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NOTÍCIA
A população idosa com ensino médio completo chega a 5.964.600. Muitos querem ir para a universidade pela primeira vez ou voltar para cursar uma nova graduação
Publicado em 24/04/2025
Desde o último censo demográfico do IBGE, divulgado em 2022, consolidou-se a realidade de que o Brasil está envelhecendo. Pessoas com 60 anos ou mais correspondem a 15,8% da população, algo em torno de 32,1 milhões de pessoas. Em 2010, eram 10,8% da população. Em doze anos, houve um aumento de 56% de pessoas com mais de 60 anos.
De acordo com o Censo da Educação Superior, em 2023 mais de 51 mil idosos estavam matriculados em faculdades, 68% na faixa etária entre 60 e 64 anos e 32% tinham mais de 65 anos. Os milhares ainda parecem poucos, mas de 2012 para 2023 o aumento, expressivo, foi de 82%, sobretudo graças ao EAD.
A 14ª edição do Mapa do Ensino Superior, do Instituto Semesp, apontou que os percentuais de idosos que ingressaram no ensino superior em uma década – de 2012 a 2022 – destoam, por exemplo, daqueles relativos a estudantes até 24 anos. A publicação informa que a rede privada registrou uma queda de 11,1% de matrículas de alunos com até 24 anos nos cursos presenciais. Na mesma modalidade, a única faixa etária que registrou crescimento de matrículas foi a de pessoas com mais de 60 anos – 15,6%. No EAD, houve aumento de matrículas, no mesmo período, em todas as faixas etárias, mas o maior aumento foi de pessoas com mais de 60 anos, 577%.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE do 2° trimestre de 2024 apontam que no Brasil existem 5.964.600 pessoas com 60 anos ou mais com ensino médio completo. E, sim, muitos querem ir para a universidade pela primeira vez ou voltar para cursar uma nova graduação. Destes milhões de idosos ou velhos – a nomenclatura ainda está em discussão e cada um se denomina como quer –, quase 10 mil se inscreveram no Enem, no final do ano passado.
Sônia Pitta, 76 anos, não prestou o Enem, mas o exame da Fuvest, depois de fazer um cursinho preparatório que aplica a engenharia educacional, um método que integra o desenvolvimento intelectual e emocional do estudante. Foi aprovada na primeira lista e cursa história em 2025.
Sônia Pitta, 76 anos, doutora em matemática, com netos e a filha: graduação em história para enriquecer referências (foto: arquivo pessoal)
Ela foi uma das duas meninas da turma do científico, finalizada em 1966, em Americana, cidade do interior paulista. Pensou em cursar filosofia, mas rumou para a matemática, na USP. “Surpreendentemente”, conta, foi a sexta colocada entre os aprovados. Sônia destacou-se na graduação por dominar com maestria a estrutura por trás dos algoritmos: o sistema axiomático dedutivo, inventado pelos gregos.
“Nas provas de cálculo, por exemplo, que era uma das primeiras disciplinas, quando tinha uma questão de demonstração, em que você tinha que demonstrar por meio desse caminho do axiomático dedutivo, eu acertava. Logo fui convidada a fazer iniciação científica.”
Durante a graduação na USP, veio a reforma universitária. “O departamento de matemática precisava de muitos professores por causa das disciplinas de serviço [oferecidas em outros departamentos] e eu fui convidada para dar aulas. Fiz a pós-graduação dando aulas sempre.” O doutorado foi em álgebra. Sônia saiu da USP mais de três décadas depois.
Também foi docente por 16 anos na PUC-SP. Enquanto isso, encarou a graduação em psicologia – para respirar –, realizada em seis anos. Aposentada aos 70 anos, depois de alguns bons anos fora do ambiente universitário, auxiliou o neto a estudar matemática para o vestibular de arquitetura. Ele ingressou na universidade e a avó, ao se aproximar do mundo dos vestibulares, sentiu reavivar em si a “paixão por estudar”.
