Revista Ensino Superior | IES do Pará buscam espaço na COP30

NOTÍCIA

Edição 293

IES do Pará buscam espaço na COP30

Instituições de pesquisa e ensino paraenses se preparam para a COP30 e buscam obter reconhecimento, apoio e recursos

Publicado em 09/06/2025

por Sandra Seabra Moreira

Estudantes do Cesupa Estudantes do Cesupa se juntam às comunidades das ilhas de Belém no Amazon Hacking (foto: divulgação/Cesupa)

Instituições de pesquisa como o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (Cisam), uma rede de 13 universidades federais da Amazônia com sede na Universidade Federal do Pará (UFPA), ainda não foram oficialmente chamadas a participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30. Tampouco IES privadas, como o Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa).

Localizadas na cidade de Belém, sede do evento e foco da atenção mundial a partir do dia 10 de novembro, até 21, período previsto para o acontecimento da COP30, as instituições se preparam para colaborar, mas, sobretudo, buscam reconhecimento, apoio e recursos para suas atividades.

 

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Nilson Gabas

Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Goeldi, “recompensar quem não desmata” (foto: divulgação/MPEG)

“Tentamos aproximação com o governo do estado, mas não conseguimos reverberar, entrar nessa agenda. Cada instituição está procurando encontrar seu próprio nicho e fazer as interlocuções”, comenta o pesquisador Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Goeldi.

“Apesar dos inúmeros esforços institucionais, ainda não temos acesso garantido à COP30. Já solicitamos o credenciamento junto à ONU e destacamos a importância da presença das universidades amazônicas, dos centros de pesquisa e das comunidades tradicionais em diversas reuniões com o governo federal”, afirma Leandro Juen, professor associado da UFPA e coordenador do Cisam. Ele reitera que “não faz sentido sediar um evento de dimensão global em Belém e deixar de fora justamente os anfitriões”.

 

Financiamento climático

Criado em 1866, em Belém, o Museu Goeldi tem “um toque suíço”. O naturalista Domingos Soares Ferreira Pena, mineiro radicado em Belém, é seu fundador. A ideia do Museu surgiu de uma conversa entre ele e o naturalista suíço Louis Agassiz, que em meio a uma expedição de mais de dois anos, percorrendo o norte da América do Sul, América Central e o sul da América do Norte, acabou passando por Belém. O suiço Emílio Goeldi, que dá nome ao Museu, foi responsável por projetá-lo e o primeiro diretor. 

“Era preciso uma contrapartida ou algo que pudesse ser mantido na região e que se contrapusesse ao movimento dos naturalistas que vinham para a Amazônia, coletavam informações sobre populações indígenas – linguísticas, antropológicas, arqueológicas, sobre flora e fauna –, levavam para a Europa e nós, aqui, continuávamos sem saber o que era a Amazônia”, relata Gabas.

Há vinte anos no Museu Goeldi, o diretor, também linguista, conta que a instituição é mais famosa no exterior, sobretudo “pela capacidade de trazer pesquisadores e mandar pesquisadores daqui para fora”. É conhecido, ainda, por suas coleções científicas. “Após o incêndio que dizimou a maioria das coleções científicas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, passamos a ser o maior museu de história natural do Brasil. Só na coleção de invertebrados, temos mais de dois milhões de espécimes.”

 

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O Museu Goeldi tem três bases físicas: o Parque Zoobotânico, que recebe uma média de 500 mil visitantes por ano; o Campus de Pesquisa com as coleções e a biblioteca, e uma base científica na Floresta Nacional de Caxiuanã, em cujo entorno estão 33 comunidades ribeirinhas.

Com atividades de pesquisa – “são centenas” – de formação e capacitação, inovação e visitação, o Museu passa por altos e baixos em relação à disponibilidade de recursos. “Crescemos desde quando a instituição nasceu, mas obviamente somos poucos para o tamanho da missão.” Ele se refere, por exemplo, a prover conhecimento acerca de uma região em que “de 60% a 65% da flora é desconhecida”. Atualmente, são 160 colaboradores.

Para a COP30, O Museu Goeldi já realizou um primeiro evento técnico-científico para discutir a questão do financiamento climático. “O presidente Lula está preocupado em criar um grande fundo internacional. Não adianta querer falar de preservação, da floresta em pé, sem ter uma compensação para isso. Tem de parar de desmatar, reflorestar, e precisa recompensar quem não desmata. E aqui não estou falando só de comunidades indígenas e tradicionais; há proprietários rurais que podem abrir mão de sua área de floresta. Se eles forem recompensados,  vão preservar. Esse é o grande movimento”, relata Gabas.

Por meio de articulação do próprio Gabas, durante a COP30, um chalé localizado no Parque Zoobotânico vai se transformar em escritório para delegações internacionais.  Na lista dos convidados estão o embaixador da Suíça, Pietro Lazzeri’s, e sua equipe, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfan, e o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera. 

 

Uma rede amazônica

Leandro Juen

Leandro Juen coordena o Cisam, rede de 13 universidade com capilaridade em mais de 75 municípios (foto: divulgação/UFPA)

O Cisam foi criado em 2024, com a missão de abrir caminhos para que a ciência amazônica seja realizada por e para quem vive na Amazônia. Com capilaridade em mais de 75 municípios e mais de 13 mil docentes envolvidos, a rede abrange 840 cursos de graduação e 323 programas de pós-graduação.

