NOTÍCIA
Em entrevista exclusiva, Fernanda Celidonio, diretora do MAB, e o professor Marcos Moraes falam sobre como a ligação da FAAP com a arte é benéfica para alunos e ex-alunos
Publicado em 27/03/2023
Um DNA educativo e cultural, é assim que Fernanda Celidonio, diretora administrativa do MAB (Museu de Arte Brasileira), define o vínculo da FAAP com as artes. Como explica Fernanda, a Fundação começou com o conde Armando Álvares Penteado e sua esposa, dona Annie Alwis. Sem herdeiros, o conde estabeleceu no testamento a criação de uma escola de artes e de um museu. Após a sua morte, em janeiro de 1947, Annie deu continuidade aos projetos. A viúva foi responsável por um curso de artes e, anos mais tarde, pelo museu, fundado em 1961, quando recebeu sua primeira exposição.
A reflexão sobre o papel da arte pode nos levar aos mais diversos lugares. Embora não exista uma resposta concreta para quais são os seus impactos em cada indivíduo, a FAAP segue no exercício de estimular a conexão e criar laços entre as pessoas com o meio artístico. “Arte também é educação, é cultura. Você pode aprender com uma obra e não precisa ser apenas um quadro. Fazer arte, tudo o que a gente faz aqui, do curso de artes aos workshops, permite que as pessoas se descubram. São terapias até. Quem começa a mexer com arte se questiona e também ao mundo e à vida. Existem todos os lados, a sensibilidade que a arte traz e, às vezes, a agressividade ou a delicadeza”, defende a diretora do MAB.
Na Fundação, o olhar não se volta apenas para os estudantes, mas abrange a sociedade na totalidade. Para além dos cursos e do MAB, a instituição ainda conta com teatro, workshops e projetos voltados para todas as idades.
Para o coordenador dos cursos de bacharelado e licenciatura em artes visuais da FAAP, Marcos Moraes, a arte cumpre um papel fundamental na instituição – onde atua há 28 anos. “Quando a gente fala de FAAP, as pessoas pensam em arte, e não apenas nos cursos de artes visuais. Também no museu, no teatro, nas exposições e na residência artística.Temos muitas conexões com arte de uma forma geral, é ensino, formação, difusão e produção em todos os sentidos”, salienta. “Existe essa tradição da FAAP relacionada à arte, essa dimensão de renovação e experimentação. Uma espécie de paradoxo falar de tradição e inovação”, reflete. Avaliando os benefícios do vínculo artístico para quem está dentro da IES, o coordenador lista algumas perspectivas.
“A primeira é pensar que, institucionalmente, o curso da FAAP é considerado um dos mais importantes do país. Tem projeção e reconhecimento internacional. A residência da FAAP é uma das primeiras dentro dessa última leva de residências criadas no início do século 20 e que se mantém permanentemente em atuação. O museu, tanto em função da sua coleção como da sua tradição, tem uma visibilidade. O teatro é considerado um dos melhores espaços cênicos da cidade de São Paulo. Para a fundação e para o centro universitário, essa visibilidade é importante, uma marca e um diferencial”, destaca. Marcos lembra que a Fundação também apresenta um bom desempenho nas avaliações do MEC. Os cursos de artes visuais, bacharelado e licenciatura obtiveram nota máxima nas duas últimas avaliações do MEC.
A visibilidade oferecida aos estudantes é um ponto evidenciado pelo educador. Os números de visitantes são expressivos na tradicional exposição Anual de Arte, agora em sua 52ª edição. “É uma exposição de obras dos alunos, que já teve 7, 8 mil visitantes nos primeiros 40 dias em cartaz. Proporciona ao público a oportunidade de entrar em contato com uma produção em seu processo de formação. E oferece ao aluno a possibilidade de ter seu trabalho exposto para um público que atinge entre 8 e 10 mil visitantes em 40, 50 dias de visitação”, enfatiza. A edição de 2023 conta com as produções de 26 estudantes e de cinco artistas já formados pela FAAP.
Além de contemplar os estudantes de graduação e de pós-graduação no Anual de Arte, a FAAP agora conta com o projeto Mezanino aberto, voltado para outros artistas que tenham alguma relação com a Fundação, sejam professores, ex-professores ou ex-alunos. Para a edição 2023 do projeto, que terá início neste mês de março, a escolhida foi a artista plástica e ex-aluna Isis Gasparini, que se formou em 2011 e já participou da Residência Artística FAAP na Cité des Arts, em Paris. O Mezanino aberto iniciou em 2020 e, até o momento, exibiu obras dos artistas Paulo Almeida e Laerte Ramos.
