seis anos como secretário com Gilberto Kassab. Hoje como diretor de pedagogia do “Sing”, olha para este aspecto da seguinte forma: “Há hoje muita teoria e pouca relação da prática docente nos currículos e na forma como as escolas estão organizadas. Não adianta estudar exclusivamente teóricos educacionais, saber quem foi, sem conseguir criar conexão entre esse saber e o que tem que ser feito na sala de aula. Esse é o grande drama da formação inicial no Brasil. Como dar uma sólida base teórica, mas ao mesmo tempo fazer com que o professor seja capaz de lançar mão das estratégias na sala de aula”.
Ele acrescenta que existe uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovada pelo MEC, que prevê uma nova organização dos cursos de formação de professores e vai especialmente olhar para a questão da prática docente. Ela prevê de um lado que o professor tem que conhecer teoria e ser capaz de mobilizar esse conhecimento para uso em sala de aula.
“O estágio passa a ser algo mais robusto, com a necessidade de uma supervisão da escola em que o aluno vai trabalhar, estagiar. Será um grande desafio para as escolas de pedagogia brasileiras colocarem isso de pé. Muda a lógica do próprio currículo, mas também acaba tendo um custo maior de supervisão. Um grande desafio que vai no caminho certo”.
O Singularidades já iniciou o desenho do novo currículo com os professores. A supervisão de estágios precisa ter um número menor de alunos e esse supervisor tem que estar disposto a visitar escolas. “Estamos assinando um convênio com a Prefeitura de São Paulo para que nossos alunos façam estágio. Eles vão para as escolas, mas queremos uma proximidade ainda maior. Vamos formar os professores das escolas para que possam adequadamente fazer seu trabalho, e mais supervisores”, conta Schneider. O próprio Singularidades vai ter uma área de pesquisa fazendo essa ligação entre o currículo e a escola, para compreender quais são as melhores práticas.
O desenho do currículo está vinculado à prática. No primeiro semestre há estágio nas creches de crianças de 0 a 3 anos. O nosso aluno estará voltado para a prática que vivenciará na creche durante o estágio. “Será um estágio muito mais efetivo do que hoje, com um link também entre o currículo do Singularidades e da rede parceira, no caso a rede municipal, amarrado com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É a ampliação da supervisão por parte do Sing, com um currículo todo articulado numa prática”, explica. Essa é a maior mudança do ponto de vista curricular e de estruturação do Singularidades. Ao longo de toda pandemia foram feitas avaliações com os alunos sobre como a instituição estava em relação ao ensino remoto; se estava bom, se estavam aprendendo, etc. Segundo Schneider o resultado foi muito positivo.
“Fechamos parceria com a escola de educação da Universidade de Columbia, de Nova York, que vai instalar um laboratório no Singularidades para começar com uma formação de profissionais de duas redes públicas brasileiras nessa área de mão na massa, uso de metodologias e de computação nos próximos três anos. Temos parceiros que vão apoiar o desenvolvimento de uma tecnologia lá na frente, na formação continuada de professores na rede pública ou até de professores da rede privada. Será um método bastante rigoroso com certificação dupla. Não queremos formar professores de laboratório, mas que experienciam essas metodologias durante a formação inicial” explica.
O comitê de equidade racial é formado por funcionários, alunos, professores e a direção do Singularidades. Muitas vezes monta-se um curso de extensão ou de pós, e acontece de não se contratar professores negros, pois, todas as referências de uma instituição branca, acabam a sendo de um professor branco. “Vamos ativamente buscar professores negros, não para dar aula somente sobre antirracismo e questões raciais. É uma política mesmo, a meta de bolsistas é 30% no mínimo. Em quatro anos, 30% dos alunos serão negros e negras vindos da escola pública”, contabiliza.
O propósito é fazer a mudança no critério de contratação e de relacionamento com fornecedores para que seja possível ter a formação dos alunos e de profissionais para que o antirracismo esteja presente no Singularidades. “Hoje há um movimento de pais de escolas de elite de São Paulo para que as escolas sejam mais diversas, para que ofereçam bolsas de estudo para estudantes negros, crianças e adolescentes. Só que não é razoável se só tem professores brancos, é até meio contraditório. Existem escolas particulares que nos procuram para contratar professores negros”, revela.
“Vamos nos transformar num lugar mais diverso, com financiamento da fundação que possibilite aos alunos negros e negras de escolas públicas paulistas estudarem no Singularidades, que é cara para o padrão das escolas de pedagogia. Também tem cursos de formação para professores, diretores e o público em geral nessa questão da temática financista e a pedagogia. O primeiro começa no segundo semestre de 2021, com um curso de extensão com conferências exclusivas com intelectuais negros e negras. Vamos construir uma série de outros cursos ao longo desse período para apoiar professores, diretores”, diz.
“Fazemos formação continuada de professores, diretores, coordenadores pedagógicos para prefeituras, estados, escolas particulares, e tem sido bem sucedido. Assinamos contrato com um banco para fazer uma formação de gestores na área de recursos financeiros e de pessoal, e também com uma rede estadual.
O Singularidades tem uma característica singular, para brincar com o nome, que é uma instituição feita por professores. Os nossos professores têm mestrado, doutorado, enfim têm toda formação acadêmica necessária para uma escola de ensino superior, mas a quase a totalidade continua com um pé na escola, seja pública ou privada.
Então, no primeiro semestre de 2022 a turma já vai estar num novo modelo, estagiando em escolas da prefeitura. É um caminho que deve durar quatro anos para instalação final desse programa. Temos buscado parcerias com instituições e empresas para implantar projetos avançados”, revela.
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