A Amazônia, uma das regiões mais biodiversas e culturalmente ricas do planeta, com mais de 7,5 milhões de km², tem enorme relevância mundial. Ainda assim, “enfrenta desafios históricos, como a escassez de investimentos, dificuldades logísticas e desigualdade na distribuição de recursos para pesquisa quando comparada com outras regiões do Brasil”, afirma Juen.

Com a realização da COP30 em Belém, Juen acredita que “nada seria mais necessário e urgente do que apresentar um projeto que seja amplo, inclusivo e que verdadeiramente empodere as instituições amazônicas, garantindo impactos duradouros para a região. O Cisam representa exatamente essa esperança.”

 

Nas ilhas e no centro

O Cesupa iniciou suas atividades há 35 anos. Para o reitor, Sérgio Fiuza, “não faz mais sentido uma educação superior que não gere impacto”. Isso significa ir às empresas, às comunidades tradicionais, ao setor público e ao terceiro setor, assim como abrir portas do Cesupa a esses atores.

Por outro lado, as questões da sociobiodiversidade e da bioeconomia são pautas urgentes. “As pessoas precisam entender que a melhor maneira de combater a devastação é proteger e preservar a floresta e fazer dos insumos da floresta um caminho de geração de riqueza.  Isso é possível com soluções inovadoras, com tecnologia, com um novo olhar sobre as possibilidades, sobre a potência que é a Amazônia.” Para isso, “o mais importante papel das IES é a formação de profissionais com essa mentalidade”.

O Cesupa tem iniciativas voltadas a esse propósito. O Amazon Hacking é um deles. Teve início em 2022 com os cursos de engenharia de computação e de ciência da computação. Na edição 2024, também participaram alunos dos cursos de administração, engenharia de produção e publicidade e propaganda. A edição contou com mentorias e aportes da Accenture, Fundação Certi,  TCS (Tata Consultancy Services) e patrocínio master da Vale.

 

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Sergio Fiuza

Para Sergio Fiuza, do Cesupa, o papel mais importante das IES na crise ambiental é a formação de profissionais com nova mentalidade (foto: divulgação/Cesupa)

As três primeiras edições do Amazon Hacking aconteceram nas Ilhas do Combu, das Onças e em Cotijuba. “Os alunos fazem imersão nas comunidades, convivem lá, ouvem quais são os problemas a serem resolvidos, aprendem com a história local, com o conhecimento tradicional. Voltam para o Cesupa e começam a construir soluções. Ficam indo e vindo por uns quatro meses até chegarem ao produto final.  São as comunidades que elegem os melhores produtos, porque elas também vêm das ilhas ao Cesupa, para participar dos pitchs parciais e finais”, explica Fiuza.

Este ano, sintonizada com a COP30, a quarta edição terá como tema “Cidade, clima e bioeconomia” e acontecerá no Centro Histórico de Belém, próximo ao tradicional mercado Ver-o-Peso, que está bastante conectado à economia das ilhas, da Catedral do Círio de Nazaré, e de atrações turísticas e gastronômicas.

O Amazon Experience, que acontece desde 2020, já reuniu instituições nacionais e internacionais, como a Audencia Business School, da França, e a Laurea University, da Finlândia. O objetivo é pensar negócios sustentáveis a partir da floresta.

Outra iniciativa recente no Cesupa foi a criação da Cipós – Clínica Integrada de Propriedade Intelectual, para articular saberes jurídicos, científicos e tradicionais em favor das comunidades amazônicas. “Discutir propriedade intelectual com território, bioeconomia e sociobiodiversidade significa também falar de repartição de benefícios”, reitera Fiuza. No âmbito da pós-graduação, o mestrado profissional em Inteligência Territorial e Sustentabilidade dá continuidade aos esforços de formar profissionais voltados ao enfrentamento dos desafios socioeconômicos e ambientais da Amazônia.

 

_No Fnesp

“O poder da educação para um planeta vivo” é o tema do 27º Fnesp, o Fórum Nacional de Educação Superior, do Semesp, que acontecerá dias 25 e 26 de setembro, no Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo. Na programação está a apresentação de cases de IES e organizações comprometidas com práticas sustentáveis e de ESG.

Os painéis acontecerão ao longo dos dois dias do evento. Alguns nomes dos painéis do dia 25 já estão confirmados. No Painel 1 – A Educação como aliada do planeta: como as IES podem (e devem) liderar a transformação sustentável, Victoria Galán-Muros, diretora de Pesquisa e Análise da Unesco Iesalc, e Deborah Nusche, da OCDE, já confirmaram presença.

 

Leia: COP30 na agenda das IES

 

Sérgio Fiuza será mediador do Painel 2 – Fnesp alerta: Sustentabilidade como sobrevivência e não como tendência, que já tem a participação confirmada de Paul LeBlanc, presidente da Southern New Hampshire University. Rodolfo De Vincenzi, presidente da Realcup, estará no Painel 3 – Mapa da sustentabilidade nas IES: as instituições estão prontas para um futuro sustentável?, na companhia de Francisco Elíseo Fernandes Sanches, diretor da FHO.

Cesar Callegari, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Ulysses Tavares Teixeira, diretor de avaliação da educação superior do Inep, e mais dois especialistas discutirão sobre a inclusão da sustentabilidade no currículo e

 

Autor

Sandra Seabra Moreira


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