Revista Ensino Superior | Presença da Fapesp em todas as áreas
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NOTÍCIA

Edição 291

Presença da Fapesp em todas as áreas

O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, fala de ciência fundamental e pesquisas de longa duração, de ciência aplicada, em parceria com empresas, e de pesquisas em parceria com o setor público

Publicado em 17/04/2025

por Sandra Seabra Moreira

Marco Antonio Zago Marco Antonio Zago defende que a pós-graduação, no Brasil, precisa de uma revisão (Daniel Antônio/Agência Fapesp)

O poema “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, foi declamado pelo médico hematologista Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp desde 2018, no discurso de posse como reitor da Universidade de São Paulo, em 2014. Versos de Emílio Moura, poeta mineiro, encerraram suas palavras na última participação no Conselho Universitário da USP, no fim de seu mandato. 

Também em 2014, Camões, Adoniran Barbosa e o poeta espanhol Antonio Machado tiveram versos citados por ele na Câmara Municipal de Birigui, cidade onde nasceu há 79 anos, ao receber o Diploma de Honra ao Mérito. 

Em livreto no qual conta sua trajetória e homenageia amigos – entregue a eles em 2022, na cerimônia em que recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – afirma que seu vínculo com o Departamento de Clínica Médica da FMRP  “é umbilical: desde o período de estudante de graduação até um ano antes da aposentadoria”. Lá, finalizou o doutorado aos 28 anos, “hoje em dia, considerada uma idade precoce”, afirma, e aponta para uma importante discussão. Nesta entrevista, ele diz que “esse é um dos problemas graves de toda a pós-graduação no Brasil; a idade média de formação de nossos doutores é de 38 anos. Isto é, para mim, inaceitável”, e defende a simplificação de processos e redução das burocracias.

 

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O hematologista Cássio Bottura foi “um orientador para tudo na vida”, assim como o amigo Hélio Lourenço de Oliveira, outra influência, criador do Departamento de Clínica Médica e, posteriormente, vice-reitor da USP, responsável pela sua primeira reforma. No pós-doutorado na Universidade de Oxford, teve a “sorte”, segundo ele mesmo, de trabalhar com David J. Weatherall, que descobriu o mecanismo molecular básico das talassemias.

Zago cita, ainda, a sorte de ter uma excelente formação de base.  “É uma coisa que talvez seja a mais importante da minha vida: tive oportunidade de ter um ensino básico de elevadíssima qualidade.”

Na FMRP/USP, seus estudos foram pioneiros  em genética de populações e esteve à frente dos projetos Genoma Xylella e Genoma Clínico do Câncer. De 2000 a 2014, coordenou o Centro de Terapia Celular, um dos primeiros Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fapesp. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências – onde ocupou a direção –, da Academia de Ciências do Estado de S. Paulo e da World Academy of Sciences (TWAS). Comendas, homenagens, prêmios são fartos na carreira de quase 50 anos.

 

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Foi em 2007 que migrou para a gestão política, assumindo a presidência do CNPq, em seguida a pró-reitoria de Pesquisa da USP (2010 a 2015) e, de 2014 a 2018, assumiu a reitoria. Nestes quatro anos, duas conquistas: o equilíbrio financeiro da USP e a inclusão social e racial. Relatada com um sorriso de satisfação – “sinto muito orgulho disso” –, o estabelecimento de medidas para a concretização da inclusão social e racial nos cursos de graduação levou à mudança completa do perfil de alunos da USP. A tarefa concluída lhe rendeu o Prêmio Raça Negra, concedido pela Afrobras e a Faculdade Zumbi dos Palmares. Antes de assumir a presidência da Fapesp, foi Secretário de Saúde do estado de São Paulo.

Nesta entrevista, Zago aborda as características de três centros de pesquisa, entre os que hoje são levados adiante pela Fapesp e seus objetivos diversos. E comenta o vaivém de percentuais da receita tributária do estado de São Paulo destinados à Fapesp, no ano passado – houve projeto de lei para reduzir de 1,0% para 0,5% –, que assombrou o mundo acadêmico e cidadãos conscientes da importância da pesquisa para o país. Quase como um bardo a criar um verso, em relação aos recursos atuais da Fapesp, ele afirma: “Está tranquilo”.