Certamente, Sônia poderia caminhar em seus estudos como autodidata, “mas nesse meu momento é importante um grau de orientação que seja formatado como um curso. Como autodidata, chegaria à compreensão, mas não ao que eu quero, que é o enriquecimento do meu sistema de referências, como algo permanente, para estar no mundo com esse sistema.” Sônia quer, ainda, aumentar seu repertório para enriquecer as viagens que passou a fazer com mais frequência depois da aposentadoria.
“Do ponto de vista da neurociência educacional e cognitiva, é fundamental se manter sempre em aprendizagem, porque ela é plasticidade”, afirma Adriana Foz, neuropsicóloga, educadora e diretora da NeuroConecte. Ela explica que, com o envelhecimento, a plasticidade natural diminui, daí a necessidade de atividades que estimulem essa capacidade, “absolutamente necessária para nossa condição de vida”.
“Aprendizagem é plasticidade”, afirma a especialista Adriana Fóz (foto: arquivo)
“Pessoas que aprendem uma nova língua, por exemplo, se tiverem o Alzheimer em sua programação genética, podem atrasar seu desenvolvimento. A aprendizagem, então, é realmente preventiva e também promotora, porque quando aprendemos algo novo já estamos criando reservas neuronal e cognitiva.” A reserva neuronal é a bagagem genética, a reserva cognitiva é aquela adquirida ao longo da vida.
Pesquisa publicada recentemente na The Lancet expôs que, no Brasil, o declínio cognitivo, fenômeno integrante da demência, tem mais relação com a falta de acesso ao estudo, do que com a idade avançada. “Por exemplo, doenças neurodegenerativas têm um forte componente genético, mas o nível de escolaridade e a maneira como a pessoa utiliza os recursos cognitivos, ao longo da vida, podem fazer ‘desligar’ o gene do Alzheimer”, explica Adriana.
A tarefa de ler e escrever é fundamental. O cérebro humano tem áreas para processar a fala, a visão, a audição, “mas não temos a área para ler e escrever. Então, o cérebro criou uma rede plástica e por isso falamos que a leitura é o resultado da neuroplasticidade, ela é plasticidade.” Pacientes que treinam mais o cérebro, conta Adriana, são até mais fortes fisicamente.
“Temos estes três pilares para os quais precisamos ficar atentos: saúde emocional, física e espiritual.” Adriana enfatiza que excesso ou falta são prejudiciais. Além do exercício cognitivo, os exercícios físicos são imprescindíveis. “Hoje se sabe que a musculação também auxilia na prevenção do Alzheimer”, exemplifica.
Se o grau de escolaridade interfere na saúde cognitiva, conforme afirmam os especialistas, o Brasil tem muito a fazer para garantir a saúde integral de seus idosos. Entre os brasileiros de 65 anos, de acordo com o IBGE, 18,3% não têm instrução.
Também é nas faixas etárias mais avançadas que diminuem os percentuais de diplomados no ensino superior. Entre pessoas de 55 a 64 anos, são apenas 15,1% de diplomados; entre as pessoas com mais de 65 anos, são 11,1%.
Desde maio de 2024, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei de n° 1519, que propõe alterações no Estatuto da Pessoa Idosa para incentivar o ingresso de pessoas com mais de 60 anos em cursos de graduação. O projeto foi apresentado pela senadora Janaína Farias, do Ceará. No Senado, já passou pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e pela Comissão de Educação e Cultura (CE), que emitiram pareceres favoráveis.
O projeto de lei prevê que as IES deverão criar ações para promover o ingresso dessa população com mais de 60 anos nos cursos de graduação. Entretanto, cada instituição decidirá a maneira de criar e implementar essas ações, e não está prevista a adoção de mecanismos de inclusão, como as cotas. Portanto, “não acarretam concorrência com candidatos de outros perfis etários ou de segmentos beneficiados por ações afirmativas”, conforme declarou Janaína ao Senado Notícias.
A autora detalha que as IES “devem oferecer às pessoas idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades formais e não formais”.