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Opinião

Educação superior pós-pandemia: uma janela para o futuro

A grande maioria das profissões irá sofrer transformações em função da implantação e uso de novas TDICs. Será muito injusto formarmos jovens engenheiros, enfermeiros e advogados que não saibam utilizar softwares de IA e outras ferramentas computacionais emergentes

Publicado em 02/06/2021

por Redação Ensino Superior

educação superior pós-pandemia Foto: Pexels

Por Carlos Longo*: A pandemia promoveu uma revolução na percepção de estudantes e professores quanto às formas de aprendizagem: aulas remotas, disciplinas online, sala de aula invertida, simuladores virtuais, apps e outros gadgets entraram em cena e uma “revolução inovadora” chegou na maioria das instituições de educação superior no Brasil. O ensino híbrido passa de uma tendência para uma realidade consensuada que as IES estão adotando.

Se fizermos uma pequena reflexão sobre as novas tecnologias e as tendências que estamos chamando de “inovações disruptivas” para os próximos anos na educação superior, acredito que precisamos depurar nosso senso crítico e avaliar o que de fato é inovação disruptiva com um critério mais profundo, como foi desenvolvido pelo saudoso professor Clayton Christensen.

Nem tudo é novidade

educação superior
Foto: Pexels

Primeiro, aulas remotas vêm da década de 1950, 60 e 70 do século passado nas grandes universidades americanas e europeias com a Universidade de Chicago e a Open University da Inglaterra. Nos anos 1970 e 80 no Brasil, os telecursos foram uma revolução na educação de jovens e adultos. Na época, ao invés da internet utilizava-se a televisão com seu poder de difusão e universalidade entre os diferentes níveis e classes sociais.

Na década de 1950, nos EUA, os primeiros programas educacionais de televisão foram criados para transmissão na TV aberta. Em 1951, os City Colleges of Chicago foram pioneiros dos primeiros programas de televisão instrucionais em grande escala para crédito acadêmico, organizando uma instituição por meio da qual os alunos poderiam obter um diploma fazendo apenas cursos pela televisão. Após uma aceitação precoce e bastante entusiástica da televisão educacional no início dos anos 1950, nos EUA, mais produtores entraram no campo e usaram uma variedade de métodos para ensinar pela televisão. Como houve mais fracassos do que sucessos, o desencanto se seguiu na década de 1960, quando se tornou evidente que a televisão não poderia resolver todos os problemas da educação.

Leia: Ser relevante é uma questão de sobrevivência para a IES

Estamos falando hoje do meio digital, a internet, que permite muito mais aplicações de tecnologias dinâmicas e interativas que a televisão. Mas na opinião desse autor as tecnologias digitais em voga no momento incluindo inteligência artificial da forma que estão sendo utilizadas permite reduzir custos e promover automação de processos, que são mudanças relevantes, porém não trazem inovação significativa na formação, ensino e aprendizagem que o mercado e a sociedade precisam.

Falta inovação disruptiva de fato

A grande mudança que estamos vivendo é a mudança de comportamento social, onde a comunicação e as relações interpessoais, através de tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), entraram na vida das pessoas de forma relativamente forçada pela pandemia. Porém, não deveriam mais sair do nosso cotidiano, provocando uma revolução no comportamento da sociedade e levando aos agentes sociais (entre esses, prestadores de serviços educacionais) a se reinventarem para suprir um dos pilares do desenvolvimento social que é a formação de jovens e adultos.

Infelizmente corremos alguns riscos na tendência de simplificações da aplicação dessas TDICs: modelos educacionais com adoção de aulas remotas criação de dezenas de apps com gadgets com inteligência artificial (IA), realidade aumentada (RA), entre outros, já estão sendo oferecidos. Esses modelos certamente trazem contribuições educacionais importantes, porém, têm mais de pirotecnia esteticamente atraente para os estudantes no curto prazo, mas nem de longe são inovações disruptivas para educação superior com por exemplo o Uber e Airbnb foram para mobilidade urbana e o mercado de hospedagem, respectivamente.

Leia: Aprendizagem baseada em projetos: o aluno no centro da abordagem

Precisamos construir currículos e reformular diretrizes curriculares nacionais (DCNs) que sejam mais conexos às demandas sociais e de mercado. Redução da carga horária de aula teórica e construção de currículos por competência e aplicações práticas são mandatórios para formação do profissional do século XXI. Pesquisa aplicada e interação entre academia e arranjo produtivo são fundamentais para formação desses profissionais e para o desenvolvimento de inovações e aplicações de tecnologias no mercado de trabalho.

Currículo dos cursos precisa ser adaptado para as mudanças do mundo

Na formação dos estudantes do ensino superior precisamos incluir em todos os currículos noções básicas de programação, aplicação e uso de tecnologias digitais como co-requisito de aprendizagem. A grande maioria das profissões irá sofrer transformações em função da implantação e uso de novas TDICs. Será muito injusto formarmos jovens engenheiros, enfermeiros e advogados que não saibam utilizar softwares de IA e outras ferramentas computacionais emergentes.

Educação superior pós-pandemia
Foto: Pexels

Dessa forma reformular os currículos será o diferencial competitivo. Por exemplo, é fundamental para um estudante da área da saúde desenvolver conhecimento no uso de TDICs e programação. Um estudante de direito construir na sua formação conhecimento de inteligência artificial é tão importante quanto um administrador e ou um estudante de marketing desenvolver competências na LGPD.

Se os gestores e mantenedores das IES ficarem esperando pelos órgãos de regulação, serão engolidos por novas instituições independentes que estão surgindo oferecendo formação livre de regulação e com alto valor agregado para os jovens e adultos que estão ou precisam entrar no mercado de trabalho. Por exemplo, precisamos formar engenheiros em 3 anos com um currículo mais aplicado e criar especializações de curta duração (2 a 6 meses), para capacitar esses engenheiros a se aprimorarem em funções das mudanças tecnológicas existentes no mercado de trabalho. 

Será melhor dar uma disciplina onde o aluno desenvolve conhecimento computacional de uso e aplicação de realidade aumentada e passar pelo menos 15 dias num estágio aplicado numa plataforma de petróleo do que aprender o que é uma plataforma de petróleo numa animação gráfica e se formar engenheiro de energia sem nunca ter tido a experiência de campo.

A educação superior regulada estará sob uma enorme pressão até o final dessa década para provar sua relevância para sociedade e mercado de trabalho. Inovar e ressignificar seu papel na formação de jovens adultos será mais importante que o diploma. Inovar, conectar-se com mercado, pesquisas aplicadas e desenvolvimento de competências serão os fatores críticos de sucesso para IES que quiserem crescer de forma sustentável no pós-pandemia.

Professor P.hD. Carlos Longo é vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)

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