 

É possível detalhar como funcionam os CEPIDs e quais pesquisas são desenvolvidas?

Há muitos projetos individuais, são grupos de trabalho que têm seu pesquisador e orientandos – uns 200 destes no estado. E temos os centros de pesquisa, que são estruturas maiores. Na verdade, são três tipos diferentes de centro de pesquisa. Os CEPIDs – Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão – são mais voltados para ciência fundamental, projetos de longa duração, que desenvolvem o fundamento da ciência. São 27 neste momento. Tratam de tudo, das áreas de saúde, meio ambiente, agricultura, física. Tem um, por exemplo, que é um centro de ciência sobre materiais vítreos.

Participei de um dos primeiros CEPIDs, quando foram criados, em 2000. O Centro de Terapia Celular (CTC), sob minha coordenação, foi uma das 12 propostas aprovadas. À época, ninguém falava de célula-tronco e criamos o CTC para estudar como utilizar células para tratar doenças. Deu certo. Resultou que agora todo mundo está usando células para tratar doenças, a car-t-cell para tratar câncer, células imunológicas, e dá muitos bons resultados. Foi lá no nosso laboratório, na Faculdade de Ribeirão Preto, do qual não faço mais parte, mas estavam lá os herdeiros trabalhando e eles fizeram isso dar certo. 

 

Há parcerias com empresas, também?

Sim, elas acontecem em centros com estrutura completamente diferente. São parcerias que a Fapesp faz com grandes empresas – e não é como algumas pessoas pensam, que colocamos dinheiro nas empresas. Por exemplo: Fapesp e Embraer colocam recursos num centro de pesquisa que está no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O objetivo é fazer pesquisa da aviação do futuro – voos autônomos, novos materiais e combustíveis para a aviação que sejam carbono zero. Temos 28 destes centros, chamados Centros de Pesquisa Aplicada (CPAs), com diferentes empresas, como IBM, Shell e, mais recentemente, a Claro. Quando se trata de pesquisa aplicada, um instrumento importante é a cooperação com empresas, que às vezes têm a solução prática para as coisas. A empresa traz a demanda, mas muitas vezes traz a aplicação também. 

 

Como se dão as parcerias com o setor público?

É um terceiro tipo de centro de pesquisa, também muito importante, uma nova concepção que está dando muito certo. Nós consultamos diferentes instâncias governamentais, de secretarias de estado a grandes prefeituras, com secretarias municipais de educação, de saúde, e perguntamos sobre quais pesquisas eles gostariam que houvesse para resolver determinados problemas práticos. São políticas públicas dos mais variados tipos. Por exemplo, conversamos com o pessoal da Defesa Civil, que está fazendo uma rede de radares para detecção precoce de desastres. No que gostariam de ter pesquisadores trabalhando para tentar resolver problemas tecnológicos? E aí eles têm uma lista de temas. Então, publicamos um edital convidando os acadêmicos, as empresas, quem quiser apresentar projetos para resolver esses problemas no estado de São Paulo.

Essa linha chama-se Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs), temos trinta e poucos já estabelecidos e funcionando. Por exemplo, temos um centro para melhorar a qualidade do pescado no estado de São Paulo. Outro para fazer xenotransplantes, isto é, usar órgãos de animais para fazer transplante humano. E assim por diante. Essas são nossas linhas principais de centros, separadas do financiamento de bolsas.

 

No ano passado, houve a tentativa de diminuir os recursos da Fapesp, de 1,0% para 0,5% da receita tributária do estado. Ainda há esse risco?