Marcos Moraes acrescenta que durante a vida acadêmica os alunos podem retirar ingressos para assistir a espetáculos e possuem livre acesso às exposições do museu. “E quando surge a oportunidade, eles têm a possibilidade de fazer um estágio ou monitoria”, pontua.
Projetos de residência artística permeiam o setor há mais de cinco décadas. Seguindo a tradição, a FAAP conta com duas iniciativas, uma delas, no Brasil, em São Paulo, e outra na França, em Paris.
Em São Paulo, os selecionados passam um período no edifício Lutetia. Sem a necessidade de um vínculo com a FAAP, os artistas devem residir em outras regiões do país ou mesmo fora dele. Já a residência em Paris é voltada exclusivamente para alunos, ex-alunos e docentes da FAAP. Também coordenador das duas residências, Marcos explica que os artistas selecionados para Paris, ao retornarem após os seis meses de projeto, realizam uma exposição e falam sobre seu processo de trabalho.
O cuidado dado à arte e aos artistas se estende para o lado administrativo do museu. Todas as obras são seguradas e, mais recentemente, os famosos vitrais do MAB receberam um novo seguro para evitar problemas com as obras do metrô. “O seguro contempla outras questões. Além das obras, o metrô continuará passando e sabemos de outros museus que, por estarem próximos aos metrôs, têm um certo tremor”, esclarece Fernanda Celidonio. O painel de vitrais da FAAP foi instalado entre 1959 e 1960 para a inauguração do MAB e reúne obras de 59 renomados artistas brasileiros, entre eles Tomie Ohtake, Lina Bo Bardi e Tarsila do Amaral.
O MAB conta com uma equipe de manutenção e duas conservadoras, que realizam rondas constantes nas reservas técnicas do museu para a avaliação das obras. “Caso [a obra] necessite de uma limpeza ou de uma troca de moldura, elas estão sempre preparadas. Trata-se de uma manutenção preventiva, uma maneira de trabalhar melhor do que a necessidade de restaurar uma já estragada. Depende muito do material que o artista usa, alguns são difíceis de conservar. Com o tempo, mesmo nas melhores condições de armazenamento, sofrem deterioração. Algumas que exigem técnica mais específica são levadas para restauro externo. Mas até hoje trabalhamos com a manutenção preventiva e tem sido funcional”, relata a diretora. Conta que durante as exposições ou dias em que o museu está fechado para o público há uma vistoria geral nas obras e limpeza de vitrine. “As salas têm condições ideais segundo padrões internacionais de controle de umidade e temperatura”, completa.
No projeto educativo e nos workshops é possível observar o interesse das crianças pela arte. “A gente tem uma equipe de educadores que pesquisa temas”, diz. Segundo a diretora, a procura pelo projeto por escolas públicas e privadas é grande. “Os workshops são para pessoas de qualquer idade. Muitos pais vêm trazer os filhos, sentam-se à mesa e acabam ficando. As visitas guiadas com as escolas sempre contam com a presença dos professores. Recebemos muitas crianças do entorno. A visita é feita com a linguagem e com o interesse conforme a idade. Muitas vezes com o próprio tema que estão estudando em classe porque os professores entram em contato e falam ‘olha, eu vou visitar essa exposição e gostaria que dessem ênfase na parte tal’”, destaca.
“Na minha adolescência, quando se falava em museu, todo mundo pensava em algo chato. Havia a expressão ‘aquilo lá é peça de museu’. A ideia que predominava é que os museus eram lugares quietos, chatos e de ‘coisas velhas’. E hoje em dia há tantas exposições com trilha sonora, interatividade e mídia, né?”. Para Fernanda, a mudança se deu por alguns aspectos, incluindo os temas e a disponibilidade de obras internacionais. “Antigamente era muito difícil trazer coisas de fora, o que dificultava a criação de temas diferentes. A gente trabalhava um pouco com as coleções que estavam aqui. Hoje não temos esse problema. Os museus emprestam muito e temos mais oportunidades de ver aqui uma exposição que já esteve na Alemanha ou na China. Essa oferta de projetos incríveis que a gente tem tido também anima”, detalha.