NOTÍCIA
Universidade de Coimbra passa por uma miríade de transformações e aperfeiçoamentos nas mais diversas áreas
Publicado em 08/02/2024
Dentro de prédios centenários, em meio a uma série de ritos tradicionais, gestores e professores da Universidade de Coimbra (UC) mantêm um esforço constante de inovação. Sabem que a universidade não pode se acomodar na tradição se quiser manter sua relevância. Mas para uma instituição com 730 anos de história, inovar não se dá apenas no sentido tecnológico, e sim num sentido mais amplo de transformação da sociedade e redução de impacto ambiental.
Reconhecendo as limitações naturais de seu papel social, a universidade dá o exemplo. Para começar, cuida do lado humano. Se uma instituição de ensino superior não tem capacidade de acabar com uma guerra, pode ao menos promover a acolhida e integração de quem está fugindo de conflitos. “A UC tem inscritos atualmente cerca de 70 estudantes com estatuto de ‘estudante em situação de emergência por razões humanitárias’. A maioria destes estudantes são provenientes da Ucrânia, Nigéria e Marrocos”, cita João Nuno Calvão da Silva, vice-reitor para as Relações Externas e Alumni.
Há ainda jovens de outros países, como Irã, Iraque, Síria e Venezuela. Além de dar a vaga com bolsa no ensino superior, a instituição faz uma série de ações para integrar os estudantes, como oferecer cursos intensivos de língua portuguesa, alojamento nas residências universitárias, suporte psicológico e tutoria para apoio acadêmico, que se dá por um programa de voluntariado de que participam estudantes de diversos cursos, “para facilitar a integração e sucesso acadêmico”, explica Silva. O programa recebeu reconhecimento até da ONU. “A Universidade de Coimbra está numa posição excelente para equilibrar as práticas direcionadas e uma internacionalização mais inclusiva, integrando refugiados qualificados e motivados“, diz uma publicação do setor de Impacto Acadêmico da entidade internacional.
O vice-reitor ressalta que o sucesso do programa se deve a um esforço conjunto, não apenas a uma decisão política dos gestores universitários. “O acolhimento e integração desses estudantes na comunidade UC, também na cidade e no país, tem sido possível graças ao envolvimento de um corpo técnico especializado, além de docentes e estudantes que apoiam esses alunos desde o seu primeiro contacto. A Universidade de Coimbra trabalha em cooperação com instituições portuguesas responsáveis pelo acolhimento de refugiados no país”, afirmou à repórter.
Outro eixo que tem merecido especial empenho da instituição é o compromisso com a sustentabilidade ambiental. Pelo quarto ano consecutivo, a UC foi considerada a instituição de ensino superior mais sustentável em Portugal e, no mundo, ficou com a 29ª colocação entre quase 1.600 do ranking Times Higher Education Impact, que hierarquiza as instituições de acordo com o desenvolvimento sustentável.
A medida mais significativa talvez seja a relacionada com a eficiência energética por meio da instalação de painéis fotovoltaicos. A meta é que até o ano que vem a UC seja totalmente autônoma do ponto de vista energético. Isso significa ter uma produção de 16 GW ao ano.
A mudança da matriz energética já vem acontecendo há vários anos e tem sido tratada como prioritária. “O atual reitor, no programa de ação do seu primeiro mandato (2019-2023), assumiu a Agenda 2030 das Nações Unidas como prioridade. Desde então, há o foco no desenvolvimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Importa realçar que a responsabilidade social faz parte da matriz da UC e é assumida há muitas décadas de forma coletiva pela sua comunidade acadêmica. A autonomia energética faz, por isso, parte da estratégia institucional”, afirma Alfredo Dias, vice-reitor para o Património, Edificado e Turismo.
Os investimentos na área são altos. Estão previstas a instalação de duas unidades de produção no solo, em terrenos da universidade, e a expansão da produção de energia por meio de painéis na cobertura de edifícios, obras que no conjunto devem custar cerca de € 1,9 milhão (aproximadamente R$ 10 milhões).
“A instalação de painéis fotovoltaicos ainda tem um custo de investimento inicial alto, mas as novas tecnologias, os avanços dos equipamentos autônomos de produção e inversores – do ponto de vista da eficiência – e as alterações legislativas, nomeadamente das comunidades em rede, fornecem novas ferramentas para tornar as metas da sustentabilidade mais alcançáveis e, dentro das dificuldades, realistas”, diz Dias.
Segundo o vice-reitor, a mudança de matriz energética é o ponto central para redução dos impactos diretos da instituição no meio ambiente. “Além das indispensáveis atividades humanas, como produção de resíduos, som, impacto no solo e vegetação, os edifícios da UC em uso têm um claro impacto ambiental e parte dele – sem analisar a fase de construção – está associada ao consumo energético. Se conseguirmos reduzir o consumo de energia e, além disso, garantir que parte desse consumo seja feita por geração interna de energia renovável, será uma contribuição para a diminuição do impacto ambiental e redução dos custos”, explica o responsável pelo projeto.
Sim, apesar de ser um processo caro inicialmente, a ideia é, no longo prazo, conseguir uma redução de custos fixos da instituição devido à produção local de energia.
Uma instituição sustentável se preocupa ainda em como sua comunidade faz os deslocamentos até seus campi. Para incentivar que o carro seja deixado nas garagens, a UC passou a disponibilizar 20 bicicletas para empréstimo – há lista de espera para mais interessados. Para o próximo ano letivo, a ideia é acrescentar à frota também bicicletas elétricas, para facilitar a vida de quem mora mais longe. Houve ainda uma readequação urbanística na circulação e estacionamento de uma região conhecida como alta universitária, para dar mais espaço aos pedestres.
Nos últimos anos, a UC passa por uma miríade de transformações e aperfeiçoamentos, nas mais diversas áreas, como a criação dos jogos universitários há seis anos e o estreitamento de laços com o Brasil por meio de eventos online. Também se destaca a redação este ano de um código de “ética, conduta e integridade”, documento que reúne princípios e valores que estavam espalhados por documentos de normas e planejamento da instituição. Nesse cenário, é claro, a área de tecnologias não poderia ficar de fora.
No momento, a Universidade de Coimbra trabalha para lançar um novo centro de inovação tecnológica em computação quântica, que pretende servir toda a comunidade acadêmica. O tema não é exatamente uma novidade em Coimbra. A universidade tem linhas de pesquisa na área pelo menos desde 2020 e oferece uma disciplina em computação quântica para alunos de ciências da computação. Agora, contudo, o tema vai ser explorado junto a parceiros de peso: foi firmado um acordo de cooperação entre a UC, a IBM e a Câmara Municipal de Coimbra. “A computação quântica é uma área multidisciplinar que utiliza a mecânica quântica para resolver problemas complexos, mais rapidamente do que em computadores clássicos.
Assim, este projeto tem sido pensado em colaboração com diversas estruturas e entidades dentro e fora da UC, para que a sua criação venha corresponder às necessidades de vários desafios societais, nomeadamente a criação de emprego, a inovação tecnológica ou a transferência de conhecimento para a indústria e sociedade”, informou a UC em nota. Mais uma vez, a instituição reforça seu investimento para promover um ensino que seja inovador, mas também sustentável e socialmente responsável.