Está tudo tranquilo. A Fapesp fará 63 anos e foi criada com base num artigo da primeira Constituição Paulista, de 1949, que dizia que o estado deveria constituir uma fundação para tratar da pesquisa e que deveria receber 0,5% da arrecadação tributária do estado. Do momento em que a lei foi aprovada na Assembleia Legislativa até o decreto de implantação, passou-se um ano e meio. Carvalho Pinto, o governador à época, fez o cálculo considerando que o governo estadual já estava devendo para a Fapesp e depositou todo o dinheiro de uma vez só, como o primeiro fundo da Fapesp, para começar a funcionar. E ela começou a funcionar nesta base – recebe recursos do estado, gasta o que precisa e o que não precisa pode guardar, aplicar, para futuramente trabalhar.

Na Constituinte de 89, a nova Constituição Paulista, o 0,5% foi elevado para 1% e a responsabilidade da Fapesp foi aumentada, isto é, passou a vincular-se ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação.

Voltando ao fundo, dependendo de como estão as finanças no momento ou a economia, esse fundo aumenta ou reduz, serve como um tampão. Ele é muito importante porque permite que façamos um planejamento a longo prazo. A Fapesp é uma das poucas agências no Brasil que aprovam projetos de cinco, dez anos, porque sabemos que teremos dinheiro para isso.

E a pesquisa precisa de tempo.  Por exemplo, falei desse centro de Ribeirão Preto voltado para aplicações das células para tratamento. Quando começamos isso era uma ideia. Precisou muita ciência e desenvolvimento; hoje é algo prático, está sendo feito, mas demorou cerca de 25 anos.

 

A questão orçamentária fica resolvida, então?

A consequência de ter esses recursos é que os diferentes governos do estado, de todos os partidos, quando passam pelo governo, veem quanto dinheiro tem aqui e ficam incomodados. Mas nunca aconteceu de tirarem efetivamente os recursos da Fapesp. Estou aqui há muitos anos, já enfrentei muito dessas conversas e aprendi o seguinte: a melhor maneira de enfrentar a situação é conversar, negociar, explicar para o governador. E nunca tiraram.  Neste ano a Fapesp vai contar com R$ 2 bilhões e um pouco mais, que correspondem a 1% da arrecadação dos tributos.

A Fapesp vai bem, muito bem, tem recursos no momento. O que houve foi que, durante o período da pandemia, algo que afetou muito toda a sociedade, a universidade, também afetou a produção de ciência. Tivemos uma queda da demanda. As pessoas não vinham aqui pedir projetos, o número de bolsistas caiu, mas isso já está recuperado. Perdemos clientela, mas recuperamos. 

 

Nesses momentos, é preciso evidenciar a importância da pesquisa científica e tecnológica?

O governo quer explicações – o que estão fazendo com o dinheiro? Não é óbvio. Imagina o governador que tem de tratar de casa popular, metrô. Ele quer saber o que está sendo feito. Com todos os governadores sempre tivemos a oportunidade de explicar. Foi assim com Alckmin, com Márcio França e com Dória. Eu não conheci governador de São Paulo mal- intencionado. Há variados matizes políticos e ideológicos, mas todos querem fazer o melhor possível, até para benefício político próprio.

É preciso que eles entendam o benefício que isso traz para o estado de São Paulo. É preciso mostrar as vantagens. Por exemplo, depois de toda essa conversa que houve de tirar recursos, estivemos no Palácio, junto com o governador, lançando um programa em que a Fapesp está alocando recursos junto com a Fundecitrus, uma fundação dos plantadores de laranja, tangerina, frutas cítricas.

São Paulo é o maior produtor de frutas do Brasil e um dos maiores produtores de suco de laranja do mundo. Os nossos laranjais estão sendo atacados por uma praga perigosíssima que destruiu todos os laranjais da Flórida. A doença é denominada greening. Esse pessoal está inteiramente interessado em resolver o problema, e sabem que a ciência é que tem de resolver. Em 2000, houve e Xylella que atacou os laranjais e junto com a Fundecitrus fizemos um consórcio e acabou resolvendo, não tem mais Xylella no Brasil. 

