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Edição 277

TI: como a PUC Minas deu a virada

Cursos de graduação EAD em TI foram implantados em 2021 e tiveram, juntos, 800 novos ingressantes em 2023

Publicado em 21/08/2023

por Ensino Superior

TI EAD Para cada projeto, o estudante tem conhecimentos a adquirir, habilidades a desenvolver e atitudes a tomar (Foto: Freepik)

Com Ciência da Computação no portfólio de cursos em meados dos anos 80, e tradição em EAD de reconhecida qualidade, oferecidos desde 1999, a PUC Minas viu no final da década esse tipo de graduação tornar-se deficitária. A virada de chave veio com uma reestruturação no modelo de ensino, em 2021. Deu certo. No primeiro semestre de 2020, os ingressantes na graduação EAD, de todas as áreas, eram 251. Neste ano, no mesmo período, foram 1.632, um aumento de 550%.

Os cursos de graduação EAD em TI – tecnólogos e bacharelado – foram implantados em 2021 e tiveram, juntos, 800 novos ingressantes em 2023. “O interesse cresce”, afirma Marcos Kutova, atual secretário de planejamento e desenvolvimento institucional da universidade, que até dezembro de 2022 foi pró-reitor de educação a distância, coordenou a reestruturação dos cursos, além de ser professor de computação, sua área de formação. Nos cursos de TI presenciais, os números pularam de 605 ingressantes em 2020 para 1.102 em 2023, um aumento de 82%.

“Observamos no momento de constituir os grupos de estudo que vários estudantes pedem para participar junto a outros conhecidos – um amigo do trabalho, pai e filha, casais.” Basicamente, isso significa que o boca a boca está funcionando e o curso é recomendado pelos alunos. Além, claro, do fenômeno da tecnologia de começar a impor algum conhecimento à maioria dos profissionais, de qualquer área do conhecimento ou atuação.

Como secretário de planejamento, Kutova diz que, nos últimos dois anos, vem crescendo o interesse pelos cursos de informática e psicologia, com retração das engenharias. “A primeira interpretação para esse fato: para os estudantes que vão para as exatas, tanto faz engenharia ou computação, mas a computação traz mais possibilidades, é trabalho remoto, mais confortável, com formação mais rápida e salários mais altos.”

 

Bom para quem?

 

A reestruturação no ensino impactou o número de alunos por curso nas graduações. Havia graduação EAD com 500 alunos, hoje as turmas são formadas por no máximo 30. Há conteúdos digitais produzidos pela própria PUC Minas e professor que aprendeu a ocupar papel de referência na vida acadêmica de seus alunos – sem ser necessariamente por meio de longas aulas expositivas.

Kutova detalha a mudança de paradigma. “O modelo tradicional é muito fragmentado em torno das disciplinas. Cada professor cuida da sua disciplina sem fazer interface com as outras. Além disso, a construção do projeto pedagógico tem um olhar para a logística da operação – a disponibilidade horas/professores, uso de espaços como salas de aula ou laboratórios.” Os elementos necessários à aprendizagem não são organizados da maneira mais conveniente ao processo formativo. “Um exemplo com uma pergunta simples: qual é a necessidade de uma disciplina de cálculo no primeiro semestre de um curso de Ciência da Computação? Por que não pode ser no segundo ou terceiro períodos?”

Essa estruturação em que as necessidades da instituição influenciam a sequência de aprendizagem dos alunos é histórica. “Eu estudei assim, meus filhos também”, afirma. A divisão do ensino em disciplinas que não interagem entre si acabam demandando que o próprio aluno faça as conexões.

 

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A alta especialização do professor nem sempre ajuda. “Ele vai se preocupar com coisas que talvez não sejam necessárias para os alunos. Um exemplo é a disciplina de banco de dados, que aparece em todos os cursos de informática. Provavelmente, um professor-doutor nessa área terá preocupações com conteúdo que um recém-graduado não tem urgência em saber. Conectar banco de dados com a disciplina de algoritmos talvez seja mais oportuno.”

Kutova explica que, tanto nos cursos EAD quanto nos presenciais, um trabalho interdisciplinar em todos os semestres amarra as disciplinas ofertadas. “Temos um trabalho integrador que busca o conhecimento das diversas disciplinas e coloca dentro de uma situação prática.” Essa integração se dá por meio de projetos semestrais, “e vamos puxando os conteúdos das disciplinas que o aluno está cursando paralelamente”.

 

O que pede o mercado

 

Nos cursos EAD, diz Kutova, foi dado mais um passo. “Ao invés de fazer um projeto que busca integrar os conteúdos das disciplinas, invertemos a ideia: a formação do aluno é o projeto.” Os temas dos projetos partem da seguinte pergunta: esse aluno será pago para fazer o quê? “O profissional precisa ser capaz de montar aplicativos para celulares, então discutimos as etapas de construção de um app para celular e criamos um projeto que se chama ‘desenvolvimento de aplicações móveis’.”

Videoaulas trazem os microfundamentos, blocos de conteúdos com teoria. “Um curso tecnólogo tem perto de 40 microfundamentos, cada um desses blocos tem equivalência a 20 horas de aprendizagem, entre vídeo, atividades e reflexão.” Todo o acervo de materiais didáticos digitais é disponibilizado ao aluno desde o início do curso. Os conteúdos das videoaulas são cobrados do estudante na medida em que se inserem nas etapas dos projetos. “Com isso, conseguimos foco. A interação do professor com o aluno não é para passar matéria, é para cuidar dele e do trabalho que ele está fazendo.”

A formação prevê a participação em grupos de estudo. Os estudantes escolhem os temas nos quais desejam se aprofundar, a partir dos conteúdos teóricos. Para Kutova, isso incorre em mais personalização. Desafios contemporâneos e competências comportamentais fazem também parte da formação. “Discutimos problemas da sociedade, não necessariamente um tema específico da área: mobilidade social, consumismo, ética no uso da inteligência artificial, diminuição da exclusão digital, uso excessivo das redes sociais, a problemática decorrente da pequena corrupção.” Entre as competências comportamentais estão trabalhar em equipe, pensamento crítico, comunicação interpessoal, liderança. 

 

Avaliação e soft skills

 

Para cada projeto, o estudante tem conhecimentos a adquirir, habilidades a desenvolver e atitudes a tomar. O aluno será avaliado em cada um desses âmbitos.“Aqui,amarramos como que o MEC estabelece como competência para a área. No bacharelado, tem que ser um profissional capaz de inovar na sua área, compreender os desafios atuais da sociedade, pensar como sua área de conhecimento pode contribuir para resolver os desafios da sociedade. Há preocupação com os objetivos do desenvolvimento sustentável. No caso dos tecnólogos a lista é menor”, explica. Dessa amarração surge o Mapa de Competências, que será o histórico escolar do estudante.

Ao invés de receber notas, os estudantes têm, por exemplo, suas habilidades avaliadas, semestralmente, em quatro níveis diferentes. São cerca de 80 habilidades elencadas, relacionadas às etapas dos projetos. “Se espero que os alunos tenham uma boa capacidade de modelagem de banco de dados, no primeiro semestre vou dizer que ele precisa organizar os dados, no terceiro quero que seja mais competente. Vamos voltando a essas habilidades na expectativa de que o aluno esteja se desenvolvendo”, detalha Kutova.

A autoavaliação – “entendendo que uma avaliação só é um processo completo se o aluno participar dela” – e a avaliação dos pares fazem parte do processo.Todo projeto é um trabalho em grupo, por isso é importante que os pares avaliem. “Um colega pode se manifestar sobre o outro, é muito bacana, porque temos de superar o momento em que o aluno quer xingar o colega. Avaliar o colega não é falar mal dele, é ver no que ele conseguiu de fato se desenvolver ou não. Se esse aluno assumir cargos de chefia, é o que esperamos que ele faça em relação aos seus subordinados, que não seja ‘gosto de você, não gosto de você’. Tudo isso entra no escopo das soft skills.”

 

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Ensino Superior


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