Fomos, então, recentemente, lançar o projeto no Palácio. Nesse momento,  junto a produtores de laranja, com a presença de 120 prefeitos, o governador entende nosso papel. É isso que temos de fazer, não adianta brigar. Alguns setores até têm de fazer isso, pressão contra pressão, mas nossa finalidade é essa: explicar, explicar, explicar. 

 

Em novembro passado, a Fapesp assinou protocolo de intenções junto à Capes e instituições de ensino superior que objetiva o estímulo à formação de doutores. Naquela oportunidade, o senhor defendeu a necessidade de simplificar processos na pós. Qual sua visão sobre esse assunto?

A idade média de formação de nossos doutores é de 38 anos. Isto é, para mim, inaceitável. Os cursos se complicaram muito, começaram a inventar disciplinas, pré-requisitos e esqueceram que a essência da formação da pós-graduação é uma relação com um pesquisador experiente, você aprende dele, por isso ele é seu orientador. No meu caso, era um orientador para tudo na vida. O vínculo pessoal se enfraqueceu muito, pois o processo ficou difuso.  A missão é aprender a fazer pesquisa, é para isso que existe pós-graduação.

 

O que contribuiu para esse processo ficar tão burocratizado?

Fiz parte da primeira turma de estudantes de pós-graduação da FMRP. Quando a pós-graduação foi criada tinha claramente a missão de formar pessoas para fazer pesquisa e o processo formativo era muito simplificado. Quando se transforma num programa nacional vem a Capes. A missão da Capes, estatutária, é fomentar a pós, oferecer bolsas. Para fazer isso ela começa um processo de avaliação. Eu estava lá, fiz parte dos primeiros grupos de avaliadores da Capes. Com o passar do tempo esse processo de avaliação se complicou enormemente. 

 

Por excesso de burocracia?

Essa é uma opinião particular, não a do presidente da Fapesp: o processo burocrático envolvido em toda a avaliação cresceu mais do que a importância do programa, tornou-se o objeto principal. As pessoas querem participar dos comitês e serem avaliadores e passaram a fazer algo que não era parte da missão original, que é regular a pós-graduação. De tal maneira que temos uma agência que planeja, regula e avalia. A meu ver, novamente é uma opinião pessoal, isso desrespeita a autonomia da universidade, porque quem tem de planejar e executar a pós-graduação é a universidade. 

Na prática, eles tendem a homogeneizar, a obrigar todos a seguir o mesmo caminho, que ficou cada vez mais complicado, e acabamos nessa situação. E esse é o exemplo mais claro que tenho do insucesso, o tamanho que ficou. A idade de 38 anos é a média, tem gente fazendo doutorado com 40 e poucos anos. Nas humanidades, a idade média é 42 anos. Isso não atende aos interesses do país. Temos uma situação em que a pós-graduação precisa de uma revisão, isso que estamos tentando fazer. Voltar às suas origens, simplificar os processos. 

 

Para que a formação se dê mais cedo?

Sim. Tenho um argumento que eles nunca respondem. Fui à lista de ganhadores do Prêmio Nobel. Na área de Ciências, 28 ganhadores receberam o prêmio com menos de 38 anos, entre eles, Guilherme Marconi, que descobriu o rádio; Watson, da dupla Watson e Crick, que descobriu a estrutura do DNA. O mais jovem ganhador tinha 25 anos de idade, William Lawrence Bragg, físico que descobriu um sistema sofisticado para analisar a estrutura de proteína, chamada cristalografia. 

A medalha Fields, vista como Prêmio Nobel da matemática, é concedida a cada dois anos a um pesquisador da matemática que tenha menos de 40 anos, mas que já tenha feito algo surpreendente.  Nós estamos perdendo tempo com as pessoas em sala de aula. O mestrado acabou virando uma etapa do doutorado. Isso está errado; nunca houve essa concepção. Eventualmente, um ou outro pode fazer mestrado e querer seguir para o doutorado, mas a maioria tem de ir para o doutorado direto.

 

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Autor

Sandra Seabra Moreira


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